Substantivo sem substância

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SUBSTANTIVO SEM SUBSTÂNCIA

O amor é algo que penetra profundamente à alma do ser que está o sentindo. Esse objeto abstrato pode se revelar pelas batidas do coração, pelos arrepios da pele ou pelo olhar brilhante.
Pode-se ver o amor na menina dos olhos? Pode-se ver o amor no dilatar das pupilas? Pode-se ver o amor nas lágrimas que gotejam, ou o amor é apenas um substantivo sem substância?!
São perguntas que apenas poderão ser respondidas por quem vive ou já viveu um grande amor.

Alguns podem até mesmo responder que o amor é utopia algo inalcançável, algo procurado, todavia, nunca verdadeiramente alcançado. As lágrimas que este abstrato objeto causa, pode ser a resposta para tais perguntas.

CAPITULO 103

Santa Casa de Misericórdia

A porta se abre e Catarina vê Ayana e a baronesa Octaviana saindo.
Catarina que está sentada em um banco grande de madeira segurando Gabriel em seus braços,
olha para o rosto de Ayana que está choroso e lhe pergunta:
_ Ele está bem?
_Está se recuperando, mas não achei que ele está bem.
_ Não diga isso senhora Ayana, Se o tivesses visto a alguns dias tinhas perdido às esperanças. Falou a baronesa.
_ Ele não as confundiu as vendo juntas? Olhando para vocês duas é difícil dizer quem é quem.
_ Te digo senhora Catarina, ele foi o único que não me confundiu com sua esposa. Ele me disse que éramos parecidas, porém, sua Ayana tem a verdade e o amor entranhados em seus olhos e que isso ele reconhece de longe.

Ayana ouve as palavras da baronesa e seus olhos enchem-se de lágrimas e os soluços saem de seu peito como ondas furiosas no mar. Ela chora compulsivamente, Octaviana a abraça e tenta acalenta-la.
_ Não fique assim, senhora.
Leôncio está se recuperando bem e creio que brevemente ele sairá daqui e poderão ficar juntos.
_Temo que isso seja impossível!
Diz Ayana.
_ Mas porquê?
Pergunta a batonesa.
Ayana olha para Gabrielzinho e chora novamente.
_ Não precisa me dizer, sei que o menino é seu filho, seu e do Senhor Samuel.
_ Sim!
E por isso sei que Leôncio nunca irá me perdoar.
_ Como não, você foi forçada! A culpa não é sua!
Diz Catarina indignada.
_ Ele me perdoaria se não o tivesse enganado, se tivesse lhe dito a verdade desde o começo.
A verdade que ele via nos meus olhos eram verdades mentirosas...
Ela não me perdoará! Não me perdoará jamais.

Octaviana e Catarina a consolam.

_ Quando ele se recuperar você lhe dirá a verdade, ele vai entender e a perdoará.
_ Espero que sim, baronesa.
Realmente não saberei viver sem o meu filho, e nem viverei sem Leôncio.

Sítio

Castilho chega à noite e explica o ocorrido para o senhor Damião, ele é dona Alma entendem, porém, se entristecem pela partida de Nhá Jacinta, pois ela cuida muito bem do seu netinho.
_ Deveras nos fará imensa falta, mas já que é por uma boa causa...
Todos se arrumam rapidamente e sobem na carroça partindo pela madrugada a dentro até chegarem na fazenda Esmeralda.
_ Não se preocupe mamãe, cuidarei muito bem do Benicio para senhora.
_ Está bem, minha querida.
Sei que você cuidará com esmero do seu sobrinho.
O dia está amanhecendo e dona Beatriz está com sua mala pronta.
Os cães ladram e ela vê uma carroça chegando na porteira e um cavaleiro que se aproxima.
_ Nunca pensei que um dia voltaria pra essa fazenda.
_ Nem eu, Nhá Jacinta!
Diz Manuela.
_ Minha fazenda! Olha Nhá Jacinta! É minha fazendinha de novo!. Eu falei que vinha buscar meu galo, falei!
Diz Juvenal é pula da carroça rumando para o galinheiro.
_ Socorrooooo, socorrooooo!
Meu galinho, cadê você?
Vem aqui, canta pra mim...

