Ajuda humanitária

43 7 19
                                    

Capítulo 12

A noite vem chegando de mansinho...
Os três escravos deixam as ferramentas de trabalho no galpão, banham-se no riacho e vão para a senzala aguardarem o jantar.

Oracio e Bidú estão proseando como de costume, sentados ao chão jogando conversas fora.
Mané está encostado na parede mordendo uma cana de capim, seu olhar não sai do colchão de palhas, seus pensamentos não saem do corpo da negra.
Ele não pretende obedecer seu senhor, seus desejos são maiores que seu medo.

Ele pensa: _ O porque a negra está demorando tanto para vir se deitar...
Senhor Damião traz o jantar e recomenda que apaguem a lamparina logo após comerem, e tranca a senzala.
Isso cai como um tiro no peito do negro.
Quando a lamparina se apaga ele deitar-se no colchão de palhas
e passa parte da noite afogueado de desejos.

Na Capital...

- Querida prima, estou a precisar de férias!
- Não me facas rir!
Estamos apenas começando nossa labuta, e você queres férias?
- Já atendi umas quarenta pessoas, desde diarréia até escarros com sangue.
- Para eu foi deveras pior, um escroto inflamado e infestação de piolhos.
- O jeito é rirmos de nossas desgraças.
- Queríamos medicina, olha ela ai!
Caiu-nos no colo como uma bola de ferro.
- Ou, uma carruagem desgovernada!
- Prefiro esse tal de automóvel que está rodando pela Europa.
- Eu bem que gostaria de ter um desses para eu poder passear pelo Rio de Janeiro.
Já pensaste que maravilha!
- Com nossa humilde clientela,
nossos sapatos serão nossos automóveis.
- Então vamos cuidar de nossos pacientes para que possamos ao menos comprarmos sapatos!

Doutora Aurélia e Doutora Letícia atendem seus pacientes em um consultório no subúrbio, seus pais lhes compraram um sobrado para que começassem construir aos poucos a clientela.
Moravam no segundo andar e no primeiro exerciam seu ofício.

No centro da cidade...

- Amigo Damasceno, ouvistes falar de uma clínica no subúrbio, regida por duas médicas que está atendendo negros e pobres?
- Ouvi uma história parecida, médicos atendendo os necessitados, ou coisa assim.
- Precisamos encontrar esse tal consultório, temos que ajudar de alguma maneira, temos medicamentos doados por nossos simpatizantes, nos falta médicos para distribuir à população carente.
- Por certo! Vamos encontrar esses anjos, tomara que sejam senhoritas belas, e não, marmanjos barbados.
- O importante é que eles abraçaram nossa causa, os menos favorecidos precisam de ajuda humanitária sempre.
Vamos convidá-los para nossas reuniões e passeatas.

Os jovens terminam seus afazeres e saem atrás de conseguirem encontrar os médicos...
A causa dos escravos e a pobreza vivida por àqueles que haviam conseguido serem alforriados, mas viviam a mercê da pobreza, da falta de
Alimentos e medicamentos tocava o coração de muitas pessoas solidárias com o sofrimento desse povo.
No meio desses anjos, estava os dois amigos...

Após pedirem informações para alguns negros alforriados
Que vendem quitutes nas praças para ganharem seu sustento, descobrem que o tal consultório fica na rua Boa vista, no Bairro de Sacramento.
Eles se alegram por poderem compartilhar os medicamentos recebidos de um farmacêutico também enganado com a causa.

- O Bonde não vai até lá, podemos terminar o trajeto de coche.
- Sim, vamos logo.
Estou curioso para conhecer tais médicos.
E partem para conhecerem os tais médicos que ocupam- se de cuidar dos negros e menos favorecidos da sociedade brasileira.

Maria Boaventura
12/10/21

Todos os direitos reservados.

Espinhos da LiberdadeWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu