Excluídos

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Capitulo 65

Brasil...

Os meses foram passando e a condição de negro liberto se tornando cada vez mais difícil. Os escravos vivem nas grandes cidades, como também no campo, o retrato da dor e do descaso, sempre à margem da sociedade sobrevivendo de migalhas e desesperança.

As ruas, praças e vielas se tornaram moradia para os excluídos da sociedade contemporânea. Não assistidos pelo império ou pela igreja, não lhes resta outra alternativa a não ser, lutarem pela sobrevivência... a nata da sociedade tenta de todas as formas retirarem os negros da ruas principais das grandes cidades, prezando pela aparência e modernidade dos centros urbanos. Os negros são marginalizados, e obrigados a subirem para os morros e arredores das cidades, principalmente na capital do império. Os cortiços e casebres construídos de pau a pique ou qualquer material que conseguissem, tornou-se refúgio de pessoas boas e também de marginais que usam do infortúnio vivido para praticarem todos tipos de crimes.

Muitas pessoas que lutaram contra a escravidão em favor da libertação continuam lutando contra o abandono vivido pelos negros, todavia a inclusão do negro é praticamente impossível, pois não há trabalho nem moradia para tantos...

A cultura racista se tornou um mal congênito tatuado nos corações de indivíduos que não querem mudar seus conceitos, isso torna a segregação de negros e brancos insolúvel.

Na capital ...

As ruas estão lotadas... a baronesa Octaviana chega em frente ao escritório do doutor José Jerônimo.

- Bartolomeu, venha me buscar daqui uma hora.

- Sim, senhora.

Ela adentra o escritório toda sorridente, ao ver que a baronesa acaba de chegar, José Jerônimo se levanta de sua escrivaninha e com um largo sorriso vem encontra-la à porta.

- Meu amor, que bom que veio nos fazer essa visita.

- Estava deveras curiosa para conhecer a bela "Isonomia" vejo que é bem maior do que imaginei.

- A única belíssima aqui é você, minha rosa negra.

José pega a mão de Octaviana e beija.

- Ora, vejam só! Não é que nossa tarde se iluminou, que a tristeza e a amargura fugiram pela janela, que chegou em nosso jardim a flor mais bela.

- Damasceno, continuas galante e poeta!

- Poesia é algo que carrego nas veias, mas quando vejo uma deusa como a baronesa a poesia fluir naturalmente.

- Tenhas cuidado meu amigo poeta, nosso sócio é mestre em capoeira, eu não te ajudarei a correr. Lembre-se também, que Leticia é uma medica muito habilidosa com o bisturi, e confesso que quero priminhos para meus filhos!

- Não me lembre isso! Morro de medo do bisturi.

Os quatro sorriem e a baronesa vai se assentar perto do seu noivo.

- Realmente, o escritório ficou magnifico!

- Ficou mesmo muito bonito, porem, confesso que esperava mais clientes.

Estamos trabalhando muito, tenho muitos clientes não pagantes...

- Não se preocupe, Deus vai abençoa-los o que estão fazendo pela nossa raça é divino.

Terão uma grande recompensa.

- Eu acredito piamente, meu amor.

- Sei que você está muito ocupado, mesmo assim, preciso de um grande favor.

- Não existe ocupação que me impeça de te fazer um favor, a não ser ...

A baronesa sorri e diz:

- A não ser?

- Algum julgamento que já esteja marcado, o que não é o caso.

O que posso fazer por você minha deusa negra.

- Está acontecendo uma revolta em minha fazenda que fica em uma cidadezinha no interior, não muito longe. Fui informada que muitos negros estão se instalando lá, não que não goste disso, porem animais estão sendo mortos e meus funcionários estão sendo ameaçados, não sabem o que fazer...

- Irei com muito prazer, não tenho nenhum julgamento por esses dias. O que devo fazer quando lá chegar?

- Trouxe as escrituras da fazenda, quero que arrume alguém da cidadezinha que possa distribuir as terras para todos os que quiserem trabalhar. Já que nossos amigos que regem o império não estão importando com nosso povo, vou dar o meu melhor para minimizar a dor e a fome de alguns.

- Você é um anjo, minha pérola negra.

- Meu doutor está galanteador hoje.

Minha rosa, minha deusa e minha pérola. Assim irei me apaixonar mais ainda.

- Há espaço para mais paixão nesse coraçãozinho?

- Confesso que ele está lotado de tanta paixão, mas aperto um pouquinho e caberá mais amor...

E assim, José Jeronimo se apronta para viajar para o interior a pedido de sua Baronesa.

Do outro lado da cidade...

- Após a boa notícia recebida pela doutora Aurélia, a duquesa respira profundo, se sente mais aliviada.

Aurélia fica parada no meio da sala e o doutor Valdomiro se adianta e oferecer seus conhecimentos.

- Minha amiga Leopolda, se quiseres posso dar uma olhada em sua criada?

- Não se preocupe e não me deixe a esperar, sou sua paciente e tenho ciúmes.

- Nunca deixaria minha paciente preferida a esperar.

- pois então, venha ao escritório e lhe direi o meu mal.

Dizendo isso, ela segura no braço do doutor e ambos saem caminhando em direção ao escritório.

- Perdoe-nos doutora por tanto inconveniente, na hora da aflição nos pareceu plausível chamarmos o doutor Cartter, não nos veio à cabeça a honra de Antonella, nos esquecemos de tudo pensando somente em salva-la.

- Não se preocupe, sei que o amor dos pais pelos filhos sempre ultrapassa as outras questões.

Creio que Antonella conseguirá se recuperar.

Pensei em algo para que a reputação dela não seja manchada.

- Diga-me! Sou todo ouvidos.

- Quando ela estiver mais recuperada, o senhor e sua esposa viagem para a Europa dizendo que a irão visita-la, que ela se casara tão logo chegarem, daqui uns dois anos voltem dizendo de sua viuvez e do filho que nasceu.

- A doutora acha que dará certo?

- Presenciei uma história parecida quando estudava por lá. Ninguém ousará discutir sua palavra e a de sua esposa. Não retirem a criança de sua filha isso acabara a matando.

O Duque ficou pensativo e começou a fazer planos para concertar o erro que sua inocente filha cometeu.

Ele cogitou a ideia de arrumar um moribundo para se casar somente no papel, sua filha ficaria viúva e seus problemas acabariam.

Após o almoço o doutor Valdomiro se retirou e os pais de Antonella discutiram os planos para viagem.

Maria Boaventura.

Espinhos da LiberdadeWhere stories live. Discover now