A caça e o caçador

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A caça e o caçador

Capitulo 72

Há momentos na vida que o homem é sugado pela abstração de seus sentimentos, levando-o ao ápice da razão; às vezes da loucura.

O amor transforma-se em ódio; a paixão em desespero; a alegria em tristeza e a felicidade deixa o brilho do sorriso e converte-se em amargor e melancolia.

A frustação de Samuel, por não conseguir ter o que mais desejou em sua demente vida, o amor de Ayana. Essa obsessão o faz deixar a esposa e as filhas para correr atrás de uma vingança sem sentido, pois Leôncio não usurpou a mulata do seu senhor, foi o coração dela quem escolheu o escravo negro, pobre e simples para amar.

O imenso egoísmo de Samuel, sempre o separou da felicidade que sua família lhe trouxe. Para ele, o amor de Ayana não poderia ser de outro homem _ que ela fosse do negro, tivesse filhos com ele, se casasse com ele, mas jamais poderia o ter amado!

Eu a amo e ela tem que me amar! Tem!

Possuir seu corpo, nunca foi o bastante para Samuel, ele queria seu coração, sua alma.

A chuva dá uma pequena trégua, a cozinheira pega um cobertor surrado e manda seu filho levar até o coberto onde Leôncio esta repousando.

- Vai lá meu filho, leva esse cobertor para aquele negro que deve estar morrendo de frio.

- Tá garoando ainda, mamãe.

- Coloque algo sobre a cabeça e vai! Faz o que estou mandando, vai logo!

- Já vou!

O menino pega o cobertor e sai pisando na lama espessa do quintal.

- Ô, negro! Mamãe mandou te trazer esse cobertor!

- Esse negro tem nome! Meu nome é Leôncio.

- Quer o cobertor, ou não?!

- Dê-me.

O menino volta resmungando e escorregando na lama da mesma forma que veio.

Leôncio se enrola aquecendo-se.

Mal acaba de encolher-se e ouve um tropel de casco de cavalo.

- Quem vem ai?

- Olá, sou Bartolomeu! Venho trazer meu animal para dormir no curral, estou hospedado na estalagem.

- Boa noite, Bartolomeu. Sou Leôncio, como pode ver, estou hospedado aqui no curral.

- Noite chuvosa...pois é, era escravo da fazenda da Baronesa, agora sou livre e recebo salario para guiar a carruagem da fazenda...

Bartolomeu é um negro simpático e falante em pouco tempo Leôncio ficou sabendo que os negros do quilombo que seu amigo Miro estava, foram agraciados com parte das terras da Baronesa, isso o deixa muito feliz.

Entre uma conversa e outra, ele conta algumas coisas que lhe aconteceu na Fazenda Esmeralda e que procura por sua esposa e filho.

O negro cocheiro se comove com sua saga triste e se despede desejando lhe sorte em sua busca pela família.

Bartolomeu sai e a chuva torna a engrossar.

Após a refeição, o negro cocheiro vai até o quarto que pernoitará, ao chegar no quarto, vê que a segunda cama está ocupada por um mulato sisudo e de dura cerviz.

- Boa noite, companheiro!

- Boa noite! Responde Serafim, mostrando os dentes falhados e podres.

- Que chuva forte, não é mesmo?

Espinhos da LiberdadeWhere stories live. Discover now