Fúria

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Fúria

Capitulo 28

A águia liberdade, abre suas grandes e alvas asas, ao sol daquela manhã de fevereiro.

As nuvens escuras se dissipam, o sol radiante beija a pele negra e suada, os ferimentos; causados por séculos de segregação, saram ao toque majestoso de sua estrela central.

A liberdade alça seu voo...

Afia suas garras e às crava no corpo do pássaro negro; chamado escravidão. O corvo se debate, tentando se livrar de seu iminente fim.
Ouve-se por todos os lugares seu grito agonizante de dor...

Os olhos dos filhos da mãe África choram e cantam de alegria, pelos grilhões que caem ao chão...

E a águia branca vence o corvo negro!

Ajuntando seus filhos embaixo de suas asas.

Os soldados ficam aguardando a saída de todos os negros da fazenda.

Miro está sendo amparado por dois irmãos de pele, suas costas estão sangrando pelas chicotadas que estava recebendo.

Seus olhos estão cheios de lagrimas; não pela dor que está sentindo, mas pela felicidade de sair daquele terrível sofrimento.

Ele se detém frente ao capitão da guarda, seu corpo está severamente tremulo e sua voz quase não se ouve.

Ele ajoelha-se e seus amigos ajoelham-se junto com ele.

- Capitão, que Deus lhe pague! Hoje seria o dia de nossa morte, e chegastes trazendo a vida... seríamos mortos sem piedade, nos trouxestes a liberdade.

Deus lhes pague.

Os olhos daquele homem se enchem de lagrimas, ele segura Miro pelo braço o ajudando a se levantar.

- Eu sou quem lhe abençoo, Deus cuide de você e da sua raça! Não esqueça de agradecer à princesa Isabel, ela foi a vossa redentora.

Vão, saiam desse lugar maldito.

Negros, jovens e velhos saem em procissão. Uns sorriem, outros choram, tanto de alegria, quanto de tristeza, pois a incerteza do futuro é sua nova inimiga.

Senhor Samuel está sentado em uma cadeira no alpendre seus olhos cospem brasas vivas, seu cérebro revira-se dentro de sua cabeça...

Duas horas após a chegada da guarda nacional, já não havia mais nenhum negro em Esmeralda.

- Bom, senhor Samuel.

Já cumprimos nossa missão e estamos de partida. Não levarei em conta seus desatinos contra meu regimento, e também contra nossa regente.

Deixo-lhe de aviso, que se o senhor ou seus capangas forem atrás dos negros e os trouxerem de volta, contra a vontade deles, serás preso e julgado, por rapto, cárcere e apropriação indébita, entre outras acusações.

Não há mais escravidão! Todos nos, negros e brancos, somos iguais perante a lei.
Coloque em sua cabeça que de agora em diante, não há distinções entre as raças, terás que respeitar nossos irmãos de cor!
Espero não ter que retornar em sua fazenda, dessa vez para levá-lo a prestar contas.

Passar bem!

Todos montam em seus cavalos e rumam para a próxima fazenda.

Mal saem e seu Samuel perde as estribeiras.

Ele olha o pelourinho vazio, a senzala vazia e não vê nem um negro por perto para descontar sua raiva.

- Castilho, pegue os cavalos nós vamos buscar aqueles filhos do demônio! Vamos arrastá-los, puxa-los por cordas, vamos!

O que estais esperando?

Vai!

- Sinto muito patrão, o senhor ouviu o capitão.

Os negros não são mais sua propriedade, eles são livres.

- Você está discutindo minhas ordens?!

Venha aqui! Vem já!

- Sinto muito, é a lei.

De agora pra frente, se bater ou matar um negro pode dar até forca.

Sinto muito. Não vou me arriscar.

- Maldito! Está despedido!

- Eu irei, mas não vou lutar contra a coroa.

- Vocês aí, vamos logo atrás dos negros!

Os capangas olham uns para os outros e maneiam a cabeça, em um sinal negativo.

- Seus desgraçados! Estão todos dispensados, demitidos! Sumam daqui!

- Iremos agora, porém, o senhor nos deve nossos salários!

-Passem aqui à tarde, acertarei com todos!

Os capangas vão para os dormitórios arrumarem seus pertences.

As meninas de dona Beatriz, choram por verem que suas amas e mucamas partiram acompanhando a multidão, sua mãe tenta acalma-las e chora junto com as filhas.

- Faça essas suas filhas se calarem, Beatriz!

- Tenha dó de suas filhas, elas estão sentidas, afinal, todas as escravas partiram.

Samuel caminha de um lado para o outro e fica cada vez mais irritado.

Em um ímpeto de fúria, pega o reio que traz nas mãos, levanta e segue em direção às filhas.

- Não se atreva, Samuel! Não vais bater em suas filhas!

Sua mulher tenta o impedir de cometer uma besteira, ele está possesso pelo ocorrido, não para.

Beatriz se coloca na frente das meninas, que estão chorando e gritando de medo do pai.

Ele empurra sua mulher ela cai sentada no chão de pedras polidas da cozinha.

Ele cego e enfurecido, abaixa-se e a balança com uma considerável força, a deixando sem sentidos.

A solta e vai maldizendo para a sala.

Suas filhas chamam pela mãe, quando ela recobra os sentidos, seu vestido está lavado de sangue...

Seu filho de pouco mais de um mês acaba de ser morto pelo próprio pai.

Já é perto do meio dia, os negros caminham sem rumo, por haver alguns feridos, eles resolvem parar próximo a um rio para beberem água e descansarem.

Uma negra mãe de duas crianças, aproxima-se de Leôncio que deitou embaixo de uma frondosa arvore e suas feridas estão sendo lavadas pelos companheiros.

- Leôncio, o que faremos? As crianças tem fome.

Ele abre seus olhos com dificuldade, e entre meio à uma respiração ofegante, diz:

- Nós temos que ir para o quilombo, não sei quanto tempo, nem se haverá comida para todos.

- Então, para que serviria a tal fuga? para que serve essa tal de liberdade? É para as nossas crianças passarem fome?

Vou voltar e pedir perdão pro nhônho, vou levar meus filhos para comerem!

- Não faça isso, Glória! Seus filhos vão continuar sendo escravos para o resto de suas vidas!

- Você fala isso, porque não tem mais filhos!

- Exatamente, seu nhônho matou todos os meus filhos, e quem garante que ele não matará os seus?

A negra senta-se embaixo da arvore, abraça seus filhos e chora...

3/11/21

Maria Boaventura.

Espinhos da LiberdadeWhere stories live. Discover now