Amizades verdadeirasCapítulo 45
O que define uma verdadeira amizade, não são os dias felizes, nos quais, o sorriso nos lábios resplandece espontâneo...
O que define uma verdadeira amizade... é quando o amigo está vivendo dias tenebrosos...
E o libera para partir, mas você insiste em ficar ao seu lado.O dia está amanhecendo...
Leôncio olha para Miro que durante toda a noite gemeu de dor. Sua perna está vermelha e inchada.
- Vou ver se encontro algo para comermos, não se
preocupe, voltarei rápido.
- Tome cuidado, olhe sempre para os lados, podem estar ainda nos procurando.
- Tomarei muito cuidado...
Vê se fica bem!
- bem?! Prometo que não sairei correndo por aí...Leôncio sorri, da dois tapinhas nas costas de seu amigo e sai pisando leve, olhando para todos os lados sempre em alerta para algum barulho estranho.
A mata é densa, perto das margens do rio se faz um bom lugar para encontrar várias frutas nativas. Ele caminha por perto do acampamento para fazer um reconhecimento da área, consegue algumas frutas e volta para junto de Miro.
- Encontrei algumas frutas, come meu amigo. Pelo jeito, continuaremos por aqui até que sua perna melhore.
- A dor é imensa.
Não sei se vou suportar.
- Suportará sim! Após você sarar, sairemos daqui caminhando para a capital.
Você e eu meu irmão...Miro tenta comer, mas a dor o impede...
Leôncio sai mais uma vez para encontrar um abrigo seguro.
Não muito distante, encontra um grande buraco entre algumas rochas. Colhe galhos verdes para camuflar a saída, também recolhe muitas folhas secas para fazer um local de descanso....
Organiza o local e vai buscar seu amigo para que fiquem protegidos e mais seguros.- Já estava preocupado com sua demora, pensei que fora capturado.
- Não, meu amigo.
Encontrei um bom local para nos abrigamos, é perto do rio
e tem uma ótima visão...
Vamos ficar bem.
O difícil vai ser para você chegar até lá...
Segure em meu pescoço e vamos bem de vagar.Miro segura no pescoço de seu amigo e pula com uma só perna, caminham lentamente até chegarem à caverna, sua nova moradia até que Miro se restabeleça.
Miro deita-se sobre às folhas secas e coloca sua perna quebrada sobre um tronco que seu amigo havia previamente posto no local.
Em uma grande folha de inhame, Leôncio traz água para o amigo enfermo.
- Obrigado, meu amigo.
Estou cansado, vou ver se durmo um pouco.
- Durma, vou andar por perto para ver se tem alguém a nossa procura.
- Estamos em maus lençóis, meu amigo.
Não nos restou nada!
- Nunca tivemos nada, e agora nada temos!
Não há muita diferença...
Os dois amigos riem de sua desgraça.Passam-se alguns dias...
A perna está muito inchada.
Leôncio colhe algumas plantas na mata e faz emplastros, e novamente coloca talas para que haja uma rápida calcificação do osso da perna quebrada.Enquanto isso...
Serafim está rondando por todos os caminhos que levam à capital.
Em uma tarde chuvosa ele para em uma estalagem e ouve alguém chamando um negro pelo nome de Leôncio...
Quando anoitece o negro entra em um quarto para repousar, Serafim entra sorrateiramente no quarto e coloca uma faca na garganta do negro.
- Até que enfim te encontrei!
- Quem é você?
Porque estais a minha procura?
- Ora, você deve estar ciente que tem alguém a sua procura, depois de matar o filho de um grande fazendeiro, não há como escapar!
- Não matei ninguém!
Sou cocheiro, trabalho na cidade, nunca trabalhei em fazenda nenhuma!
- Quantos anos você tem?
- Vinte cinco, olha meus papéis .
O negro Serafim não tem leitura, mas o negro que está com o pescoço em sua faca é deveras jovem para ser o Leôncio que ele está a procurar...
- És um negrinho de sorte...
Hoje você vive.Retira a faca do pescoço do negro, um filete de sangue vermelho escorre no travesseiro sujo que está sobre a cama coberta por lençóis encardidos.
Ele segura a garganta e senta-se na cama com seu coração acelerado.
O negro Serafim limpa o corte da faca, da um sorriso desdentado e sai do quarto como se nada tivesse acontecido.Anteriormente no sítio...
A porta da senzala se abre, os Negros se põe sobre seus pés e logo vem para o lado de fora.
- Tenho algo sério para lhes dizer.
Ontem fiquei sabendo de algo que me deixou sem chão.
