O nascimento

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O nascimento

Capítulo 18

No Rio de Janeiro...

Os quatro doutores estão com os sentidos confusos.
Depois daquele jantar eles sempre estão juntos engajados em movimentos abolicionistas...

Os medicamentos foram entregues e estão sendo de grande ajuda para os necessitados, servindo para  aliviar o martírio e dores daqueles que não podem  compra-los.
Rodolfo sempre tenta chamar a atenção da bela Aurélia, que sempre dá atenção ao amigo Damasceno.
E Letícia da atenção a Rodolfo e recebe a atenção de  Damasceno.

Assim, eles vão levando a amizade para o futuro, onde o amor é deveras cheio de incertezas.

A noite está escura, uma lamparina com sua chama esverdeada, pela borra que se formou no pavio,  não ilumina o quarto que está cheio de dor  e sangue.

Ayana se contorse, abafando seus gritos de dor mordendo seu punho.
A bolsa estourou e o sangramento se intensifica com o passar do tempo.
Dona Alma é uma parteira experiente e está auxiliando a negra nesse momento difícil.
- Não tem jeito, hoje seu filho nasce.
- Sinhá, não é chegada a hora ainda.
- Não somos nós que escolhemos, é a hora!
Quando ela chega não podemos fugir.

A escrava chora por medo de perder seu quarto filho.

Na senzala...

- A culpa é sua, estamos morrendo de fome porque você não consegue manter seus culhões dentro das calças!
Estou aqui a morrer de fome, tu aí com essa cara de não ter nada com isso...

Oracio está furioso; sempre foi pacato, mas o intenso desejo de copular do Mané tirou- lhe a única coisa que lhe satisfaz, comer.

Enquanto ele resmunga, Bidu dorme o sono dos inocentes.

- Sinhá, por favor!
Não deixe meu filho morrer.
- Farei tudo que tiver ao meu alcance, para que ele viva.
Mas você precisa me ajudar, quando vierem as contratações, você fará força!
Vamos, mais uma vez...

As dores são intensas.
Ayana já não consegue mais ajudar quando vêm as contratações, há sangue por toda a cama e dona Alma pensa o pior.

Quando a alvorada se faz presente no meio do sertão, pássaros fazem sua revoada em busca de alimentos.
O sol rompe a alva e a vida resplandece sua majestade...

Ouve-se um choro no quartinho de Ayana, após um parto difícil, no qual imaginava-se um natimorto, nasce um menino saudável.
Seu peso e seu tamanho parecem ser de um bebê dentro do tempo normal, porém devido ao parto demorado e dificílimo a mãe é quem necessita de cuidados.

A negra está suada e sem forças, esse parto foi-lhe o pior de sua vida.
Dona Alma está preocupada com o sangramento intenso, faz chás e simpatias para que o sangue cesse.
Limpa a criança e o agasalha, coloca-o nós braços de sua mãe.
Ayana olha o bebê e põe-se a chorar desesperadamente:
- Vamos, pare com esse choro!
Pense em seu filho e em sua saúde.
- Desculpe-me sinhá!
Eu não imaginei que tal coisa fosse-me acontecer...
Pobre Léoncio, seu último filho e...
Chora e beija o menino colocando-o em seu seio para amamentar.

A porta da senzala se abre...
Senhor Damião está com algemas de ferro em sua mão,
Ele as joga perto de Oracio e diz com rispidez:
- Coloque-as nós punhos do Mané!
- Vai me castigar nhonhô?
Fala Mané com ar de risos.

- Coloque-as já, Oracio!

Ao olhar  a garrucha nas mãos do senhor Damião, Oracio obedece sem pestanejar.
Mané não se move um milímetro. Após as algemas
uma corrente é fixada as algemas.

Damião fala com seridade:
- Se prepara para uma longa caminhada, vamos à vila.
Oracio você e Bidú vão cuidar das obrigações, ao meio dia vocês vem  buscar o almoço na cozinha.
- Sim nhonhô!

Na casa...

- Nasceu a criança?
- Sim, meu marido.
- Como a negra está?
- Está se recuperando, o sangramento está a diminuir.
- E o negrinho, vai viver?
- Creio que sim!
Penso que ela se enganou quanto ao tempo, acho que estava no tempo certo.
Ele não é graúdo, mas parece ser saudável.
- Cuide dela, senhor Samuel pediu-me para não deixar ela sofrer dano algum.
- Ela ficará bem.
Tenho minhas desconfianças quanto ao motivo dessa encomenda.
- O que queres dizer com isso?!
- Venha ver!

Alma abre a porta do quarto de Ayana, ela está  amamentando-o, o contraste do seio com o rostinho do bebê torna a desconfiança de dona Alma perfeitamente plausível.
- Senhor Damião?!
- Venho ver se estais bem?
- Sim senhor, estou deveras melhor.
- E o menino?
- Ele está bem, vamos ficar bem!
- Muito bom, digo a você que não precisa mais teres receios do negro Mané, resolvi que irei vender aquele animal.

Dizendo isso, parte para senzala para buscar o negro.

- Vês o que fez?!
Agora vais ser vendido ou trocado; Seu nego burro!

- Que burro que nada!
Se me vender para uma fazenda que tenha várias negas, vou é bamburrar!

Antes que a prosa termine, chega Damião e leva o negro, puxando-o pela corrente.
Ele sai mudo e permanece mudo até chegarem à vila, onde ele é exposto na rua do comércio de negros.

17/10/21

Maria Boaventura

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