Ventre livre

44 7 22
                                    


Ventre livre

Capítulo 10

Apesar da luta contrária da grande maioria, houve um avanço significativo no ano de 1871.
Perante a luta acirrada dos abolicionistas e a pressão popular que agia em favor dos negros, a partir dessa data todas as crianças negras  nascidas seriam livres; A lei do ventre livre.
Os dias atuais, que são no ano de 1887 Mesmo não aceitando, não querendo, todas as crianças com menos de desesseis anos nasceram livres.
E perante a lei não poderiam ser tratadas como escravas.

Os fazendeiros, barões e a nata abastada burlavam às leis, mantendo as crianças cativas, se quisessem ficar junto com seus pais, porém o trabalho não era remunerado. Diziam eles, que todo negrinho teria que trabalhar pela comida que consumia.

Os trabalhos eram menos forçados, mas constantes...

O senhor Samuel fez questão de esquecer que ao matar os três filhos de Leôncio e Ayana cometeu assassinato triplo, pois tirou a vida de pessoas nascidas livres...

O que poderá lhe trazer grandes transtornos quando o escravo Leôncio recuperar seu senso e sua memória...
as agruras presentes têm deixado o leão interno do negro amarrado ou adormecido.
Ele é, e sempre será um relés escravo" Enquanto não houver a libertação" .
Seus filhos eram pessoas livres, e essa condição é passiva de um crime horrendo segundo a lei.

Muitos escravos para manterem seus filhos junto à si, deixavam seus donos abusarem de tal liberdade garantida pela lei.
Em Esmeralda não se fazia diferente, senhor Samuel por baixo da capa de cordeiro tinha um lobo astuto e feroz.

Os filhos dos escravos trabalham sem remuneração, ele vê que sendo deveras pacífico e os deixando construírem famílias o ganho será imenso, pois não há mais escravos jovens para comprar, a lei do ventre livre garante a liberdade de todas às crianças geradas de pais cativos.

A escravidão vem se afunilando, deixando os escravocratas quase sem saída para que seus cafezais e algodoais sejam plantados e colhidos.

Damião chega apressado e grita sua mulher.
- Alma venha cá, preciso falar com você!
- O que foi meu marido, pra que ficar tão afoito assim?!
- Perguntei para ti se não haveria problema de deixar a negra dormir junto com aqueles negros, você disse-me
Que não.
Chegando lá no mato ouço o Mané rindo-se e dizendo para os outros negros que violou a escrava a noite inteira.
- Misericórdia!
Por isso que ela tá com cara de poucos amigos.
- Se ela contar para o senhor Samuel, nós estaremos em maus lençóis, e agora?
- Não podemos deixá-la dormir mais lá.
- Essa noite você coloca a negra para dentro da casa, isso até que saia o quartinho para ela.
- Você deu um corretivo no negro?
- Dei deveras, espero que ele se comporte, se não, vou castra-lo!
- Tens rasão, se for preciso castra ele.

No Rio de janeiro, Capital do império...

Ultimamente todos os dias são um grande alvoroço, estudantes e militantes abolicionistas estão vivendo o verdadeiro clímax da rebelião contra o racismo.

No ano de 1881 embarca para a Europa duas jovens senhoritas, elas são primas, filhas de duas famílias abastadas que cultivam café de excelente qualidade.
Moradores de uma pequena cidade do interior chamada " São Gabriel" Mandaram suas filhas para o exterior para que realizassem seus sonhos de cursarem medicina.

Aurélia Nóbrega de Munhoz
Letícia Castro de Assis.
Duas belas jovens, inseparáveis.
Foram criadas por pais abolicionistas, que promoveram uma grande mudança na redondeza onde vivem, dando a liberdade aos seus escravos anos antes de haver qualquer tipo de esperança que isso pudera acontecer.
Vendo a impossibilidade de concluir no Brasil seus sonhos, onde as portas somente se abrem para os do sexo masculino.
Às jovens estudaram e se formaram  em medicina com honras na Europa.
Aurélia é inteligente e linda, dizem que puxou a mãe.
Letícia tem os mesmos atributos. Formadas à poucos meses, estão de volta ao Brasil
para exercerem a medicina, o que será uma árdua batalha, pois médicos do sexo masculino são mais bem quistos pelos pacientes que podem pagar.
Elas estão engajadas na luta contra a escravidão e a quatro meses consultam e atendem negros e pessoas pobres, o que deixa suas famílias muito orgulhosas.

Maria Boaventura

8/10/21

Espinhos da LiberdadeWhere stories live. Discover now