Escravos de novo

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Escravos novamente

Capitulo 42

Liberdade, liberdade...

Um grande pássaro que na mais alta montanha abre suas asas ao vento. A brisa suave faz suas penas cintilarem ao sol, ele alça voo para o céu azul anil... paira sob às nuvens e canta seu canto triste; sua liberdade é um sonho inalcançável, inatingível, pois não há um lugar para repousar seus pés cansados...

Voar pelos espaços dos sonhos é seu castigo.

Liberdade pela metade, não é liberdade é martírio.

Antes da carta áurea ser assinada, muitos lutaram para implantar uma reforma agraria...

Os negros seriam colocados em um pedaço de terra para se manterem e também crescerem como seres humanos no país que tudo lhes roubou.

Alguns abolicionistas políticos que exerciam alguma influencia lutaram para que os libertos não fossem jogados ao léu. Em contra partida, escravocratas e simpatizantes, não aceitaram tal proposta que prejudicaria muito os latifundiários, os quais, já se sentiam prejudicados pelo não ressarcimento dos negros que seriam libertos...

Qualquer tipo de ajuda ou recurso foi totalmente descartado, não houve um acordo para favorecer os escravos. O império vivia tempos difíceis; o último país da américa do sul vivendo o regime de escravidão, a maior quantidade do tráfico negreiro fora para o Brasil. Que viveu mais de três séculos de escravidão...

Ou implantava-se a liberdade sem nenhum ressarcimento ou ajuda para os negros, ou não haveria liberdade!

Sendo assim, os negros foram libertos e deixados à própria sorte...

Fazenda Novo Mundo...

Pelas grades de ferro das janelas da senzala, pode-se observar jagunços que vigiam o tempo todo. Uns quinze homens, entre negros e imigrantes haviam vindo para à fazenda após ouvir a proposta do empreiteiro do senhor Abílio de Novaes.

A língua dos imigrantes é um empecilho para os fazendeiros, a não compressão exata do que se manda a eles, os torna menos atrativos para o trabalho, já os negros, apesar de quererem ser donos de suas vidas, ainda temem os guardas armados... e muitos se submetem à um trabalho forçado que pouco se defere da escravidão.

- Não parece ser um bom serviço, e sim uma escravidão disfarçada!

- É meu amigo, penso que enroscamos nosso pitoco vindo para essa fazenda!

- Creio que enroscamos o pitoco e o resto também!

Outros negros que vieram no mesmo carroção começam a dialogar sobre a porta trancada:

- Não creio que estejamos presos como éramos na escravidão! penso que a tranca é para que não fiquemos zanzando por aí...

- Qual seu nome meu irmão?

- Me chamo Hélio.

- Espero que tenhas razão Hélio, pois já sofremos demais para continuarmos no mesmo sofrimento.

Leôncio diz essas palavras para acalmar seus irmãos negros, porém no seu íntimo ele está muito preocupado.

As coisas estão estranhas naquela fazenda...

Nos dias de escravidão, não havia tantos capangas armados, e porque a porta trancada?

No mínimo tudo está muito estranho.

- Non credo che questi brasiliai vogliano renderci schiavi, come hanno fato i neri.

- scappiamo o facciamo uma ribellione!

- O que esses branquelos estão falando?

- Confesso que gostaria de saber...

- Devem estar chorando, acho que estão chamando a mamãe!

o que há com vocês meninas? estão com medinho?!

- Che cosa faremo?

- Facciamo come i Negri, sono abituati ai contadini in Brasile.

- Não seja mau, Hélio. Nós estamos no mesmo barco, pelo jeito nosso futuro é tão incerto quanto os deles, é melhor aguardarmos para ver no que vai dar.

- Calem-se! E descansem essa noite, amanhã as meninas brancas e negras vão ter um dia difícil!

Diz um capanga que está ouvindo a conversa pelas grades da janela.

Umas sete horas da noite um negro velho traz um grande caldeirão com sopa quente, vários pratos de esmalte e algumas colheres, Leôncio toma a frente e divide a comida entre todos igualmente, depois de se alimentarem escolhem um canto da senzala e adormecem...

Às quatro e meia da manhã um som estridente é ouvido, um dos capangas bate com um caneco nas barras de ferro da porta, fazendo todos despertarem do sono profundo em que estão.

- Donzelas, já é chegada a hora de se vestirem para o baile! Todas de pé!

Entra o empreiteiro que os contratou na estalagem.

- Hoje começaremos a colheita, confesso que não fui muito honesto com vocês, o salário não será dois vinténs, mas um! E vocês ficarão até o término da colheita, que durará dois meses ou mais. Se tentarem irem embora; não tentem, podem levar um balaço nas costas! Se fizerem corpo mole, pagarão um preço por isso, perderão o salário do dia.

Não haverá diferença entre negros e brancos, todos serão castigados igualmente.

Então, se esforcem e trabalhem, talvez, talvez!

O destino será bonzinho com vocês, e todos saíram vivos daqui.

Agora vão!

Quando Leôncio passa por ele, ele segura o negro pelo braço e diz:

- Não faça gracinhas negro, aqui não é a sua antiga fazenda, onde foi escravo; não teremos misericórdia!

Nem de você, nem de seus amiguinhos!

Leôncio olha dentro dos olhos do homem e diz: - você não sabe pelo que já passei...

E puxa o braço com força.

Negros e brancos caminham em silêncio madrugada à dentro rumo a lavoura de café.

Maria Boaventura

Espinhos da LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora