Doutor José Jerônimo

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Doutor José Jerônimo

Capítulo 54

Na Capital...

Todos estão felizes com o noivado da baronesa Octaviana e do doutor José.
Eles são pessoas amabilissímas, ambos engajados na causa dos negros, são excessivamente zelosos pelos menos favorecidos; por terem vivenciado na pele, e verem pessoas pretas sendo tratadas como objeto de compra e venda, peças de de algo inútil, sem nenhum valor.
O casal luta contra o racismo estrutural que está sendo vivido em seus dias, e que permanecerá enraizado nos corações de muitos, mesmo se passando várias gerações.

Doutor José Jerônimo foi comprado pelo dono da fazenda Ouro Negro, localizada em uma cidadezinha chamada, São Gabriel. O negrinho Pitú, como era chamado na época, Sempre foi um menino esperto e desenvolto, sempre com seu sorriso de dentes branquinhos...
Logo conquistou o coração de sua sinhazinha, ela, mãe da doutora Aurélia, recebeu a fazenda Ouro Negro por herança quando seu pai faleceu. Deu liberdade para os seus escravos e mudou a visão de muitos fazendeiros da localidade. Casou-se com o filho de um barão seu vizinho e logo após, adotou Pitú.
Dando-lhe o nome de seu pai, estudos e muito afeto e amor.
O jovem foi para à universidade destacando-se perante mais de trinta estudantes brancos e filhos de pais abastados. Sempre obtendo notas impecáveis, sofrendo todos os tipos de preconceitos vexatórios.
Mesmo assim, conseguiu se formar, sendo o primeiro aluno da turma. Seus professores tiveram que se curvar a sua inteligência e sabedoria...
Nós dias de hoje, advoga para brancos e negros, sempre dando prioridade em extirpar as injustiças sofridas por sua raça. Ele é conhecido nós tribunais como; O implacável!
A injustiça não prevalece em suas causas e a lei se curva ante seus insignes argumentos. Por isso, todas às causas improváveis e impossíveis de serem ganhas, caem nas mãos justas e honestas do doutor José Jerônimo, Pitú para os amigos e familiares.

Sítio...

O dia amanhece e Ayana vem logo cedo ver como está a menina Catarina.
Ao chegar a porta do quarto, vê ela deitada com os olhos abertos, olhando fixamente para o teto.
- Bom dia, menina! Como se sente nessa manhã?
- Bom dia, Ayana. Estou bem,não sinto quase nenhuma dor, porém não consigo comer, me dá um nó na garganta e a comida não desce de forma alguma.
- Isso vai passar logo, trouxe para você um chá de algodoeira, vai te ajudar com essas dores, é para beber um gole e banhar-se. Muito em breve você não terá mais lembrança alguma do que lhe aconteceu.
- Ayana, você acredita mesmo que não terei recordações do que me aconteceu?
Que quando eu for me deitar todas as noites a imagem daquele negro, e daquele menino afundando no rio saírão da minha mente?
Creio que isso é improvável de acontecer...
- Deixa o tempo agir, ele é o melhor remédio, nós faz esquecer de quase tudo e também nos faz perdoar e demos perdoados.
Não aflija esse coraçãozinho, minha pobre menina, pense em Deus e peça a ele que te ajude a perdoar e esquecer.
Catarina se levanta e vai até a janela, com um olha triste e pesaroso, olha fixamente para o céu e diz:
- Espero que possa ser perdoada e me perdoar.
- Espero de todo coração que esse perdão venha logo, pois quero ver aquela menina alegre sorrindo novamente.
Catarina caminha para onde está Ayana e à abraça fortemente e se põe a chorar compulsivamente.
A mulata a abraça e acaricia seus cabelos e conforta o coração estraçalhado daquela pobre menina.

Senhor Damião adentra à cozinha e diz para sua esposa:
- Estou saindo para a fazenda Esmeralda, se precisar de algo, peça para o João que ele faz.
- Vais fazer o que Ayana te pediu?
- Sim, vou pesquisar como andam às coisas por lá, tão logo saiba de algo, venho de volta.
- Tome cuidado, você conhece o senhor Samuel e sabe que ele sofre da mesma loucura do pai.
Ele matou os três filhos da Ayana sem pestanejar.
Você tem que ter alguma desculpa para ir até lá.
- Já pensei nisso, Vou dizer a ele que estou precisando de trabalhadores para preparar a terra para o plantio, perguntarei se ele não tem alguns para me ceder.
- Boa ideia, meu marido...

E assim, senhor Damião parte para a fazenda Esmeralda.

Fazenda Esmeralda...

Umas dez horas da manhã, Castilho vem conversar com o senhor Samuel.
- Bom dia, patrão.
- Bom dia, Castilho.
Você marcou a reunião que te pedi com os italianos?
- Sim, ao meio dia o chefe do grupo junto com alguns membros estarão na senzala para a reunião.
- Não há jeito para mim, darei minhas terras em porcentagem para eles, não quero mais me estressar, continuarei com você e mais uns dois capangas para vigiarem a fazenda e fiscalizar as colheitas; não confio nesses italianos, eles falam demais, sei que me roubarão, mas o que fazer...
Não quero mais nenhum negro dentro das minhas terras, nunca mais aqui em Esmeralda haverá trabalho para essa corja!
- O senhor da muito bem!
Dando suas terras a meieiros o à porcentagem, acabarão os aborrecimentos.
Ahh, tenho algo a lhe contar.
- Pois diga logo.
- Ontem fui à vila ver minha enrabichada, Manu.
- Andas atrás daquela mulata?
- Não há jeito, a mulata é uma deusa, muito safada.
Mas o que quero lhe contar é que vi Ayana mulher do Leôncio.

Samuel empalidece, seu semblante decai, apertando os punhos e tentando se recompor pergunta com uma voz trêmula:
- Ela estava sozinha?
- Sim, estava sobre uma carroça, me perguntou por Leôncio.
- O que você respondeu?
- Que após a libertação ele foi para à capital.
- Não deverias ter contado isso à ela.
- Ela nem imaginava que ele estivesse vivo, pensava que o senhor o tinha matado...
- Isso em parte é verdade, pois vou matá-lo muito em breve!
Você viu a criança?
- Não, mas tive notícias dela, o doidinho viu Ayana colocando a criança na roda dos enjeitados...
- A negra deve estar desesperada, passando por privações; acho bom, pois escolheu ser escrava em vez de...
Castilho fica em silêncio aguardando que Samuel termine a frase, porém, ele fica parado com sua mente bem longe dali.

Maria Boaventura.

Espinhos da LiberdadeWhere stories live. Discover now