Vida inocente
Capitulo 48
Na mata...
A noite chuvosa deixa os dois amigos tremendo de frio. O silêncio é quebrado por enormes trovões e a claridade causada pelos grandes raios, faz com que, os amigos se encolham em um canto da caverna.
- O frio está fazendo minha perna doer mais que de costume.
- Meu amigo, penso que já ficamos tempo demais por aqui! O frio do inverno está cada dia mais visível, não conseguiremos sobreviver sem fogo e sem agasalhos, melhor começarmos a caminhada para a civilização.
- Será que não estão nos procurando?
- Não creio. Já estamos no mesmo lugar faz muito tempo, ninguém apareceu por aqui, nem por perto...
Amanhã vamos caminhar seguindo o rio, bem devagar, sua perna não está totalmente recuperada.
- Se você acha que vamos conseguir, eu topo!
- Não acho, tenho certeza! Nós vamos sair daqui e vamos chegar até à capital.
Precisamos, e vamos.
- Concordo, não aguento mais comer peixe cru e frutas! Se outra vez na vida ver uma larva de palmeira; mato alguém!
- Eu não quero também! Sei que nos ajudaram, mas o gosto e o movimento que elas fazem, são nojentos.
- A grande ideia de come-las ainda vivas, foi sua!
- Quando eu era menino, um negro velho dizia ter vivido dois anos foragido em uma mata.
O que o manteve vivo, foram palmito e as larvas do palmito, gongolos de pau podre, ainda vivos, e peixe cru! isso me serviu de aprendizado, tudo é aprendizado...
Não vamos mais trabalhar em fazendas que nos ofereçam o dobro do preço.
A escravidão acabou. Não volto mais para ela!
- Vamos aprender com os erros, nada de seguirmos branquelos com cara de honestos!
- Esses são os piores.
O que precisamos, é sobrevivermos. Recuso-me a morrer sem vem aquele maldito do senhor Samuel pendurado em uma forca.
Aquele demônio vai me pagar pela vida dos meus filhos, vai pagar por ter me tirado a mulher da minha vida e por ter vendido minha Ayana com meu filho no ventre.
- Seria melhor você matar ele e fugir! Essa tal de lei dos brancos, não sei não...
Branco enforcando branco, isso é impossível!
Mais fácil você ser enforcado por ter deixado o filho dele morrer afogado...
- Não deixei o menino morrer, peguei meu filho no fundo da lagoa; se tivesse pegado o filho dele; teria trago o garoto para o barranco, vivo. Não fiz uma escolha, o destino foi quem escolheu.
- Eu sei, meu amigo. O ruim disso, é que a lei branca é cega!
- Ei de encontrar alguém que coloque olhos nessa lei!
- Tomara, tomara!
A conversa se fez boa, pois aqueceu seus corações, o desejo de partir e de se vingar serviu para esquentar os ânimos e a pele dos amigos...
Fazenda Esmeralda...
Serafim vem montado em seu cavalo trotador...
A cara sisuda e a postura imponente, demonstram para quem o vê, a maldade que há naquele coração.
Ele não teme os ricos e não tem misericórdia dos negros, mesmo sabendo que em suas veias corre o sangue genuinamente africano, o que lhe interessa é o quanto lhe é pago para capturar, subjugar e trazer sua presa para o seu dono.
- Até que enfim você chegou! Espero que tenhas noticias boas para me dar.
Achou o negro assassino de criança?
- Boas noites, senhor Samuel! Não lhe trago boas notícias, o negro desapareceu do mapa...
Encontrei mais dois Leôncios pelos caminhos da capital, porém, um mais velho e outro bem mais jovem.
Ele não apareceu por nenhuma estalagem nas estradas, não trabalhou em nenhuma fazenda, daquela que visitei.
- Você voltou sem nenhuma novidade?
- Infelizmente, sim!
- Dê que me adiantou pagar você por esse tempo todo?! Não me valeu de nada.
- Foi tudo que pude fazer.
- Tudo?! Nada.
- Voltei para lhe perguntar se vamos prosseguir até à capital, ou deixaremos para lá
essa caçada?- Fique até amanhã, durma com os rapazes lá no barracão e amanhã verei o que irei fazer.
- Está bem, amanhã nos veremos.
Serafim segue um dos capangas até o barracão e pernoita.
Samuel fica decepcionado com a noticia e entra para a sala, pega o cachimbo e volta para o alpendre, senta-se na velha cadeira de balaço de seu pai e fica pensativo por um longo tempo.
A cada baforada que dá, seu ódio é alimentado e cresce...
Sitio...
O menino está aquecido pelo corpo quente de Ayana...
- Mas como? Eu o deixei no meio do rio...
Disse Catarina, desviando o olhar da criança.
- Ele está vivo, Bidú o encontrou e o trouxe para mim.
- É um milagre! Como ele não se afogou?
Disse o senhor Damião.
Dona Alma pega um cobertor e enrola o bebezinho, ele está adormecido com um ar angelical.
Catarina levanta-se e abraça Ayana soluçando em desespero.
- Eu não o quero, por favor, não me obrigue a ficar com ele, por favor, não!
- Tudo bem, você não precisa ficar com ele, apenas deixe que ele viva...
Dona alma sai com o bebe para a cozinha, senhor Damião e Selma a seguem.
Catarina fica chorando por alguns instantes, logo após, senta-se sobre a cama.
Sua amiga olha para ela com um olhar compassivo e dize-lhe.
- Deite-se na cama, vou ver se está tudo bem com você.
- Estou bem, não precisa.
- Preciso ver se seu útero está limpo, se você vai ficar bem.
- Tá bom. Não me queira mal, eu não posso ficar com ele, é a cópia daquele mostro!
Não posso, não posso!- Não estou magoada, sei pelo que você passou. Você irá esquecer, no futuro.
Agora, deitar-se.
Vou examinar seu útero, vamos ver se você está bem.A jovem dita-se sobre o lençol que está sujo de sangue, a mulata levanta seu vestido e aperta sua barriga, Catarina geme...
Depois de examinar a menina, vai até a cozinha e busca água quente para que ela se banhe e vista roupas quentes, troca os lençóis da cama e cobre Catarina.
Dona Alma faz um chá de canela e da para Catarina, ela adormece... já se faz madrugada...
- Ela está bem, seu útero está limpo.
Amanhã tudo se ajeita.
- E o moleque?
- Deixa que eu o amamento, tenho muito leite e o Gabriel já come de tudo, o leite não fara falta.
- Amanhã resolveremos isso.
Agradeço Ayana, por ser tão boa para com Catarina, penso que sem você aqui, ela teria se atirado no rio, tirado a própria vida.
- Agradeça o menino Bidú, ele quem é o herói.
Maria Boaventura.
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Espinhos da Liberdade
Historical FictionApós a abolição da escravidão, muitos escravos libertos se viram sem rumo, sem perspectiva. Saíram sem nada, a não ser, suas vidas errantes pelos caminhos desconhecidos do destino. A liberdade tão sonhada, transformou-se em espinhos. Uma nova, velha...