A baronesa

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A baronesa

Capitulo 41

O amor e a paixão, andam de mãos dadas pelos labirintos do coração.

Até chegarem em uma encruzilhada...

Que lado seguir? Dedicar-se em cultivar a alma e o espirito, florescer mansamente, como floresce à primavera, enchendo-se de sensações profundamente eternas...

Ou, dedicar-se ao sentimento supérfluo da carne, que se limita em prazeres momentâneos que se vão sem deixar saudades...

Baronesa Octaviana viveu um grande amor duradouro, seu falecido marido, um barão branco; lutou contra toda uma sociedade racista e escravocrata para viver seu grande amor... Infelizmente, a vida não usou de benevolência com o casal, após dez anos de convivência, a morte o levou, deixando sua amada a lutar sozinha contra a tal sociedade cruel e separatista...

- Boa noite meus amigos! É para mim uma grande alegria recebe-los.

Aurélia, Rodolfo como vocês estão?

- Baronesa, estamos muito bem, e felizes pelo seu bondoso convite.

- Estava sentido saudades de boa companhia...

Vamos, apresentem-me essas pessoas lindas que os acompanham!

- Desculpe-me, baronesa! Essa é minha prima, doutora Leticia, esse é o doutor damasceno o namorado dela e também sócio do doutor Rodolfo, por fim, e não menos importante; doutor José Jerônimo Munhoz, ele é o meu tio.

- Muito prazer! Sou apenas Octaviana para os amigos e já me sinto íntima de todos vocês...

Vamos, se assentem e tomemos um licor.

Todos se assentam em grandes poltronas douradas e iniciam uma boa prosa, não a falta assuntos interessantes para a anfitriã e seus convidados.

- Então esse negro esbelto e sorridente é seu tio, um antigo escravo que foi adotado e educado por sua família, Aurélia?

- Sim, esse senhor, doutor e magnifico homem é meu tio. Digo que ele é um grande advogado e amante de nossa causa...

- Eu fico imensamente honrado com as palavras da baronesa e de minha sobrinha, porém, amo responder sobre minha trajetória.

As belas damas podem estender a mim todas perguntas cabíveis, ou não, responderei com o maior prazer.

- Vejo que o doutor é um excelente palestrante; isso é deveras muito bom!

Conte-me sua história, fascino-me com a trajetória de vida dos negros que estudaram, se formaram e venceram, de certa maneira, a discriminação e a segregação, imposta pela escravidão.

- Me será um prazer compartilhar minha história de vida com uma dama tão inteligente e bela.

- Fico grata pelo magníloquo elogio.

O mordomo chega com o licor, serve em taças de cristais, variados petiscos são postos sobre a mesinha de centro...

Aurélia está sentada ao lado de Rodolfo, suas mãos estão sempre entrelaçadas e seus olhares emanam o amor que sentem um pelo outro.

Da mesma forma, Leticia e Damasceno estão sentados juntos em uma poltrona para dois lugares, seus olhares e sorrisos dizem que o amor está no ar.

O doutor José Jerônimo, entre sorrisos e gestos, conta com detalhes sua trajetória na fazenda Ouro Negro, lugar em que viveu quando criança e também o lugar em que recebeu sua liberdade...

- É a mais pura verdade, coloquei pulgas e percevejos no colchão de palhas daquela negra... a mãe de Aurélia é uma mulher magnifica! Nem todos os adjetivos do mundo conseguem suprir o encanto daquela dama...

A baronesa está encantada com seus novos amigos, principalmente com o doutor José, a alegria e seriedade que emanam daquele negro é um balsamo para todos os que o rodeiam.

- Senhora, o jantar está servido: diz o mordomo.

- Vamos, nos assentemos à mesa para o jantar.

Doutor José, levanta-se e educadamente oferece seu braço para a baronesa, que aceita e sorrindo caminham juntos para à sala de jantar.

Estalagem...

Ao meio dia chega um homem de servis fechada, bem vestido e com um excelente argumento em seus lábios.

- Quem de vocês gostaria de trabalhar para o senhor Abílio de Novaes? A colheita de café começa amanhã e ele oferece dois vinténs a diária, mas somente para os negros que forem fortes e trabalhadores, eles terão que ficar até o termino da colheita, somente quando acabar poderão partir...

- O que você acha Miro, vamos?

- Você é quem sabe meu amigo! A pressa é sua. Em qualquer lugar que eu esteja, me é bom.

- Senhor, quanto tempo provavelmente demorará a colheita? _ pergunta Leôncio para o contratante:

- Pra mais de mês, são vários alqueires...

Alguns homens que se encontram no local, decidem acompanhar o homem para a tal fazenda, muitos são italianos. A oferta de trabalho para vários dias é uma boa maneira de granjear uma quantidade maior de dinheiro, assim eles não têm que ficar de fazenda em fazenda buscando trabalho.

Um carroção parte cheio de trabalhadores...

Miro olha para Leôncio. Os dois vêm o carroção partindo:

- Não sei, parece-me que estou com um mau pressentimento!

Diz Leôncio...

- Mau ou bom, não temos um vintém!

- Então vamos! Não vejo saída, sem dinheiro não chegamos nem na curva da estrada.

- Ei, esperem por nós!

E saem correndo, e entram no carroção.

Duas horas depois, chegam à fazenda.

Na porteira há um vigilante armado com uma espingarda, no pátio da sede vários homens armados.

Todos são levados para a antiga senzala e após verem às acomodações...

- Descansem, amanhã logo pela madrugada a lida começa!

O homem sai, e logo após a porta da senzala é trancada com um grande cadeado em correntes grossas.

Os homens olham uns para os outros e seus corações pulsam descompassados...

Maria Boaventura

Espinhos da LiberdadeWhere stories live. Discover now