Nasci mulher, e negra

46 6 17
                                    


Nasci mulher, e negra.

Capítulo 8

Na Capital do império...

Grupos de abolicionistas e simpatizantes, reunem-se em um prédio alugado.
Procuram se ordenar para promoverem um grande protesto contra a escravidão.

Regente pela terceira vez, princesa Isabel é uma das mais  ilustres colaboradoras, muitas vezes, tira dinheiro de seu próprio bolso para comprar negros escravizados, alforriando-lhes logo em seguida.
Na cúpula de seu ministério há membros do alto escalão que se manifestam veementemente contra a ideia de abolição; dizendo eles, que será o fim do império.
Porém, a evolução da humanidade exige que pessoas não sejam escravizadas por  outras pessoas, por sua cor de pele ou inferioridade de conhecimento.

- Precisamos de mais cartazes e de organizarmos um grito de guerra que possa tocar bem fundo o coração da população!
Disse Rodolfo de Alencar, filho de um dono de fábrica de tecidos.
Seu pai um abolicionista, não usa mão de obra escrava, todos os seus trabalhadores são negros alforriados e recebem um digno salário.

- Que tal você acha esse?
Acabem com a dor, libertem nossa cor!
Ou, O povo unido, jamais será vencido!
Ainda tem mais,
Chega de escravidão, liberdade para a nação!

-  Damasceno meu amigo, você não nega a veia poética!
Até mesmo em um grito de guerra você poetiza.

- Que posso fazer?!
A poesia é meu respirar, meu andar, sem ela não vivo.
Definharei até à morte...

E assim, Rodolfo de Alencar e seu amigo Damasceno Silveira se encumbem de organizarem mais um protesto, e os quais em sua grande maioria, enchem as ruas da corte, mostrando que já é hora da liberdade reinar, nesse império chamado Brasil.

O dia ainda está turvo e Ayana se levanta para seu primeiro dia de lida na cozinha de dona Alma.
A noite que se passou foi mais uma estaca fincada em seu coração, já não bastasse todo o sofrimento causado por seu antigo senhor, agora é violentada por um irmão de cor.
O negro deitado em seu canto quando a vê passar estica a perna e toca os pés da negra a  desequilibrando, ela se recompõe e olha para as feições do negro com olhar de nojo.
Ele lhe devolve o olhar com um sorriso pecaminoso, coloca a mão em seu escroto e o aperta fazendo movimentos obscenos.
Zombando da fragilidade e do estado vuneravel da nova escrava da casa.

Ayana percebe naquela hora que sua vida naquele lugar será continuamente infernal.

Ela entra na cozinha, um lugar parcialmente aberto que tem um grande fogão à lenha, umas prateleiras com as vasilhas e alguns sacos de mantimentos.
Ela ascendente o fogão e coloca a água para o café, faz uma polenta com ovos, foi o que ela encontrou à mão, naquela cozinha totalmente desconhecida.

Todos da casa se levantam felizes por o café estar preparado sobre à mesa.
Catarina observa a dor e o horror nos olhos da escrava e pergunta:
- Estais bem, Ayana?
- Sim sinhazinha, não se preocupe , estou como deve estar uma negra escrava.
- Dormiste bem no colchão de palhas?
- Não dormi, mas não foi culpa do colchão, a culpa foi toda minha, nasci mulher e negra!
- Não se apoquente, nós somos pessoas pacatas, não é mamãe?
- Deveras, é só cumprir com as obrigações que tudo ficará bem.
Não temos o costume de castigar nossos escravos, muito menos uma escrava grávida.
Não se apoquente!

O coração da escrava fica mais aliviado pela recepção da família, principalmente da jovem Catarina.
Após o café da manhã, senhor Damião diz para os escravos tirarem lascas para construir o puxadinho para a negra, e assim mais um dia de  trabalho começa para todos no sítio.

Maria Boaventura

6/10/21

Espinhos da LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora