Encontro inesperado
Capítulo 51
Na Capital...
A felicidade toma conta do coração do doutor José Jerónimo e da baronesa Octaviana; para pessoas tão amáveis e acolhedoras, nada melhor que dividir essa felicidade. Logo após uma conversa com seu futuro esposo, combinam de oferecerem um jantar para comemorar o enlace. Um jantar íntimo com poucos convidados...
Na vila...
O silêncio se faz companheiro dos dois ocupantes da carroça, Seu Damião vive um dilema, o mulatinho que acabara de deixar na roda dos enjeitados, é seu neto, filho de sua filha, isso o está consumindo por dentro.
Há uma luta acirrada em sua mente, metade do sangue que corre nas veias do menino é herança sua, e essa metade grita que o que ele permitiu que se fizesse com o mulatinho é deveras errado, mas como obrigar sua pobre filha a conviver com a lembrança de tudo o que passou nas garras daquele monstro?!
Seu coração está confuso e partido.
Ayana, por sua vez, não concorda com o ocorrido, em sua mente o que fizeram com o pobre bebezinho é deveras desumano e cruel, pois a criança não é culpada pelos erros cometidos pelo pai.
Duas cabeças, duas sentenças!
A mulata Manuela, ou Manu para os íntimos, ainda não está convencida que a mulher que o doidinho viu tenha sido Ayana, o cérebro do moleque sempre lhe prega peças e a mulher que ele disse ter visto, poderia não ser a mulher de Leôncio.
Ao chegar ao barraco onde mora com o doidinho Juvenal e com a negra velha, nhá Jacinta, Manuela diz:
- Nhá Jacinta, o doidinho me disse que viu Ayana colocando uma criança na roda dos enjeitados, será que isso é verdade, ou é mais uma doidura dele?
- Vôte! Não acredito que a menina Ayana colocasse um filho na roda, não mesmo!
Ainda mais depois de ter seus três filhos mortos, não é ela não!
- Também pensei, mas o Juvenal falou com tanta convicção que dei crédito para as loucuras dele.
É, Doidinho, você é doido mesmo!
O Senhor Damião passou na mercearia e no armazém para vender seus grãos de café, Ayana ficou o aguardando sentada sobre a carroça.
Um homem vem a cavalo e passa lentamente ao lado da carroça e fixa seu olhar sobre a negra que baixa a cabeça tentando esconder o rosto. O cavaleiro passa por ela e logo após, volta novamente.
- Ayana, o que fazes por aqui? Pensei que estivesse na Capital.
Não havendo maneira de fingir que não era com ela, olha com um olhar altivo e diz:
- Castilho, não fui ainda para à Capital, por enquanto!
- Então seu marido Leôncio perdeu tempo indo tão longe, sendo que você estava logo aqui.
- Leôncio! Sabe dele? Por favor, me diga como ele está, aonde ele está?
Juro que pensei que o senhor Samuel o tivesse matado.
- São muitas perguntas, mas te digo que ele foi para à capital já faz muito tempo.
Ele também teve muita sorte, senhor Samuel estava com a arma engatilhada quando a guarda chegou...
Por onde anda seu negrinho?
Você estava buchuda quando deixou a fazenda...
- Não tenho negrinho algum! Mas diga-me, sabe mais alguma coisa sobre Leôncio ?
YOU ARE READING
Espinhos da Liberdade
Historical FictionApós a abolição da escravidão, muitos escravos libertos se viram sem rumo, sem perspectiva. Saíram sem nada, a não ser, suas vidas errantes pelos caminhos desconhecidos do destino. A liberdade tão sonhada, transformou-se em espinhos. Uma nova, velha...