Martírio

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Martírio

Capítulo 20

O coração de Rodolfo bate no compasso e seus olhos brilham.

- Ora, pensei que ela amasse esse sacripantas do Damasceno!
- Não, ela está enamorada por você, tenho certeza!
Nunca digas que fui eu quem disse; corro o sério risco de ser uma prima morta.
- Isso virou uma verdadeira confusão, Rodolfo e eu combinamos que Aurélia seria a namorada dele.
- Eu e aurélia, combinamos que eu seria a namorada de Rodolfo e ela sua.
- Por isso, esses encontros estranhos e enigmáticos, vocês médicos, são uma incógnita.
- Digo o mesmo para vocês Advogados.
Que pena!

Damasceno beija a mão de Letícia...
- És a musa esculpida pelos anjos, não consigo tirar o olhar de seus olhos, és a mais bela rosa que o jardineiro do céu plantou.
Agora que sei que seu coração é livre como um pássaro voando na imensidão do infinito... que não está apaixonada por meu amigo, peço-lhe, dá-me uma chance de demonstrar meu amor por ti.
- Estais sendo sincero, ou apenas um poeta?
- Um poeta sincero; Estou apaixonado pela Senhorita e quero lhe fazer a corte.
- Eu aceito!
Eis muito galanteador, senhor Damasceno.
- A Senhorita é uma deusa, bela como a lua.
- Vou sair de perto de vocês,
antes que pegue uma arma e dê um tiro no ouvido.
- Vais logo, meu amigo apaixonado e solitário.
- Ela o ama, tenho certeza!
Diz Letícia para Rodolfo, que sai pensativo para o jardim da casa:
_ Ela me ama! Preciso vê-la agora.

Sai para a rua e pega um coche de aluguel e parte para a casa da jovem doutora.

O negro Mané é arrastado para o moinho de seu novo dono.
Vários homens trabalhando de sol a sol.
O negro se revolta e imagina um jeito terrível de se vingar do senhor Damião.

- Mamãe, posso ver o bebê?
- Sim, não canse a negra ela está fraca, perdeu muito sangue.
- Está bem!
- Também posso?
Diz a menina Selma.
- Vão as duas, mas é coisa rápida.

As garotas entram no quartinho e Ayana segura o bebê.
- Ele é muito lindo!
Qual nome você vai colocar?
- Gabriel, o nome será Gabriel.
- Mas, ele é branco?!
- Selma deixe de ser enxerida!
- Como pode ser? Ele é branquinho.

A escrava olha para a menina e diz:
- Ele puxou ao pai, que é branco feito as nuvens.
- Seu marido é branco?
- Pare com isso, Selma!
Não amofine a Ayana.
- Não está me amofinando menina Selma,
a vida de uma escrava não é como a vida de uma pessoa livre, às vezes, fazemos coisas que não queremos e o resultado cai em nossos braços.

As meninas se calam, o menino chora.
Catarina pede para segura-lo um pouquinho...

Uma vez por ano, senhor Damião leva dona Alma para fazer compras na Capital.
Passou-se trinta dias do nascimento do filho da escrava, ela está bem e o bebê está forte.
O negro que substituiu Mané, é forte e trabalhador, juntamente com Oracio e Bidú trabalha sem dar preocupações para o senhor Damião.
- Amanhã iremos para a corte, vocês cuidem das obrigações!
- Pode deixar nhonhô, vamos cuidar de tudo.
- Ayana Cuide das meninas.
Catarina você é a mais velha e responsável por tudo.
Serão apenas três dias, logo estaremos de volta.
Os dois partem para a Capital...

Existe na natureza cobras astutas e venenosas, elas devem ser mortas e terem suas cabeças esmagadas, até que não reste nenhuma chance de sobreviverem.
Para que não voltem e piquem os calcanhares de quem as matou.

Na primeira noite de ausência dos senhores, um vulto fica a espreita durante parte da noite.
Os cachorros não latiram e os três escravos dormiram um sono pesado durante à noite toda.

Na madrugada, perto da segunda cantada do galo,
Ayana acorda com o barulho de sua tramela caindo ao chão.
Com o susto ela senta-se na cama ; bem ali do seu lado está o Mané com aquele sorriso maligno no rosto.

- Vejam só, o neguinho é branquinho!
É nega, vejo que você gosta de se divertir muito.
Tira toda a roupa, quero você nua inteirinha pra se divertir comigo.
- Por favor, não faça isso comigo...
- Cala sua boca!
Coloca seu branquinho no chão, quero a cama só pra nós!

Ayana pensa em gritar, mas para quem?!
Ela teme por seu filho, obedece e o coloca sobre o cobertor em um cantinho do quarto.
Despe-se, e deita na cama.
O negro a possui até a estafa, quando o dia está clareando, ele se veste.
- Negra, você é uma deusa na cama, se soubesse o quanto de prazer causa em um homem teria uma vida cheia de vantagens, não ficaria sofrendo assim.
Não sei porque o paspalho do nhonhô não aproveita!
Agradeço pela noite mais saborosa da minha vida,
Até agora!
Dizendo isso, ele sorri.
E sai.

Ayana pega o lençol, faz uma trouxa, coloca em sua boca e grita!
O som não sai do quarto;
Da mesma forma que a dor não sai de sua alma.

19/10/21

Maria Boaventura.

Espinhos da LiberdadeWhere stories live. Discover now