Império x Republica

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Império x República


Capítulo 44

Capital...

Logo após terminarem o jantar, a baronesa conduz seus convidados para a área externa de seu palacete. A noite está belíssima, as estrelas cintilam no céu...  nuvens se escondem para que a perfeição reine única e plena.

- Querida Aurélia, fiz de um tudo, mas infelizmente não consegui  marcar vossa audiência com a princesa...

- Confesso que me sinto decepcionada, imaginava uma solução para esse tão grande impasse que atormenta os dias de agora. Não há remédio que cure esse descaso com a população menos favorecida.

Diz Aurélia, com pesar em seu coração, por imaginar que terá que fechar seu consultório por falta de medicamentos. A população negra e pobres serão os únicos prejudicados com a total falta de apoio da parte dos governantes.

- Minha querida Aurélia, realmente, não consegui... na verdade, o império está ruindo. Há um grande alvoroço no palácio, dizem que a coroa deixará de ser o regime.

Republica é sem duvidas o novo regime, esse atual imperialismo, não subsistirá
por muito mais tempo...

Doutor José toma a palavra e discorre sua ideia sobre o assusto:

- Acredito que essa mudança de regime ocorrerá muito em breve, ouço buchichos o tempo todo; creio que  não tardará o dia em que teremos um novas leis regendo esse país. A republica vencerá o imperialismo!  Reis não mais subjugarão a população. Chegou o tempo em que o povo governará, não há mais lugar para ideais retrógrados! A república tem que prevalecer...

- Creio piamente que o povo nunca governará, e quem pagará o pato, sempre será a classe baixa, agora engrossada pelos escravos libertos...

Diz Rodolfo, imaginando que a justiça não é deveras justa com os menos favorecidos.

- A coisa tende a piorar drasticamente, não há como socorrer a todos! Temo que a saúde publica se tornará um verdadeiro caos!

- Minha querida prima Leticia, a saúde publica sempre foi um caos.

Creio que doravante, somente piorará, infelizmente...
Não há como evitarmos.

Fala doutora Aurélia, com pesar no coração.

- Nesse regime iminente, quem governa é o povo!

- Meu amigo, poeta Damasceno, o povo nunca governa! São iludidos por promessas e palavras bonitas, quem verdadeiramente governa, é a nata da sociedade. Nós relés cidadãos, somos peças de um tabuleiro, sempre guiadas pelos jogadores!

Não importa o regime em que estamos, sempre seremos governados; nunca governantes.

- Estou amando nossa reunião, vejo mulheres, homens e negros conversando com naturalismo sobre politica e outros assuntos diversos. A pouco tempo atrás seria-nos impossível tratar desses assuntos com liberdade e com igualdade...

Olhando agora ao redor, penso que a igualdade e a liberdade, um dia muito em breve reinarão por todos os cantos desse nosso amado país...

Me sinto orgulhosa por fazer parte dessa linda transição.

Aurélia levanta-se e caminha até a baronesa e lhe da um forte abraço. A baronesa está deveras emocionada com esse novo sentimento de igualdade que está nascendo nos corações...

Apesar que, a realidade depois dos portões de seu palacete está muito distante daquilo que ela possa imaginar...

Aurélia está decepcionada, não vê uma forma de continuar com seu atendimento aos negros e pobres, porém não há o que fazer, o jeito é prosseguir fazendo o possível e o impossível...

O jantar foi expendido.

A baronesa os acompanha até a porta, os dois casais se despedem e descem às escadarias até alcançarem os coches de aluguel.

Doutor José Jerônimo, olha para aquela linda negra sorridente.

Ela lhe sorri e diz com a sua voz aveludada.

- Estava ansiosa por conhece-lo, imaginei ser o doutor, um homem agradável e educado.

Confesso que o doutor superou minhas expectativas...

- Fico lisonjeado com suas palavras, apesar de estar um pouco constrangido.

Posso lhe fazer um pedido?

- Todos quanto quiseres.

Diz a baronesa, com seu olhar de céu estrelado.

- Gostaria de jantar comigo?

- Marque o dia e a hora.

José Jerônimo, sorri e beija a mão da baronesa.

- Lhe mandarei o convite.

- Aguardarei ansiosa.

Ele pega a mão de Octaviana para se despedir, ela segura sua mão e aproxima-se de seu rosto... dá-lhe um beijo no rosto e diz: - Gostei de você doutor Jose Jerônimo!

- É recíproco baronesa!

Os dois sorriem, e se despedem.

No coche...

- O titio está apaixonado! Olhem o rosto dele! Ele corou-se?

- Não me apoquentem.

- Tá sim, tá apaixonado...

A partir daquele jantar, o amor nasce no coração da baronesa Octaviana e do doutor José Jerônimo...

Na mata...

Ai, ai! Acho que está mesmo quebrada. Dói muito. Meu deus! Dói...

- Venha meu amigo, segure em meu ombro, vamos sair da água.

- Está bem, será que os capangas não irão nos encontrar?

- Não pense nisso...

Leôncio segura seu amigo pelo meio do corpo e o ajuda a sair do leito do rio.

Eles haviam caminhado por mais de cinco horas, os capangas perderam seus rastros a muito tempo e retornaram para a fazenda.

Como o regime de escravidão não é legal, todo tipo de perseguição a qualquer negro é ilegal, sabendo disso, não há porque perder tempo com os negros que fogem, bem mais pratico é arrumar novos desavisados.

Porém, Leôncio e Miro não tem ciência de que não estão mais sendo perseguidos...

Vendo que a noite se aproxima, Leôncio busca arrumar um abrigo para que ele e seu amigo fiquem escondidos e seguros.

Sem nenhuma ferramenta, quebra galhos verdes e faz um esconderijo provisório. Miro geme de dor...

- Consegui alguns cipós e cascas verdes de arvores, com essas folhas de palmeiras, farei uma tala para imobilizar sua perna quebrada. Sinto muito, é o melhor que pude fazer...

- Não se preocupe, vou aguentar...

Leôncio coloca o osso no lugar, a dor é tanta que Miro perde os sentidos...

Ele se condói por seu fiel amigo, porém crê que seja o melhor... faz uma tala com o que conseguiu coletar na natureza.

Após terminar de concluir o amarrilhado, deita-se próximo a seu amigo, aquecendo-o. A noite está deveras escura, ambos tremem pela humildade que o sereno espesso causa às noites eternas que se fazem na mata fechada.
E em total silêncio, ouve a canção noturna que é orquestrada pela mãe natureza... mitos e lendas vem lhe à cabeça, lembranças da vida escrava e das dores intensas que os últimos tempos tem lhe afligido...
Ayana... aquele sorriso meigo toma conta de seu coração.
- Quando a verei meu amor?
Vou encontrá-la, nem que seja a última coisa que faça nesse mundo cruel!
Após lágrimas descerem torrenciais de seus olhos,
tenta adormecer...

Maria Boaventura

Espinhos da LiberdadeWhere stories live. Discover now