Apesar dos pesares, estou aqui.

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Capitulo 84

Apesar dos pesares, estou aqui.

Como fugir de mais de trezentos anos de condenação?

Como viver a tão sonhada liberdade se trago comigo, embrenhada em minha pele

A cor negra do meu crime, crime que nunca cometi, todavia paguei e pago por ele.

Ó liberdade! Escrevestes minha história em seu quadro negro; com carvão.

Usastes tinta transparente para que minha existência fosse ocultada das recordações.

Teu giz negro de carvão ocultou e apagou da história, meu sofrimento, minha memória...

Porém, estou aqui, ainda estou aqui!

Sobrevivi para gritar: Eis-me aqui, ainda estou aqui!

Ó liberdade!

Arranquei minhas unhas, e em carne viva sagrou minhas mãos, tentando em suas linhas me encontrar.

Rasguei minha pele, tentando do meu crime me esconder.

Minhas lagrimas salgadas não conseguiram desbotar minha cor, nem tão pouco arrebentar os meus grilhões e, sobrevivi... estou aqui, ainda estou aqui!

Sobrevivi, sobrevivi.

Arranquei seus espinhos e sobrevivi...

Centro da Capital

O coração de Ayana bate acelerado e sobe-lhe até a garganta.

O desespero toma conta de sua alma, e grita desconsoladamente por seu filho:

-Gabrielzinho, Gabrielzinho!

Não há nenhuma resposta. Seus pés trêmulos se detém meio à multidão imensa que retém suas atenções aos palhaços e mambembes, afinal, o que importa os gritos de desespero de uma pobre negra?

Ela olha novamente por todos os lados, não encontrando o rosto de seu filho em nenhum lugar, cai ao chão com suas mãos sobre o rosto chorando e indagando:

- Deus! Por que, por quê?! Meu marido e agora meu menino, não vou suportar, juro que não vou. Por que meu Deus, por quê?

Catarina percorre os arredores de onde estava e não encontra o menino, volta para à praça e encontra sua amiga de joelhos e aos prantos meio à multidão.

- Ayana, não o encontrei. O que foi que fiz? Como pude desgrudar das mãozinhas dele?

Ajoelha-se e abraça a amiga também em lagrimas, se levantam e se assentam na calçada de uma barbearia.

- O que faremos, Ayana? Espere, Já sei! Vamos dar parte à guarda.

- Crês que poderão nos ajudar?

- Sim, sim! É o que nos resta a fazer, vamos.

Catarina sai às pressas puxando Ayana pela mão para que não se percam uma da outra.

Avistam um soldado e se achegam frente a ele ofegantes.

- Seu guarda, por favor, nos ajude.

Diz Ayana.

O soldado olha com olhar sisudo para a negra e Catarina; com voz arrogante diz:

- O que queres tu, negra?

- Pelo amor de Deus, me ajude!

- Vou repetir a pergunta por apenas mais uma vez, o que queres?

- Meu filho desapareceu no meio da multidão, já procuramos por toda a parte e não o encontramos...

Espinhos da LiberdadeHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin