A fuga

50 7 59
                                    

Capitulo 26

Liberdade "Poder que tem o cidadão de exercer a sua vontade dentro dos limites que lhe faculta a lei"

Dez dias de festas; um brinde à vitória de anos a fio de uma luta desleal e acirrada. Os negros libertos e todos aqueles que lutaram contra séculos de segregação racial, imposta no Brasil Pelos portugueses ao implantar o sistema de mão de obra escrava; chega ao fim!

O fim, torna-se em começo... pois, não foi instaurada uma lei que proteja os novos cidadãos, que tem a liberdade garantida por lei, mas a escravidão continua sendo-lhes imposta pela cor de sua pele. Sem direito a cultura, sem direito a casa ou até mesmo ao alimento para seus filhos; eles saem...

Saem pelas estradas da nova vida, andam perambulantes, procurando um lugar para encostar suas cabeças libertas; seu destino, ainda incerto, diz que são escravos do presente e provavelmente, do futuro.

Fazenda Esmeralda

Passam-se três dias...

Leôncio reage bem.

Sua força de vontade, seu desejo de vingar-se e a ajuda de seus irmãos, faz com que ele se alimente e se prepare para a fuga que está marcada para o dia seguinte.

Os escravos irão, todos de uma só vez, subjugar os capangas e tomar à fazenda.

Prender as mulheres brancas... senhor Samuel será uma presa para o leão Leôncio...

Todas as guerras e batalhas exigem de seus participantes; estratégia, organização e o principal; segredo absoluto para que o inimigo não saiba de seus planos.

Na hora do almoço, no dia anterior a fuga, Juvenal "o doidinho" se aproxima da casa grande, ele é tolerado por todos, além de prestar pequenos serviços, ainda serve de diversão. Ele é zombado e ri de si próprio, às vezes, serve de leva e trás de conversas que deveriam ser segredos extremamente secretos.

- Doidinho, venha cá!

- Sim, nhônho.

- Me diga, é você quem está roubando leite das

vacas?

Diz senhor Samuel, tentando deixar o negrinho com medo.

- Eu não, não ia roubar o leitinho dos bezerros, não foi eu, não!

Eu vi o Antenor puxando as tetas das vacas, foi ele! Eu sei! Foi mesmo.

- Se souber que foi você, mando cortar suas bolas.

- Não, não! não fui eu, minhas bolas, não! Não, não fui eu!

Samuel sorri, ele gosta de perturbar o negrinho.

- Nhônho, o nhônho pode me dar aquele galo branco que canta de madrugadinha?

- Galo branco, por que você quer o galo?

Quer come-lo?

Não vá dizer que ele está te importunando?

- Não, eu gosto dele, ele me faz rir quando canta de madrugada: socoroooooooooooo! Socoroooooooooooo!

Eu rio dele...

- Se ele canta para você toda noite, o porque quer ele?

- Ele é meu amigo, não posso deixá-lo para trás.

Senhor Samuel fica pensativo por alguns instantes...

- Deixa-lo? Estais indo para algum lugar que eu não saiba?

- Não conta pra ninguém, é segredo.

- Jamais contaria, que segredo é esse?

- Vamos todos embora amanhã.

Espinhos da LiberdadeWhere stories live. Discover now