Dona Beatriz sorri ao ver o doidinho correr novamente pelo quintal que está todo orvalhado.
Os ocupantes descem da carroça e dona Beatriz diz com um sorriso no rosto:
_ Nhá Jacinta, Manuela, agradeço atenderam meu chamado.
_ Nha Beatriz, só Viemos por o senhor Samuel não estar aqui, se não, essa nega aqui, não botava mais os pés nessa fazenda.
_ Eu sou extremamente grata a vocês, não se preocupem, imagino que Samuel levará muito tempo para voltar, todavia, se ele voltar vocês voltam para o sitio do senhor Damião.
Eu pagarei a vocês o mesmo salário que a Rita minha cozinheira recebe.
Quero que você Nhá Jacinta cozinheira para as meninas e você Manuela ajude nós afazeres e a cuidar das meninas.
_ Eu cuidarei delas como se fossem minhas, Nhá Beatriz. Diz Manuela.
_ Pode deixar Nha Beatriz nos cuidaremos de tudo Diz Castilho.
Confio em todos vocês, por isso, parto com o coração aliviado.
Elas entraram e Castilho vai arrumar a carruagem para levar Beatriz até à vila e a estação do trem. Antes de sair ela abraça suas filhas se despede e diz que voltará em breve, olha para Rita e diz:
_ Rita, Nhá Jacinta e  Manuela ficarão aqui com você...
Cuidem das meninas com carinho e esmero, elas são meu bem mais precioso.
Castilho, está tudo em suas mãos, cuide de tudo, inclusive dos italianos, mantenha tudo em seus devidos lugares...
_ Não se preocupe, cuidarei de tudo.
E dona Beatriz parte para a Capital da província.

Santa Casa de Misericórdia

A baronesa Octaviana pega Gabriel nos braços e se despede fazendo lhe um carinho nas bochechas.
Cumprimenta Catarina e Ayana e parte para o palacete com o coração consternado por não levar o Gabrielzinho consigo.
Catarina e Ayana pegam um coche de aluguel e voltam para pensão.
Ayana está em silêncio e pensativa
Agora que reencontrou Leôncio, como fará para que ele lhe perdoe por não ter sido completamente sincera com ele durante todos os anos em que Samuel a possuía.
Ao chegar a pensão dona Zulmira percebe a tristeza nos olhos de Ayana e lhe pergunta:
_ Você encontrou seu marido, menina?
_ Sim!
_ Como ele está? Você tá tão cabisbaixa que parece que viu um defunto.
_ Não, ele está convalecendo no hospital, não está bem, mas espero que fique bem logo.
_ Por quê essa carinha de choro?
Hoje a menina encontrou seu filho, seu marido e uma dona que é a sua cara, porque essa cara de choro?
_ O senhor Leôncio não sabe do Gabriel. Diz Catarina.
_ Então não diz nada! Pra que fazer o homem sofrer?
O menino não parece nada com você, é a cara da menina Catarina!
Diz Zulmira.
_ Não se pode firmar uma vida ou um amor em cima de mentiras.
Diz Ayana rumando para o quarto.
_ Vôte! Vocês fazem o molho e depois não querem comer!
_ O que a senhora quer dizer com isso, dona Zulmira?
Pergunta Catarina para a dona da pensão.
_ Vocês inventaram essa coisa de você ser a mãe do menino, agora tem que escolher qual dor dói menos. Se conheço minha raça o marido da Ayana só perdoa se ela se livra do menino.
_ Isso ela jamais fará! Ela ama o Gabrielzinho mais que tudo, não abrirá mão dele por nada.
_ Nem pelo amor da vida dela?
_ Creio que não.
Ela já sofreu muito e ...
A senhora sabe como os homens trataram as mulheres escravas.
Leôncio também sabe, não é questão do que ela era obrigada a fazer, a questão é que ela mentiu para ele e, ele pensa que ela nunca o fez. Acho que no final  vai depender do quanto ele a ama, dizem que o amor perdoa...
Comenta Catarina.
_ O amor pode até perdoar, mas um homem ferido é outra história.
Diz dona Zulmira fazendo um bico e sai resmungando.

Maria Boaventura

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