Capitulo 92
O tempo e o Jardim
Dizem que o tempo é o encarregado de fechar e curar todas as feridas; colocar todas as coisas em seus devidos lugares.
Esperava-se que a libertação dos escravos, viesse resolver todos os empasses que a escravidão veio causar. Trezentos anos de segregação, exclusão e humilhação. O tempo tem passado lentamente e essa lentidão não tem colaborado com a inclusão dos negros libertos na sociedade ariana e aristocrata.
A separação congênita implantada nos corações daqueles que nasceram livres e não sentiram em sua carne os espinhos, os grilhões e nem tão pouco as garras afiadas da discriminação; faz com que, a exclusão não abra seus braços para sua inimiga inclusão.
Desta forma, homens, mulheres, velhos e meninos continuam carregando em si os espinhos da escravidão, espinhos esses, que se tornaram extremamente afiados com a chegada da liberdade. Em meio a multidão que passa desatenta pelas ruas que se tornaram as senzalas das fazendas, não há quem estenda suas mãos enluvadas para àqueles que são; porem, não estão seres humanos.
Em um jardim sem flores, que há somente espinhos, os filhos da mãe liberdade vagam buscando o que lhes foi usurpado, filhos não quistos, não amados...
O tempo passa lentamente e, continuam procurando sem jamais encontrar.
Delegacia
O delegado Romeu de Azevedo, insiste em perguntar sobre o ocorrido para Serafim, que se recusa veementemente e dar qualquer resposta.
- Já que não tens nada a dizer ou a declarar, o manterei no cárcere até que arrumes um advogado para te representar ou pagar sua fiança.
Leve-o soldado!
- Sim senhor, delegado.
- Senhor delegado, Romeu de Azevedo. Antes que o preso vá para a cela, quero dizer lhe que serei o advogado de acusação, e que não costumo perder minhas causas, de maneira nenhuma! Se não tiver alguém muito competente que o livre antes do julgamento; Por Deus! Certamente conseguirei que ele vá para à forca.
Eu fui quem salvou a vitima da morte certa, lá no vilarejo... agora o salvei outra vez.
Eu e minha firma de advogados nos empenharemos ao máximo, ao máximo! Pela condenação deste assassino.
- Veja ai, senhor Serafim! O doutor está mesmo furioso com você, mulato.
Com toda certeza você irá conhecer o diabo bem mais cedo do que você imagina, pois o doutor José Jeronimo é conhecido aqui na capital como o advogado negro do diabo!
Não perde causa alguma. E você meu amigo, está em maus lençóis!
Pela primeira vez, Serafim sente uma ponta de medo. Ele pondera em seu intimo se o senhor Samuel irá defende-lo de alguma forma, como sabe que certamente será deixado à própria sorte pelo seu contratante, resolve abrir sua boca.
Antes de deixar a sala e ser encaminhado para o cárcere ele diz:
- Esperem! O que ganharei se disser o nome do meu contratante?
- Seu pescoço ficara por mais tempo grudado em sua cabeça, isso já é um excelente motivo para que abra sua boca.
Diz o delegado chacoteirando.
- Esta bem. Aqui na capital não conheço ninguém e também não tenho nada à perder.
O nome do fazendeiro que me contratou é Samuel de Albuquerque. Um ex senhor de escravos dono de uma grande fazenda em uma cidadezinha ao sul da Capital.
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Espinhos da Liberdade
Historical FictionApós a abolição da escravidão, muitos escravos libertos se viram sem rumo, sem perspectiva. Saíram sem nada, a não ser, suas vidas errantes pelos caminhos desconhecidos do destino. A liberdade tão sonhada, transformou-se em espinhos. Uma nova, velha...