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Coringa🎭

Fiquei a noite inteira pensando no tiro que eu tinha dado no Caio, eu confesso que não me arrependo, mas também confesso que foi no calor do momento. Fui atrás dele, nós discutiu porque ele tava querendo se achar melhor que eu e tomar parte do meu lance com a Lua, eu acabei perdendo a cabeça e puxando a arma da cintura, logo em seguida o gatilho e gastei a última bala que tinha nele, a sorte dele foi essa, se tivesse mais acho que eu descarregaria na cara daquele mala! Mas foi até bom, se com um tiro minha cara ficou queimada lá imagina se eu tivesse matado?

Seria foda poder ir visitar a Lua depois de uma daquela, mas acabei arriscando quando ela enviou uma mensagem falando que estava mal e logo em seguida uma foto com a maior cara de doente. Fiquei meio suspeito de pisar o pé naquele lugar no dia seguinte do acontecido, mas acabei indo e quase me fodendo, a rua  tava cheia de polícia, até a Bope tava no meio, dei sorte de passar batido, se me parassem eu ia acabar morto, nem preso seria!

Fui na cabeça que o porteiro ia embaçar comigo, mas quando cheguei na portaria a Lua tava lá me esperando com uma aparência muito melhor do que a da foto. O senhorzinho me olhou todo desconfiado, mas também não disse nada, me tratou com educação e eu tratei igual! Mas se me tratasse de outra forma também não teria problema, eu ia ficar na minha e usar a educação que a coroa e o meu pai sempre me deu.

Coringa: Tá sentindo o que? -segurei a mão dela.

Lua: Não é nada, mas tô sentindo que eu não tô bem.-deu de ombros.-Eu nem descansei depois do que aconteceu, quando voltei para casa depois de ver o Caio caído no chão eu passei mal.

Coringa: Não aguentou ver o sangue.-ela olhou para mim.-A polícia foi chamada no hospital quando ele chegou lá?

Lua: Sim, mas eu dei um jeitinho dele mentir, só para salvar a sua pele.-semicerrei os olhos.-Você paga o jantar em troca do meu querido favor.

Coringa: Interesseira.-ela me deu um tapa.

Lua: Já vou logo avisando, quero comida japonesa.-neguei com a cabeça.

Coringa: Ih, nem vem com esses seus bagulhos! Quero comer comida crua não, não tô ficando doido.-ela riu soltando a minha mão.-Se eu quiser comer peixe cru eu compro e faço em casa.-ela apertou o botão do elevador.

Nunca fui de comer esses negócios, sempre fui de comer alguma coisa que enche a barriga e primeiramente que esteja cozido ou assado, aquela parada de comer comida crua não era comigo, isso era invenção de gente preguiçosa, era só pegar o peixe temperar e comer, nunca na minha vida que eu ia encostar um negócio daquele na minha boca.

Lua: Não repara muito na bagunça, é que eu passei o dia todo deitada na cama e acabei não arrumando algumas coisas que estava desorganizada.-abriu a porta do apartamento e eu sinceramente não vi bagunça nenhuma, acho que só tinha sido o modo de falar mermo.

Coringa: Tô vendo nada bagunçado aí, tá tudo arrumado.-ela olhou para mim semicerrando os olhos.-Tô falando sério, e eu nem sou acostumado com a bagunça pra você vim dizer que é por isso.

Lua: Você me ilude de todas as formas.-revirei os olhos entrando para dentro e ela fechou a porta.

Coringa: Meu papo é de futuro.

Lua: De boca sim, de atitudes não.-respirei fundo e ela negou com a cabeça.-Não quero brigar, te chamei aqui porque eu queria ficar com você, sem discutir.

Coringa: De boa.-fui indo até o sofá e sentei.-Maneirinho aqui.

