A venda

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A venda

Capítulo 19

Fazenda Esmeralda...

Passam-se alguns dias e as regras de dona Beatriz não descem.
Ao se deitar ao lado de seu marido ela eufórica lhe diz:
- Samuel meu marido, acho que estou grávida!
Já tem para mais de quinze dias de atrasado, até agora nada, e sabes que sou um relógio pontual.
Deveras estou muito feliz.
- Esperemos que dessa vez se vingue.
- É o que mais quero meu marido.
Ela deita nos braços de Samuel, ele está aéreo; ultimamente, vem tendo pesadelos horríveis.
O rumo que as coisas na Capital estão tomando, vêm lhe tirando o sono, quando dorme, os pesadelos o atormentam...

Quando anoitece...
Na escuridão da senzala Miro arrastasse pelo chão sujo, aproximando o máximo possível de Leôncio para conta-lhe algo que ouviu o senhor Samuel conversar com dois coronéis vizinhos.

- Leôncio, tenho algo a lhe contar.
Sussurrou-lhe no ouvido.
- Diga-me o que é.
- Ouvi o senhor Samuel debatendo com dois vizinhos dele.
Estavam dizendo que na Capital está havendo um verdadeiro pandemônio.
As ruas estão sendo invadidas por pessoas pedindo para que a princesa Isabel nos dê a liberdade.
- O quê?!
Me diga o que mais ouviu sobre isso.
- Eles disseram que a princesa está querendo assinar uma tal de carta que vai livrar nós tudo.
- Meu Deus, meu Deus!
Que assim seja.
Quando eu for um homem livre, vou mandar enforcar esse maldito senhor Samuel!
Vou atrás da minha amada Ayana e do nosso filho, ele já deve estar quase nascendo.
- Você não deve de sonhar tão alto.
Espera que tem mais.
Eu ouvi eles dizerem, muito bravos, que se tiver essa tal libertação, eles vão matar todos os seus negros!
Se não receberem o que gastaram com a gente, que preferem ver todos mortos, do que livres.
- Desgraçados, infelizes!
Eles serão capazes de fazer isso mesmo conosco.
Depois que você me contou que já faz muitos anos que nossas crianças nascem livres, e eles não dizem nada.
Eles fazem de conta que não há lei nenhuma!
Eles vão mesmo nós matar para nunca sermos livres.
- Não diga isso! Então é melhor nos fugirmos logo, pois
Essa tal liberdade pode ser a morte certa!
- Se não fosse esses ferros, eu estaria muito longe!

Eles ouvem passos do lado de fora da senzala, se calam e ficam matinando ideias sobre fuga.

Anteriormente na rua do comércio escravo...

Senhor Damião coloca o escravo Mané para a venda.
Ele é um negro forte e saudável, logo aparece um comprador interessado na peça.

- Quanto queres por esse negro?
- Qual o preço que ele vale para ti?
- Dou-lhe, três contos de reis por ele
- É deveras pouco, quero cinco!
- Cinco contos?
Só podes estar brincando!
Ele tem a boca cheia de ouro?!
- Ora, cinco é um preço justo.
- Deixe-me olha-lo...

O comprador abre a boca do negro, aperta-lhe o braço, olha-o dentro dos olhos:
- Ti dou quatro e cinquenta por ele.
- Ele é seu!
- Está bem, só lhe darei essa quantia porque estou precisando de um negro forte e sadio para mexer o taxo de melado da minha fábrica de rapaduras.
- Negócio fechado!

O negro quando ouviu que iria trabalhar em uma fábrica, que provavelmente não existia mulheres no recinto, ele implorou para que o senhor Damião mudasse de idéia.

- Nhonhô não me venda!
Pelo menos para ele, me venda para uma grande fazenda com muitos escravos, por favor!
Nhonhô eu preciso de muita gente.
- Cale-se! Negro insolente.
Vê se pode?!
O negro quer escolher seu próprio dono!
O mundo está por um fio mesmo.

O negro fita senhor Damião com olhos de cão acoado, em sua mente ele máquina uma terrível vingança.
Mané é puxado pela corrente que está em seu pescoço, seu novo senhor não é nem um pouco  concedente com sua última aquisição.

_ Livrei-me daquele negro devasso, vou comprar um outro para ajudar na lida.
E assim, senhor Damião procura um escravo mais velho, porém saudável e forte.

Na Capital...

Passa-se mais de um mês

- Letícia minha prima, hoje estou muito cansada não sairei com vocês, prefiro dormir.
Amanhã estou muito assoberbada e essas noites de passeatas e colar cartazes, estão me matando.
- Não há como deixar de ir, O sarau será na casa de um riquinho filho de Papai, abolicionista.
Ele está colaborando com todo o tipo de ajuda possível.
Você não poderá ficar em casa, muito menos para dormir!
- Não só posso, como vou!
Hoje não sairei nem arrastada.
- Aurélia, diga-me a verdade, o que há contigo?
Andas sempre tristonha pelos cantos; não pense tu que não estou a ver.
- Não é nada, apenas muito cansaço...

Não houve maneira de convencê-la a  ir ao sarau.

Ao chegar, Letícia encontra seus amigos advogados.

- Doutor Rodolfo, dou-lhe um conto de reis por seus pensamentos.
Rodolfo sorri e diz:
- Estou deveras cansado.
Nossa regente, princesa Isabel
não toma uma posição concreta sobre a abolição da escravatura.
Esses jantares, saraus, passeatas e revoluções não nós leva a lugar nenhum.
Estou muito cansado.

- Senhorita Letícia, ao olhar para meu estimadissimo amigo e posso imaginar qual o motivo desses olhares no infinito.
Hoje faltou-lhe alguém que faz os seus olhos brilharem, seu coração palpitar e seus lábios sorrirem...
- Damasceno, queres me envergonhar perante a senhorita Letícia?!
- É verdade Rodolfo, minha prima Aurélia causa-lhe esse descompasso todo?

Ele fica acabrunhado, bebê uma taça de licor, coloca o copo sobre a mesa e diz:
- Sinto muito Senhorita Letícia, não queria a magoar, mas deveras não consigo mais fugir, estou completamente apaixonado por sua prima Aurélia.
- Magoar-me? Então pensas que eu o amo?
- Ora, tenho notado sua atenção dispensada a mim...

Letícia sorri e diz:
- Quando nós conhecemos, disse para Aurélia que, deixasse o doutor para mim.
Vejo que ela levou isso a risca;
Tenho notado que ela anda tristonha e sei o motivo, paixão, amor.
Ela está perdidamente apaixonada!
- Senhorita Letícia, eu peço desculpas, não queria aflorar esse sentimento em sua prima, a tenho somente como amiga.

Letícia sorri:

Não aflorastes nada!
Ela pode não admitir, mas está perdidamente apaixonada por nosso amigo doutor Rodolfo.

Ele sorri:
- O que você diz é verdade?!
- A mais pura verdade!

19/10/21

Maria Boaventura

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