Lei do retorno

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Lei do retorno

Capítulo 61

Dizem que tudo o que se faz, volta para quem o fez; a lei do retorno.
Pode-se deduzir, que a tal lei tem olhos e ouvidos...
Exercendo uma força sobre a volta que o mundo dá. tornando-se lenta para toda a raça negra, que passou trezentos anos aguardando a lei retornar e cobrar todas às agruras sofridas...

Como não existe nada encoberto
Que não seja descoberto, a lei do retorno, retornou rapidamente para os negros do quilombo.

A guarda imperial está em alerta acampada pelas redondezas... muitas fazendas estão sendo invadidas e saqueadas por negros. Os roubos se limitavam ao gado, porcos e galinhas... Cereais e até mesmo alguns utensílios domésticos. Todavia, nos últimos dias duas fazendas tiveram suas casas invadidas e família e capangas, foram dizimados pelos salteadores.
Isso fez com que os fazendeiros e seus capangas ajuntassem forças com a guarda imperial e também os soldados que cuidam da guarda da vila próxima.
Todos unidos para sanar o problema.
Como os negros roubaram muitas armas de fogo, o confronto armado tornou-se inevitável.

A duas noites atrás a fazenda Santa Efigênia foi saqueada e muitos homens homens perderam suas vidas.

Por esse motivo a guarda e fazendeiros estão aguardando que o dia amanheça para invadirem o quilombo e prenderem os responsáveis.

O dia está quase amanhecendo e Leôncio e Miro já caminharam um considerável trecho.
- Fizemos bem em termos saído tão cedo, apesar dessa dor em minha perna que não me larga, é melhor seguimos para capital o quanto antes.
- A escravidão tornou alguns de nossa raça cruéis e sem escrúpulos. Não sei se essa liberdade vivida por nós, nós fez bem ou mal, estou vendo negros tão cruéis, ou mais cruéis que os senhores de engenho...
- A liberdade não é culpada da má índole, negros e brancos não são diferentes em pensamentos e sentimentos, basta dar lugar e a maldade toma conta.
- Tenho que concordar com você, meu amigo Miro.
Não somos diferentes, somos humanos.

E caminham de vagar pelos trieiros encobertos de mato que os levariam até a estrada.

No meio da mata...

O grupo de homens da lei espreitam o quilombo, ao longe um dos homens vê Homero e mais dois negros levantarem um monte de folhas e retirarem algumas garrafas de água ardente.

Enquanto os negros conversam sobre outro assalto. O grupo rodeia o quilombo.
- Atacar!!! Diz o comandante da guarda.
- O que é isso?!
Peguem as armas, estamos sendo atacados!
Diz Homero correndo para o local onde elas estão escondidas...
Forma-se uma grande correria e gritaria, ao ouvirem os primeiros tiros muitas mulheres e crianças deixam
seus barracos colocando-se em grande perigo no meio das balas que voam dos dois lados...
Após muita correria e muito alvoroço, alguns negros perdem a vida e alguns são capturados.
Homero fere-se no ombro por estilhaços de chumbo e cai sangrando ao lado de dois companheiros que agonizam.
- É ele. Ele é o Homero o negro que foi escravo de meu pai. Venha até aqui!
É esse o negro que liderou o assalto na fazenda?
Pergunta o dono de Santa Efigênia, para o negrinho que o havia livrado do veneno que a feiticeira fez...
- Sim! É ele mesmo.
Me lembro da cara cheia de cicatrizes, ouvi ele querendo matar todos os brancos e colocar fogo na fazenda!
- Negrinho infeliz! Traidor da sua raça, se ti pego degolo seu pescoço! Maldito!
Diz Homero irritado com o garoto.
- É o maldito negro mesmo: diz o fazendeiro...

Enquanto isso, Leôncio e Miro
Que estavam subindo uma serra, ouvem os tiros e a gritaria que se formou no quilombo.
- É no quilombo, Leôncio!vamos voltar, precisamos ajudar a nossa gente!

Leôncio segura Miro que por um rompante, já se encaminha
pela trilha de onde vieram...

- Não, não vamos voltar!
Nessa vida, sempre somos cobrados pelos atos que praticamos. Mais cedo ou mais tarde a cobrança chega.
Temo que no caso de nossos irmãos do quilombo, foi mais cedo que que eles esperavam.
- Não podemos deixá-los! São mulheres e crianças, não podem lutar sozinhos!
- Meu amigo, se voltar- mós a única coisa que vai acontecer é que iremos morrer com eles.
Me escute, não temos com que lutar...
Venha, vamos nos esconder não mata e esperar tudo passar.
- Leôncio! Sou seu amigo e preso sua amizade, mas não sou covarde.
Vou voltar e lutar com minha raça, se for preciso; morro!
- Miro, por favor, não vá!
Iras perder a vida.
- Perco, perco por um bom motivo.

Miro sai caminhando e mancando com a perna que ainda dói, mas não para de descer a serra.

Leôncio coloca as mãos sobre a cabeça e o chama mais uma vez!
- Miro! Os tiros cessaram.
Não vai até lá, é a guarda eles vão te prender ou pior, vão te matar.
Não há nada que possamos fazer, a não ser nós salvar.
Miro para. Olha para cima, chora e grita para Leôncio:
- Não sou covarde!
- Eu não conheço negro mais corajoso do que você meu amigo, porém não é hora de perder sua vida.

Ele volta e seta na beira da mata para ver se ouve mais alguma coisa prós lados do quilombo; o silêncio se faz e os dois amigos ficam também em silêncio por mais de uma hora.

Após a captura, a guarda para de perseguir e atirar.
Uma mulher e duas crianças  perderam a vida atingidas por balas perdidas.
A mulher que fez o veneno foi
Capturada e levada juntamente com Homero e alguns negros que sobreviveram a invasão da guarda.

Leôncio e Miro entram na mata e vão sempre beirando a trilha,
umas quatro horas depois do tiroteio, eles ouvem um tropel de muitos cavalos, se embrenham mais fundo e se deitam no chão se camuflando...
Ao longe vêm muitos guardas e vários homens armados, e muitos negros estão sendo arrastados pela trilha, entre eles Homero.

Na Capital...

Antonella acorda da anestesia e treme muito de frio.
- Olá, Antonella! Não fale, não se movimente. Você está fraca ...
Tenho ótimas notícias para você, menina.
Sua filha nasceu e está se recuperando bem. Você acordou e vai ficar bem!
Não sairei do seu lado até que não haja mais riscos, para isso, preciso que se movimente o mínimo possível, está bem?!

Antonella balança a cabeça em um sinal de afirmação.
O dia está amanhecendo e Letícia vai para a casa descansar um pouco.
Ela tem várias consultas e alguns atendimentos a pessoas carentes e negras.

Com a ajuda de um cobertor forte e de algumas pessoas, Antonella é colocada sobre sua cama, Aurélia a observa.

Apesar de ser um feito e tanto para a medicina contemporânea e para as primas médicas, o feito inédito
Terá que permanecer em segredo, pois a honra da da paciente não poderá ser abalada. E o juramento de sigilo entre médico e paciente obriga às doutoras fazerem silêncio sobre seu extraordinário feito.

Maria
Boaventura.

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