O mascate disse-me que já faz algum tempo que a princesa Isabel deu a todos os negros liberdade...Os negros pulam de alegria.
Seu Damião fica sem jeito e seu tom de voz vai mudando conforme ele repete as mesmas palavras:
- Escutem- me, quero lhes fazer uma proposta, por favor; quero lhes fazer uma proposta...
Os negros ficam em um estado de estase tão grande que não dão-lhe ouvidos, após uns minutos de euforia...
- Calem- se, agora! Vocês não me ouvem? Se calem, agora!
O negros se aquietam... Em silêncio, passam a prestar atenção a conversa do senhor Damião.
- Pois bem, como havia dito, a princesa lhes deu a liberdade.
Se vocês quiserem ficar aqui no sítio trabalhando, irei pagar-lhes um salário mensal...
Ou vocês podem irem embora daqui com suas liberdades.
Vocês escolhem, mas façam isso rápido, pois se forem embora irei até à vila para contratar trabalhadores para me ajudarem na colheita.Os três negros olham um para o outro, Oracio olha nos olhos do menino Bidú, para o outro negro companheiro de labuta e diz:
- Senhor Damião, irei embora agora mesmo, se os outros quiserem ficar, respeitarei suas vontades...
Sempre fui escravo, agora me é dada a liberdade...
Tenho que sair por essas estradas e seguir para aonde meus pés me levarem.
- Eu vou junto com com o Oracio, quero ser livre, quero ver outros lugares, preciso encontrar minha mãezinha, diz Bidú chorando.
- Eu não tenho para onde ir, se o senhor me der o que comer e um dinheirinho no final do mês, eu fico!
- Oracio, Bidú.
A vida será madrasta com vocês aí à fora.
Fiquem, por favor.
- Não posso, sou velho e não vivi nada da vida. Vou voar por essas estradas.
- Eu vou com o Oracio!
- Lhes peço que fiquem até o término da colheita, depois vocês partem com algum dinheiro nos bolsos.
Sairão sem nada agora.
As portas da senzala serão sem tranças, vocês terão comida e camas...
Oracio olha para o menino Bidú e imagina a vida dura que terão pela frente se saírem nesse momento.
Pensa e pondera, no final, resolve ficar até o término da colheita.O tempo é um beija flor.
Bate suas asas rapidamente.
Dois meses se passam voando.Na mata...
Leôncio e Miro lutam para sobreviverem com o mínimo possível... A perna de Miro está bem melhor, ele já caminha mancando com a ajuda de uma furquia embaixo de sua axila, uma ajuda providenciada por seu fiel amigo...
Na Capital...
Sem ajuda do Estado e com a escassez de colaboradores, Aurélia e Letícia passam a atender somente casos urgentes e a prestarem auxílio em partos de mulheres da alta sociedade.
A baronesa Octaviana às apresentou para uma grande parte das senhoras abolicionistas da sociedade da capital.
Por serem médicas mulheres,
Sua clientela vem crescendo consideravelmente.A baronesa e o doutor José Jerônimo, assumem seu romance. O casal negro vem causando buchichos meio a um grupo seleto de pessoas mais abastadas da alta sociedade burguesa.
O que não incomoda de maneira nenhuma o casal apaixonado.Na fazenda Esmeralda...
Samuel termina sua colheita, mesmo tendo passado por interveios, consegue entregar todos seus grãos de café.
Serafim continua procurando Leôncio...
Sem encontrar mais nenhuma pista, retorna à fazenda para prestar contas para o senhor Samuel.
Dona Beatriz continua triste e arredia, suas filhas são sua prioridade, o marido continua vivendo lapsos de memória e de quando em vez, é pego falando sozinho.No sítio...
A gravidez de Catarina está chegando ao fim, ela conversa muito pouco.
Lágrimas de seus olhos tecem um caminho contínuo até sua face desbotada e pálida.
Ayana é sua única companhia,
A jovem abraça sua amiga, que a consola e lhe diz palavras de carinho.
O menino de Ayana já está dando os primeiros passinhos, isso traz alegria para todos...
A colheita acabou e Oracio despe-se da família, pois partirá de manhã juntamente com Bidú.Maria Boaventura.
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CZYTASZ
Espinhos da Liberdade
HistoryczneApós a abolição da escravidão, muitos escravos libertos se viram sem rumo, sem perspectiva. Saíram sem nada, a não ser, suas vidas errantes pelos caminhos desconhecidos do destino. A liberdade tão sonhada, transformou-se em espinhos. Uma nova, velha...