Desejo de vingança

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Desejo de vingança


Capitulo 36

Fazenda Esmeralda...

O dia acaba de amanhecer...

Senhor Samuel está sentado em seu alpendre, seus pensamentos estão em seu pesadelo.

Na visão de seus filhos mortos e amontoados... o sangue vermelho e sua esposa com os olhos vazados... mas o que lhe aflige é a bela negra Ayana... a recordação das tardes em que a possuiu fazem com que seu sangue ferva.

Como uma mulher intensa e linda daquela forma, pode pertencer a uma raça tão inferior?!

Ele imagina que poderia ser diferente, se esses negros imundos não fossem, em tal grau; imensamente ignorantes! O cheiro da pele daquela negra ainda é sentido por suas narinas... Ele a segurando pelos punhos fechados... os lábios carnudos dela serrados... e o prazer que sentiu...

- Não, não poso me recordar daquela mulher infame!

Samuel se levanta da cadeira e chama Castilho:

- Sim senhor! Gostaria de algo?

- Sim! O maldito Leôncio está trabalhando na fazenda Rio do Ouro, quero pega-lo, mas não posso deixar rastro, sei que você não quer se meter com a lei...

Conhece alguém que possa me ajudar?

Posso pagar bem para quem me acompanhar.

- Senhor Samuel, eu prefiro ficar longe de encrencas, pois já fui preso por algumas coisas no passado, agora tenho que me comportar.

A cadeia não é meu projeto de vida.

Se o senhor me der o dia de folga, irei à vila, conheço alguém que pode te ajudar.

- Pois vá! E me traga esse ajudante; preciso com urgência.

- Claro, irei o mais rápido possível.

Fazenda Rio do Ouro...

O dia demorou a passar mais que de costume...

Leôncio e Miro terminam a jornada do dia, eles vêm para à sede da fazenda para receberem a paga pelo dia trabalhado.

- Vocês dois voltam amanhã para mais um dia?

- Sim, senhor! Amanhã bem cedinho nós estaremos aqui.

- Sim patrão! Nós voltamos.

- Tudo bem, aqui está o pagamento dos dois.

- Obrigado senhor!

Os dois negros saem para o rumo da porteira e seguem a estrada de terra batida.

A noite enluarada e fresca, se faz convidativa para que os amigos caminhem por horas a fio.

Já é quase meia noite, eles param perto de um rio e adormecem embaixo de uma grande arvore.

Fazenda Esmeralda...

A tarde se faz turva quando Castilho chega com um mulato de feições fechadas; um capitão do mato, sem escrúpulos, que não sente nenhuma misericórdia da sua própria raça, por alguns contos de réis ele matava, picava e até cozinhava... se assim fosse preciso.

Serafim era seu nome, o dito cujo não tem sobrenome: - Nunca precisei ter sobrenome! Dizia ele após um sorriso de dentes podres e faltosos...

- Senhor Samuel, esse é o Serafim, ele fara tudo que o Senhor mandar.

- Está bem, deixe-nos à sós...

Samuel explica-lhe seu desejo por um  fim à vida de Leôncio, prometendo-lhe um bom dinheiro, o mulato sorri e aceita o negócio. Ficando acertado que na manhã seguinte os dois partirão para à fazenda Rio do Ouro.

O dia amanhece e Miro e Leôncio prosseguem sua caminhada.

- Tenho certeza que Ayana está na capital.

- Meu único pensamento, é o que faremos quando chegarmos lá?

Como vamos encontrá-la em uma cidade tão grande?
Vai ser o mesmo que encontrar uma agulha em um palheiro!

Nós dois nunca vimos um lugar desses, como faremos?

- Deus a de nos ajudar! Ele sabe o quanto minha nega e eu já sofremos nesse mundo, não podemos sofrer mais, não podemos!

As estradas estão cheias de pessoas negras, eles estão temerosos pela nova lei "De vadiagem" mesmo assim, não há como não encontrarem grandes procissões pelos caminhos.

Há negros que procuram pelos quilombos, mesmo sabendo que estão abarrotados.

Há aqueles que voltam para às fazendas de origem, imploram perdão à seus antigos donos e voltam ao regime de escravidão, só que agora é uma escravidão consensual.

A liberdade tornou-se algo tão desprezível, que lhes é bem melhor voltarem ao cativeiro...

São seres humanos extirpados da sociedade, a cor os torna suprimidos, desmerecidos e indignos...

Lá pelas dez da manhã Samuel e Serafim chegam à fazenda de seu amigo.

- Bom dia, meu amigo João Paulo!

- Samuel, muito bom dia!

Vieste por aquele negócio que te falei?

- Sim! A mercadoria ainda está por aqui?

- Está no eito...

Se achegue e vamos tomar um cafezinho.

Os dois apeiam e depois de um dedo de prosa, Serafim vai para o cafezal fazer uma tocaia para pegar o negro quando ele tivesse saindo do serviço, logo à tardezinha.

- Eles costumam dormir em um paiol lá pelas bandas da roça.

Meu amigo, faça tudo às escondidas, apesar das leis sempre nos apoiarem, não se sabe se alguém poderá te acusar.

Meu amigo não a de querer passar anos na prisão por causa de um porco preto daqueles?!

- Deveras, não pretendo passar momento algum preso por causa daquele estrume!
Logo após concluir essa empreitada sei que poderei dormir em paz...
Aquele negro não pode viver e nem respirar o mesmo ar que eu respiro.
Já deveria ter o matado a muito tempo, mas queria vê-lo sofrendo muito!
Aí vem essa tal libertação e o tira da mira da minha arma?!
Não posso admitir!
Hoje ele morre, só não bebo o sangue do maldito para não me contaminar com essa raça nojenta!
- Seu ódio é deveras forte!
Essa raça pensa ser algo nesse mundo.
Pobres infelizes...
Creio que daqui alguns dias, todos estarão implorando para voltarem a escravidão.
Ou voltam, ou morrem de fome...
Vou sentir uma imensa satisfação!
- Depois que matar o negro Leôncio, não mais terei negros em minha fazenda, não vou mais aturar essa raça preguiçosa e maldita!
- Faz bem, meu amigo!
Faz bem...

Maria Boaventura

Espinhos da LiberdadeWhere stories live. Discover now