Lembranças do passado

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 Lembranças do passado

Capitulo 73

Na Capital...

Para todos os lados que se olhe, a miséria é vista, sentida e também vivida pelos escravos libertos, não há como negar que a libertação não foi planejada e realizada como teria que ser.

Sem senhores, sem empregos e sem um teto sobre suas cabeças, milhares de negros estão vivendo muito abaixo da linha da miséria. Para os negros que optaram por migrarem para as cidades, não lhes restam outra alternativa a não ser, aceitarem qualquer tipo de empregos e salários; sapateiros, serventes de pedreiros, ferreiros, carroceiros... muitos aprenderam novos ofícios, outros optaram por regressarem para o continente africano.

As mulheres negras, servem nas casas como lavadeiras, arrumadeiras, cozinheiras, muitas das vezes, são tratadas por seus patrões como prostitutas, pois o machismo e senhorismo da época, tende a persistir por décadas...

No coração e na mente dos senhorios da época, os negros servem apenas para trabalhos duros e pesados, isso, e a falta de conhecimento, educação e preparação técnica, dificultam a inserção do negro em melhores campos de trabalho...

Para aqueles que não estão jogados nas ruas e calçadas, resta-lhes os cortiços e as invasões dos morros aos arredores da capital.

Pouco tem-se feito para sanar o problema, às autoridades imperiais têm em seu conhecimento o caos que está sendo vivido pela nova sociedade de cidadãos que se formou após à libertação, porém, enquanto a população recém liberta geme de dor, fome e descaso, seus regentes preocupam-se apenas com os murmúrios e buchichos sobre "a realidade que não tardará acontecer, o fim do Império e o início da Republica"

Os olhos de Ayana se deparam com olhos chorosos e amedrontados de sua raça que está por todas às partes por onde ela passa.

Catarina está com Gabrielzinho em seus braços, enrolado em um fino cobertor que está aplacando um pouco do chuvisqueiro frio que vai e volta esporadicamente.

Após uma longa caminhada e a passagem por lugares estreitos e desconhecidos, o cocheiro para o trole em frente a uma grande casa de madeira lascada.

Ele ajuda as duas senhoras a descerem, e adentra o recinto iluminado por algumas velas e lamparinas.

- Dona Zumira! A senhora está em casa?

Diz o cocheiro, em voz alta.

- Tô aqui na cozinha, já saio!

Um minuto depois, sai de trás de uma cortina encardida de tecido de carne seca, uma mulata gorda toda suada e esfregando as mãos molhadas em um pano, também encardido.

- Negro João, como vai você?

- Vou bem, Zumira! O senhor Paulo lá da estação, pediu pra senhora hospedar a senhora aqui, o filhinho dela e a moça que toma conta do menino. Ele disse pra senhora fazer um precinho bom para elas.

- Ham! O senhor Paulo sempre me arruma confusão! Imagina, ele sabe que eu cobro um preço bom de todos meus fregueses, se alguém escuta isso, vai sobrar para mim.

Qual seu nome senhora?

- Meu nome é Catarina, esse é o Gabriel e ela é minha amiga e babá, Ayana.

- Vocês estão com sorte, hoje saiu um freguês agorinha e tem um quarto, mas só tem uma cama.

- Não tem problema, nós daremos um Jeito.

- Vem comigo, vou mostrar o quarto.

Vou arrumar um colchão pra vocês jogar no chão. Aqui na pensão da Zumira tem jeito pra tudo!

Espinhos da LiberdadeWhere stories live. Discover now