Sérias preocupações

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Sérias preocupações


Capítulo 11

Fazenda Esmeralda.

Leôncio está esgotado, seus dias de trabalho têm sido exaustivos, porém sua expiação continua à cada batida de seu coração.
Sempre na frente do eito puxando o trabalho, quando chega o meio do dia, as correntes de ferro esquentam formando bolhas e queimaduras em seus tornozelos.
Para piorar sua horrenda situação, a mando do seu vingativo senhor, sua água e seus alimentos são diminuídos drasticamente.
- Castilho para o desgraçado do Leôncio, apenas o imprescindível para que não morra de inanição.
- Da maneira que o senhor mandar, patrão!
- Esse negro vai me pagar, não o deixarei em paz enquanto eu viver.
Meu filho poderia estar cavalgando por esses pastos,
galopando pelas estradas do cafezal, mas esse desgraçado, infeliz...
Ele merece a morte, morte lenta e dolorosa.

Dona Beatriz está a sentir falta de sua mucama predileta.
Ela procura manter-se sempre ocupada dando atenção às suas três filhas, e tentando seduzir seu marido para que possa engravidar e dar-lhe outro filho homem, mas Samuel se irrita com as investidas de sua esposa, no seu coração há tanto ódio que qualquer tipo de carinho serve para que sua infinita ira cresça cada vez mais.

- Samuel deitar-se aqui comigo, serei tua, se me quiseres.
- Não me amofine, fique quieta em seu canto!
Deixe-me em paz.
- Mas marido...
- Já disse, não me amofine!

Ele está sentado frente a janela, parado, olhando para o nada...

levanta-se da cadeira e vai caminhar pelos lados da senzala, onde se põe a observar Leôncio preso nos ferros; definhando e sofrendo.
Na mente doentia do senhor Samuel é a única coisa que lhe satisfaz, ver o negro definhar.

Quando o dia amanhece...

Chega à fazenda o capitão da guarda acompanhado de dois soldados.
- Bons dias, senhor Samuel!
- Bons dias, capitão Laurindo.
O que o trazes logo cedo à minha casa?
- Posso me acentar?
Preciso falar-lhe algo muito sério.
- Assenta-se e diga-me o que pode ser tão sério assim?
- Sinto muito pelo falecimento de seu filho, fico consternado por sua perda.
- Agradeço-lhe.
- Chegou-me ao conhecimento que após a morte de seu filho o senhor matou os três filhos de seu escravo.
- Não posso negar, realmente aquele negro teve o que mereceu!
Ele deixou meu pobre filho morrer, somente para salvar o negrinho dele.
- Senhor Samuel, esse é o motivo que me trouxe aqui.
Não sei se tem ciência da burrice que cometestes.
- Ora, viestes aqui para me afrontar?!
- Deveras que não!
Quero lhe dizer que os filhos de seu escravo eram crianças livres perante a lei, e o senhor cometeu um terrível triplo assassinato, podes ser enforcado por esse crime.
- Ora, ora! Não venhas me dizer o que posso, ou não, fazer com meus escravos!
- As crianças perante a lei eram livres!
E não estou aqui para o prender, somos amigos.
Estou aqui para alertá-lo, se alguém; qualquer um desses abolicionistas ouvirem essa história, o senhor será preso, ou quiçá morto!
Tomes muito cuidado, não deixe que essa história se espalhe, enquanto ela estiver dentro de sua fazenda, não haverá nada contra o senhor, porém se alguém der parte a justiça, terás que responder por crime de assassinato, com o agravante, pois eram crianças indefesas...
- Quer dizer-me que poderei ser preso ou até enforcado por matar três negrinhos infelizes?!
- É a lei!
A lei do ventre livre, e a lei tem que ser cumprida!

E assim o arrogante senhor Samuel se cala e poe-se à pensar...

Ele não observa, mas embaixo do alpendre está um negrinho que todos o consideram louco, pois ele fala sozinho e não obedece regras, anda por todos os lados e cumpre algumas tarefas, mas os devaneios de sua mente, faz com que ele não seja impelido a grandes obrigações e nem a grandes castigos.

A noite chega e dona Alma diz a Ayana que ela dormirá dentro da casa, pelo frio que assola a senzala.
- Ayana de hoje em diante você dormirá aqui dentro da casa, até que seja construído o seu quartinho, deveras minha filha Catarina te razão, o frio não há de fazer bem para seu barrigão.

Os olhos da negra vertem água.

- Agradeço sinhá, não sabes como fico grata.
Irei buscar o colchão para coloca-lo em um cantinho.
- Não se apoquente, temos um colchão de sobra, deixe aquele na senzala.
Busque suas coisas e traga para cá.
- Sim sinhá!

E o coração da negra respira aliviado, pois ela tinha a absoluta certeza que o negro lascivo abusaria dela essa noite e todas quantas ele quisesse.

Maria Boaventura.

11/10/21
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