Caminhos da vida

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Caminhos da vida

Capítulo 63

A vida é feita de escolhas.
O ser humano tem esse poder; escolher o caminho à seguir.
Enquanto uns escolhem à vida, o bem...
Outros escolhem à morte e o mal.
O caminho escolhido define o caráter de cada ser, não que não se pode mudar o caminho, porém, essa escolha depende tão somente daqueles que estão seguindo a estrada.

Samuel e Serafim partem rumo à Capital, sua perseguição ao negro Leôncio somente terá o seu fim quando a morte o tomar nos braços levando-o dessa vida.
Leôncio segue seu caminho, agora solitário; perdeu seu amigo de caminhada, mas continua em busca de sua amada e de seu filho que imagina estarem na Capital.
Essa é a razão que o mantém vivo e lutando contra todas às agruras que são impostas a ele.
Miro retrocede e busca dar um novo sentido ao seu caminhar, deixa seu amigo seguir seu próprio rumo e traça uma nova jornada para si.
Agora lutará sua própria guerra; ajudar seus irmãos do quilombo a encontrar uma maneira correta de sobreviverem nesse mundo cruel e racista.
Ayana segue o caminho de volta para à fazenda Esmeralda, lugar onde sofreu todos os tipos de dores e humilhações, onde perdeu a dignidade, os filhos e o único amor de sua vida. Todavia, conquistou amizade e cumplicidade algo que levará para o resto de sua vida.

Ayana precisa ver dona Beatriz e saber algo sobre o paradeiro de Leôncio.
Beatriz sempre foi uma boa amiga para Ayana, sua posição de sinhá e o sentimento que seu marido cultivava pela escrava nunca causou nem um tipo de rixa ou ciúmes, pois tratando do senhor Samuel, não havia distinções entre às duas. O grande senhor Samuel sempre usou do mesmo tratamento com sua mulher e com as escravas, a cor da pele de sua esposa não a deixava menos submissa, a obediência era exigida de todas igualmente.

Quando seu marido forçava Ayana a deitar-se com ele, as duas sofriam as dores e o infortúnio, fazendo com isso a amizade nascer e crescer entre sinhá e escrava.
Duas mulheres de cores diferentes e posições diferentes, escravas de um senhor sem escrúpulos e juízo.

Leôncio tinha conhecimento do desejo e loucura que o senhor Samuel nutria por Ayana, porém, imaginou que após o pai de Samuel dar-lhe Ayana por mulher e proibir- lhe dê tocá-la o senhor Samuel a deixaria em paz...
Samuel obedeceu por algum tempo, casou-se com Beatriz e teve filhos Leôncio casou-se com Ayana e também teve filhos...
Em uma tarde chuvosa, após alguns anos o desejo do senhor da casa se acendeu
Como uma tocha na escuridão; A negra não conseguiu se livrar de seu dono. Dona Beatriz tentou impedir, mas não houve maneira de segura-lo.
Após o ocorrido, as duas mulheres se uniram e combinaram não contar nada para Leôncio" Que sempre foi o negro mais trabalhador e sempre pacato e obediente"
Ele não imagina que o filho de sua amada é também filho do seu maior inimigo...

Capital...

Aurélia está exausta.
Vai até o quarto e medíca Antonella que está febril.
No quarto ao lado a parteira cuida da criança com muito esmero, não arredou o pé de junto do bebê.

- Doutora, a criança precisa se alimentar, o que posso oferecer para alimenta-la?
- Berenice, precisamos de uma ama de leite, a mãe não se encontra em condições de amamentar, pois está muito fraca e febril, não pode, nem deve amamentar nesse momento.
- Vou ver se consigo alguém para dar de mamar.
Sim, por favor!
Consiga alguém rápido.

