Frustração

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Frustração


Capitulo 37

Capital...

Os dias estão trabalhosos para as doutoras Aurélia e Leticia...

Filas se formam em frente ao consultório, os remédios e curativos estão escassos, somente os doentes mais graves são atendidos e medicados...

Rodolfo e Damasceno tentam angariarem ajuda da elite da sociedade, porém o problema tem-se tornado impossível de solucionar. Os negros e os imigrantes não têm a quem recorrer perante uma enfermidade, a população de classe baixa se encontra desprovida de dinheiro, mesmo conseguindo uma consulta de graça, se torna praticamente impossível comprar os remédios dos receituários.

Havia naquela época muitos curandeiros, benzedores e boticários que cuidavam para que a saúde fosse restabelecida; a falta de conhecimento, ou dinheiro, fazia com que a população buscasse o que melhor lhe aprouvesse para que o mal fosse sanado.

- Quanta gente enferma, meu amor.

Acho impossível continuarem assim, sem ajuda de ninguém.

Aurélia, limpa suas mãos ensanguentadas em seu avental, senta-se em uma mesinha repleta de instrumentos cirúrgicos...

Ela olha para Rodolfo com seus olhos marejados de lagrimas, da um sorriso repleto de dor, e abraça seu amado.

- Ei, ei! não fique assim, meu amor. havemos de arrumar um jeito, alguém há de nos ajudar!

- Não há jeito, estamos no final da linha, como poderemos prosseguir se não têm medicamentos, panos limpos, faixas...

Não temos nada! E os enfermos não param de chegar!

Ela chora e soluça, pois para aquela jovem cheia de expectativas e sonhos, não há como prosseguir, o jeito é fechar às portas e ver as pessoas menos favorecidas perderem o resto de suas esperanças.

- Eu tentarei convencer algumas pessoas a te ajudar. Imagino que ainda reste alguns que se comovam com tanta dor, não está sendo fácil conseguir ajuda, pois são muitos os necessitados...

Os recursos estão se acabando, tem pessoas que repartiram o máximo possível, agora já começam a lhes faltar também.

- Não se preocupe meu amor, não podemos nos transformarmos em recursos financeiros.

Não pedirei mais nada para meus pais, sei que toda a fortuna deles não daria para sanar o que está acontecendo com nossos pobres irmãos...

Nem eu, nem Leticia estamos suportando o trabalho e a pressão de vermos tanta dor e saber que às portas se fecharão, que essa dor irá aumentar consideravelmente, isso está nos matando!

- Tenho algo a lhe falar, fomos convidados para um jantar na casa da baronesa Octaviana de Vertilhos...

Imagino que ela tenha novidades sobre a princesa e sua reunião, quem sabe, às coisas clareiem para nós!

- Tomara meu amor, não estou suportando tanta pressão. Ficarei feliz por sair um pouco dessa tensão e tecer uma prosa boa. Irei falar para Leticia, vamos fechar o consultório agora.

Preciso de um banho e um descanso.

- Preciso falar com seu tio José, pois ela fez questão da presença dele.

Seu tio é o convidado de honra.

- Ora, vejam só! Por sorte, ele está no tribunal hoje, mandarei um garoto de recados e pedirei para que venha aqui para irmos juntos.

- Está combinado. Damasceno e eu viremos às sete horas para irmos todos juntos...

O coração da jovem medica se acalenta por algum tempo, pois veio-lhe esperança de conseguir ajuda para que seus pacientes pudessem serem medicado e recebessem um pouco de acalento em um mundo tão injusto e cruel.

Fazenda Rio do Ouro...

Após o almoço, Samuel conversa com seu amigo João, eles fazem planos para a colheita e sorriem de lembranças passadas.

Reclamam dos governantes e maquinam ideias para manterem os negros submissos e trabalhando por uma pequena miséria, que se tornou, mais lucrativa do que os comprar e mantê-los presos nas senzalas.

- Te digo meu amigo João, se não fosse a migração e essa procura por salários melhores, estaríamos bem servidos. Com essa lei de vadiagem, eles se acalmarão e ficarão trabalhando por qualquer vintém que oferecermos.

- Concordo com você, essa liberdade que enfiaram goela abaixo em nós, veio nos trazer benefício.

Não somos obrigados a sustentamos os velhos e os preguiçosos, só pegaremos os fortes e trabalhadores, o resto que morra de fome pelas estradas e quilombos!

Quero ver quem lucrará com essa tal liberdade?

Te digo mais! Duvido que esse regime imperial perdurará depois dessa libertação dos escravos... Esse império vai ruir! E esses reis e princesas, vão sair do brasil com seus rabinhos no meio das penas. Ousa o que eu digo! A coisa não irá ficar boa para essa regente! Não vai!

- Acredito piamente em suas palavras, meu amigo!
Porém, mesmo sabendo desse lucro que estamos tendo, não quero mais essa raça em minhas terras.
Chega de lidar com essa corja de preguiçosos!
Vou me adaptar a esses italianos de uma má figa...

E sorriem, pois os italianos também vêm dando-lhes muito trabalho.

Eles estavam ainda no assunto, e chega o Serafim com uma noticia para o senhor Samuel.

- Senhor Samuel, tenho algo para lhe falar.

- Pois diga!

- O negro Leôncio não está no eito. Ninguém o viu hoje na lavoura.

- Acho impossível, ontem a noite ele disse-me que viria hoje para o trabalho!

-O negro é tinhoso... o demônio deve ter contado para ele que viramos:

Disse Serafim.

- Pare com isso, ele deve estar no meio dos negros, são uns vinte que estão trabalhando.

Na hora do recebimento, vocês verão, ele vai aparecer.

- Estarei o aguardando...

Às seis horas da tarde, todos os negros vieram receber seu pagamento.

Senhor João sente a falta de Leôncio e de Miro...

- Algum de vocês viram o Leão e o Miro?

Eles me garantiram que viriam hoje.

- Senhor João, eles foram para a capital.

-Capital? Que história é essa?

- Eles foram atrás da mulher do Leão, eu encontrei com ela na estrada e ela me disse que estava indo para a capital, falei para eles ontem e os dois foram embora.

- Eles prometeram que viriam hoje.

- Foi para receber o dinheiro, se não o senhor não pagava e eles tinham que ficar.

- Malditos! Disse Samuel.

- Nós os pegamos, eles estão a pé, nós a cavalo!

Senhor João fica entristecido por não os ter mantido na fazenda, mas o que está feito, está feito.

Samuel fica embravecido, queria ter consumado sua vingança hoje, porém, tudo tem seu tempo determinado.

No caminho de volta para Esmeralda ele faz planos com o Capitão do mato.

- Vamos nos preparar, para pega-lo no caminho para a Capital, a pé o maldito não vai longe, o pegaremos logo, mas preciso me organizar e deixar minha fazenda sobre cuidados específicos do meu capataz, a colheita está às portas, não posso me precipitar...
- Não se preocupe senhor Samuel, pegaremos o negro e o sangue vai jorrar na estrada.
Pode considera-lo um nego morto!

Samuel sorri, vislumbra Leôncio caído ao chão  banhado de sangue vermelho.
Isso acalenta o coração de Samuel por uns instantes.

Maria Boaventura

Espinhos da LiberdadeWhere stories live. Discover now