Redenção

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Capitulo: 102

A vida é repleta de encontros e desencontros.
O mundo gira e em seu girar constante, consede ao ser humano a oportunidade de se reencontrar.
Alguns sorriem por rever algo importante e saudoso, outros choram por relembrar algo triste e pesaroso.
O amigo ou ( inimigo passado) teima em se fazer presente se materializando nos olhos e nos corações daqueles que buscam redenção.

Santa Casa de Misericórdia.

Após dizer para Leôncio que sua amada Ayana está vindo, Aurélia vai até a mesinha de remédios e pega um vidro com uma substância calmamente, pois imagina que o reencontro deixará seu paciente emocionado e agitado.
O que poderá acarretar danos à sua recuperação.
_ Senhor Leôncio, tome esse medicamento, vai lhe deixar calmo, será bom para que não tenhas ideias de se levantar e romper novamente esses pontos.
Digo lhe mais, o senhor já brincou muito com a morte e com ela não se brinca! Vou ficar aqui no quarto e ficar vigilante.
_ Prometo que me comportarei, não posso morrer agora, agora não.
_ Então comporte-se.
Diz Aurélia que já vê o remédio fazer efeito.

Na delegacia

Samuel está caminhando de um lado para o outro, seus pensamentos estão em Ayana e em Octaviana.

_ Aquele negro mequetrefe!
Como ele chama a minha Ayana de sua noiva! Ayana sua meretriz!
Não pode ver nenhum negro em sua frente que já se embola com ele. Corre e foge de mim, todavia já está noiva daquele...
Noiva?! Nunca te vi tão bela.
Desgraçada, mil vezes desgraçada!Não pensa que vais fugir de mim, não vais! Não mesmo!

Serafim olha Samuel gesticulando e andando sem parar, ele maneia a cabeça e pensa consigo.
_ Que merda! Olha onde fui enroscar o meu pitoco?! O senhor de fazenda é doido de pedra.
Olha ele! Birutinha da Silva! Se for para me valer desse lunático;
Tô lascado!

O delegado, após a saída do doutor José Jeronimo, lê o depoimento e fica estarrecido com a maldade ou loucura de Samuel.
Medita na empáfia do advogadinho negro e diz:
_ Mesmo esse tal Samuel sendo um excremento humano, não vou deixar barato para esse doutor José Jeronimo.
Quem ele pensa que é para dar uma de macho alfa aqui na minha delegacia; aqui mando eu!
É para acabar! Em que mundo estamos vivendo?! Daqui a pouco nós seremos os escravos e a negaiada aí, será nossos senhores.
Se depender de mim isso não vai acontecer, não vai mesmo!

Recepção.

Octaviana abre a grande porta que separa o ambulatório da recepção
Ayana que está sentada em um banco, levanta-se rapidamente.
_ Já posso entrar?
_ Senhora Ayana, o senhor Leôncio acabou de passar por uma complicada cirurgia e uma transfusão de sangue, você poderá entrar, porém, só por alguns instantes. Ele não pode ter emoções fortes. Apenas você pode vê-lo. Doutora
Aurélia somente permitiu, pois sabe da história de vocês.
_ Nem que for  por um segundo só, preciso ver se ele tá vivo e ficarei mais calma e em paz.
_ Então vamos, vou acompanhar você até o quarto.
Chegando à porta do quarto, Aurélia está a aguardando.
Olhando para as duas mulheres a sua frente, fica nítida a semelhança que há entre elas, é  deveras impossível não crer que são gêmeas idênticas.
_ Muito prazer, senhora Ayana.
Aurélia olha para Octaviana e diz:
_ Impressionante como vocês são idênticas! Temos que fazer uma varredura em suas árvores genealógicas, com certeza são parentes em primeiro grau.
Desculpe-me, senhora Ayana.
Sei que está aflita para ver o Leôncio.
_ Sim! Preciso ver ele.
_ Ele se encontra estável, porém requer muito cuidado,  por esse motivo entrarei e ficarei com o meu paciente caso aconteça algo, mas digo como médica dele que o paciente não pode se exaltar.
Ele tem sorte de ainda estar com vida, irei fazer o máximo para que continue assim, você me entende?
_ Agradeço por cuidar dele e prometo que será poucos instantes.
_ Sendo assim, podemos entrar. Diz Aurélia.
_ Eu aguardo aqui fora. Diz a baronesa Octaviana.

A porta do quarto se abre e Ayana vê seu amado deitado sobre uma cama hospitalar de ferro.
Seus olhos estão serrados e seu peito e seu abdômen estão enfaixados com tecidos brancos, algumas partes estão avermelhadas pelos fluidos que saem dos ferimentos.
Os olhos dela merejam ao olharem para aquele homem tão sofrido e tão amado por ela.
Caminha lentamente, se aproxima de Leôncio e pega sua mão que está sobre o peito.
Os olhos dele se abrem e vê em sua frente o rosto mais amado e procurado por ele durante a longa jornada que acaba-se ali naquele quarto de hospital.
Seus lábios pálidos e ressecados, sorriem e pronunciam o nome do seu eterno amor.
_ Ayana!
_ Leôncio, meu amor! Até que enfim te encontrei...
Os olhos de ambos vertem lágrimas torrenciais.

Passam-se alguns instantes de choros e soluços, Aurélia vê que Leôncio está muito emocionado e se esforçando, isso pode complicar seu estado.
Ela coloca a mão sobre o ombro de Ayana que está debruçada sobre Leôncio.
_ Por favor, sei que esse é o momento mais feliz de vossas vidas, todavia, o senhor Leôncio tem que descansar. Sinto muito.
Tenho que pedir que a senhora saia e amanhã podes voltar.
_ Claro, amanhã voltarei, meu amor. Amanhã e depois de amanhã e todos os dias até que você possamos estar juntos.

Ayana vai se afastando e Leôncio segura sua mão e olha na menina dos seus olhos e pergunta:
_ Aonde está nosso filho ou filha?
Ayana olha nós olhos de Leôncio, seu coração dispara em seu peito e com uma voz chorosa ela diz:
_ Todos os nossos filhos estão mortos. Sinto muito.
Sinto muito meu amor!

Leôncio suspira fundo e chora compulsivamente.
_ Não! por favor, me diga que isso não é verdade.

Senhora Ayana, saia logo, por favor.
E a mulata sai do quarto feliz por ver seu marido vivo ,porém, triste por dizer a ele meias verdades.
Seu coração sabe que mentiu ao seu amor, ou disse lhe meia verdade, pois os filhos dele estão realmente mortos, o dela, porém, está a aguando na recepção.

Aurélia tenta acalmar seu paciente que apesar do medicamento, está agitado.
_ Fique calmo, Leôncio.
Olhe, tome mais um pouco desse remédio e durma.
Amanhã você estará melhor, se Deus assim o quiser.
Ele adormece e Aurélia diz a si mesma:

_ Nunca deveria ter permitido esse encontro, como fui inconsequente.
E anteprofissional.
Aurélia, vê se aprende!
Diz a si mesma.

Octaviana está aguardando Ayana
no corredor.
_ Você está bem, senhora Ayana?
_ Estou muito feliz por vê-lo, mas o achei tão enfraquecido.
_ Ele é um homem extremamente forte, se fosse outro já haveria morrido. Vamos ter fé que tudo irá bem.
_ Sim, o mais importante é que o encontrei.

Elas caminham pelo corredor até chegarem onde está Catarina e Gabriel.

Fazenda Esmeralda

Dona Beatriz está com sua mala pronta e no dia seguinte irá até o banco e partirá para à Capital da província, Castilho em breve chega com Nhá Jacinta e Manu, isso a deixará em paz quanto as suas meninas.
Ela não tem certeza do que a espera, todavia aquela mulher submissa, escrava de convenções não existe mais.
Ele deixou que sua força interior saísse para fora e tomasse conta de seu destino. Agora uma guerreira vive no lugar daquela mulher fraca e insegura.

Maria Boaventura.

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