Aurélia desce as escadas e encontra na sala de jantar a duquesa Leopolda e o duque Otílio de Queiroz, eles estão conversando sobre a filha e a preocupação está estampada em seus rostos.
- Doutora Aurélia, como está nossa filha?
- Senhora Leopolda, Antonella está febril e continua muito fraca.
Estou fazendo o possível para que o quadro mude, são muitos poréns, estamos trilhando caminhos pouco percorridos pela medicina...
Não posso afirmar que tudo ocorrerá bem, temos que orar e aguardar.
- Doutora Aurélia, peço que nos perdoe, depois de tudo que a senhorita fez por nossa filha deveríamos de ter mais confiança em seu trabalho, porém, nossa filha é a prioridade nesse momento, pensando nisso, a pedido de minha esposa, mandei chamar o nosso médico de família.
O doutor Valdomiro Cartter chegará a qualquer momento para examiná-la.

Aurélia cora, sua face fica rubra e uma grande raiva e indignação percorrem por todo seu corpo.
Seus lábios tremem, ela serra os pulsos e sua voz sai trêmula da garganta.
Ela engole seco e diz:
- Conheço o doutor Valdomiro Cartter, é um excelente médico, confesso que o considero retrógrado quanto os avanços que ocorreram na medicina.
Não o culparei se ele chamar todos os médicos da Capital para examinar a cirurgia que fizemos em sua filha, pelo contrário, ficarei honrada com as notícias que sairão nós jornais sobre meu feito e da doutora Letícia.
Será uma alavancada para nossas carreiras...
Aurélia diz isso e só e às escadas com rapidez.
Os pais de Antonella olham um para o outro e questionam entre si.
- Otílio, se o doutor Valdomiro Cartter chamar todos os médicos e contar sobre a cesária de nossa filha, a honra dela estará perdida para sempre!
- Fizemos tudo para esconder essa gravidez, e corremos o risco de sair nos jornais?!
O que faremos?

Eles caminham pela sala cheios de medo e preocupação, vendo a tolice que cometeram.
Antes que tomem uma decisão, alguém bate à porta...

A governanta adentra a sala para anunciar a chegada do doutor Valdomiro Cartter.
- Meu bom amigo doutor Valdomiro, seja bem vindo a nossa casa.
- Muito bom dia, meus amigos.
Tão logo soube do bilhete, deixei todos os afazeres e vim ter com vocês.
Diga-me qual a urgência?
- Bom dia, doutor.
Realmente não estou bem, por isso, mandei-lhe chamar.
Mas, queira se assentar, por favor.
Não é nem uma sangria dilatada, são coisas simples de mulheres...

A duquesa mal fecha sua boca e a doutora Aurélia desce novamente às escadas com as feições sérias.
Todos que estão na sala, mal se assentaram e levantam-se.

- Doutora Aurélia?!
- Doutor Valdomiro.
- Bom dia, doutora.
- Bom dia, doutor.
- confesso que estranho a presença da doutora Aurélia aqui. Ela também é uma amiga da família, ou veio para uma consulta?

A duquesa se adianta na resposta:
- A doutora passou a noite aqui, temos uma criada que não está passando bem de saúde, a doutora a está assistindo...
- Ora, a doutora não foi bem no diagnóstico, por esse motivo chamaram- me?
- Não, imagina.
Eu chamei-o por não ter me sentido bem durante a noite, o doutor sabe de todos meus males e está acostumado com minhas enfermidades, não quiz amolar a doutora.
Desculpe-me doutora Aurélia, mas o doutor é nosso médico de família á anos.
- Não se preocupe senhora, sei que a confiança é tudo entre o paciente e seu médico.

O doutor Valdomiro olha com olhar de superioridade para Aurélia, imaginando ser um profissional muito acima daquela senhorita que era chamada para medicar os criados da casa, ele porém, cuida dos senhores.
Aurélia olha séria para a senhora Leopolda e diz:
- Ah, a febre de sua criada cedeu, estou crente que ela irá superar e se recuperar.
- Graças a Deus!
Diz a duquesa em voz alta...

Maria Boaventura.


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