Prelúdio do medo

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Prelúdio do medo

Capítulo 23

O medo age de várias formas...
Se torna um sentimento destrutivo e esmagador; dependendo da mente em que se instala, esse sentimento é implacável.
Os escravos da fazenda estão temerosos por suas vidas, e as de seus filhos.
Senhor Damião e dona Alma, temem por sua família, pois o ex escravo é um maníaco inescrupuloso...
Senhor Samuel, está com medo das peças que sua mente está a lhe pregar, elouquecer igualmente seu pai, é seu maior temor.
Catarina teme pelo futuro incerto que seu infortúnio causará.
Ayana teme que o pai de seu filho o leve ou o mate.

Leôncio teme não suportar as maldades que lhe são aplicadas.
O escuro daquele lugar fétido.
Não cumprir sua vingança e decepcionar à memória de seus filhos mortos, e por fim, teme não encontrar sua amada Ayana.

O medo surge de modo diferente, porém se faz o mesmo dentro do coração de quem o sente.
Ninguém têm a capacidade de o controlar; isso causa mais medo...

Na Capital.

Rodolfo segue no coche.

Ele está pensativo...
- E se for uma brincadeira de Letícia?!
Se Aurélia não cultivar em seu coração nenhum tipo de sentimento por mim?!
O cocheiro para em frente ao sobrado...
No segundo andar, está tudo no mais profundo escuro.
Rodolfo olha, paga o cocheiro e desce.

Procura pelo chão à fora alguns cascalhos e os atira um por um, até atrás da cortinas cerradas, ver uma luz se acender.

Aurélia estranha os ruídos vindos do lado de fora de sua janela, levanta_se , abre às cortinas e observa um rapaz lhe acenando da calçada.

Ela passa a mão em seu cabelo que está bagunçado pelo curto sono que havia tido.

- Doutor Rodolfo?! O que fazes essa hora a jogar pedras em minha janela?
- Perdoe-me o adiantado da hora, confesso que me sinto um maufeitor, estando aqui frente sua casa.
Se a doutora permitir, gostaria de lhe falar.
- Já estamos nos falando.
- Sim, porém o que tenho para lhe falar é particular, e daqui de baixo a vizinhança todo irá ouvir...
- Claro, perdoe-me a falta de modos.
Entre, por favor!
Melhor, tenho que abrir a porta...
Já desço.
- Aguardarei...

Aurélia vestir-se rápido e desce para abrir a porta;
O doutor lhe sorri timidamente...

- Entre, por favor!
- Com licença.
- Toda.
Eles atravessam o consultório e sobem em uma escada que os leva ao segundo andar.
A sala do apartamento é ampla, com pouca mobília, a cozinha é bagunçada; coisas de pessoas ocupadas...

Ela o convida a assentam-se.
- Diga-me doutor, o que o trazes aqui?
- Bem, o sarau sem a senhorita estava deveras sem brilho. Após uma conversa com sua prima e com Damasceno, vi que todos os lugares onde a doutora não está, não tem brilho algum.
- Doutor Rodolfo, está me deixando desconcertada.
Pode me explicar melhor suas palavras?
- Claro; sem rodeios então.
Eu estou completamente apaixonado por você Aurélia!
Venho tentando sufocar esse sentimento, porém, eu já estou sufocado!
A amo...
Não posso mais fugir desse sentimento.
- Doutor!
- Deixe-me terminar, você roubou meu coração...
- Doutor Rodolfo, minha prima, ela o ama e...
- Ela está namorando meu amigo poeta, Damasceno.
- O que?! Isso não pode ser?
- É a mais pura verdade!

Ela caminha pela sala conversando baixinho consigo mesma.
Ele fica parado sem entender nada...
Ela da meia volta e continua falando baixinho...
- Não acredito, minha prima Letícia me fez essa falseta!
Ficou dizendo: -ele é lindo, inteligente, garboso...

Rodolfo se incomoda em ficar parado sem entender o que ela dizia.
A detém, coloca as mãos em seus ombros...
- Doutora; ouviu o que eu lhe disse?!
Eu a amo, muito.
- Ouvi sim!
- E?!
- E, nada!
- Nada?
- Não, eu gostei do doutor desde o primeiro dia, Letícia; aquela garota mimada...
Ela irá me pagar caro!
Letícia ficou no meu ouvido dizendo sem parar:
_ Ele é meu! Tira o olho!
Não brinca comigo...
Irei arrancar a pele dela e fazer um tambor!
- Aurélia, eu a amo!
Ela olha nos olhos dele e diz:
- Eu também o amo!
Não perdoarei aquela doutorzinha de segunda classe!
Rodolfo vê que Aurélia está indignada com a prima, por deixá-la tanto tempo reprimido aquele amor por ele.

Ele a segura pela cintura, puxa- a lentamente para si, olha lhe na menina dos seus olhos...
O coração da doutora quase sai pela boca, ela vê aquela barba bem feita, aqueles olhos faiscantes; não há como não perder o controle das pernas e dos braços...
Ele a beija no cantinho de seus lábios, a pontinha de seu nariz...
Beija lhe a testa, morde o lóbulo de sua orelha, ela da um sorrisinho...
Ele vem roçando a pele lisa de seu rosto escultural.
Fita seu rosto...
Os lábios se encontram em um beijo ardente e arrebatador.

Maria Boaventura.


Espinhos da LiberdadeWhere stories live. Discover now