Lua: Eu sei, também admito que tenho bom gosto.-colocou a mão na cintura convencida e eu revirei os olhos.-Vou pegar o celular.-deu as costas indo para o outro cômodo e eu aproveitei para tirar a arma da cintura, coloquei em cima da mesinha que tinha ali e joguei o casaco por cima.

Coringa: Vou virar professor.-falei e ela apareceu na sala com o celular na mão.

Lua: Por que?

Coringa: Rende muito mais dinheiro que o tráfico.-ela negou com a cabeça.

Lua: Isso não é só com o dinheiro do meu salário. Eu não sou uma filha bancada pelo pai, mas ele me mima as vezes.-deu de ombros.-Salário de professor é ruim, pelo menos o meu! Eu faço mais pelo amor, se fosse pelo dinheiro eu já teria desistido.

Coringa: Deve ser foda fazer algo que gosta.-ela concordou com a cabeça sentando do meu lado.

Lua: Qual era o seu sonho antes de entrar para o tráfico, e qual é o seu sonho agora? -respirei fundo sem saber o que responder e ela continuou olhando para o celular.

Coringa: Eu nunca fui de pensar muito nessas parada, mas antes de eu entrar pro tráfico eu queria ser policial.-ela olhou para mim.-Mas tem certas situações que é foda de engolir, e foi isso que aconteceu.

Lua: O que aconteceu e o que é foda de engolir?

Coringa: O pai do Lucas, ele tava envolvidão com uma mulher de um pm, o cara descobriu e matou ele.-sorrir fraco.-Foi aí que eu fui perdendo a admiração e totalmente o rumo da minha vida.

Lua: Sua história é totalmente pesada, e eu sinto muito pelo seu irmão.

Coringa: Já passou, isso foi a quinze anos atrás.-dei de ombros.

Lua: Tudo bem, mas você ainda não respondeu qual é o seu sonho de atualmente.-passei a mão na cabeça.-Se não quiser falar não tem problema, eu paro de curiosidade.

Coringa: Não é nada de mais, mas é algo impossível. Meu maior sonho é ter meu pai de volta, mas é bem foda porque eu sei que isso não vai acontecer mais.-passei a mão no rosto tentando disfarçar o olho cheio de lágrimas.-E o teu? -mudei de assunto.

Lua: Qual era o meu sonho e qual é ele agora? -concordei com a cabeça.-Meu sonho antigo era casar e ter filhos, agora continua o mesmo, porém eu já tenho outro pensamento, já passei perto de um e sei que não é tão fácil como eu imaginei que seria. Tem que ter muita maturidade para entender que não é só querer, tem que se esforçar para acontecer.

Coringa: Não prometo casar e te dar a vida que cê merece, mas se nossa relação fluir acho que você consegue metade disso.-ela se virou para mim.-Casamento no papel e na igreja não rola porque cê sabe como sou encrencado, mas rola aliança e o filho.-ela semicerrou os olhos.

Lua: Tudo vai do respeito.-deu de ombros.-Não tô querendo lembrar do meu passado, mas eu usava aliança com Caio, a gente fez festa de noivado e várias outras coisas como o casal perfeito e a vida perfeita, mas não tinha o respeito entre nós, e isso ninguém sabia.

Coringa: Isso significa que o respeito vai muito além do que uma aliança no dedo? -ela concordou com a cabeça.-Nunca usei aliança com alguém, mas eu respeito a pessoa quando assumo algo sério.

Lua: Se você diz, eu vou acreditar.-deu de ombros.

Coringa: De boa. Pede logo uma parada aí pra nós comer, tô com fome e cê sabe que eu não posso passar da hora de comer.

Lua: Por que não? Você é alguma criança por acaso? -se aproximou mais de mim.

Coringa: Sou um neném pô, posso tá passando da hora de comer não, nem de dormir.-neguei com a cabeça e ela riu.-E pelo meu horário tá na hora de mamar agora.-passei a mão no peito dela.-Ou se quiser nós pode fazer ao contrário.

Lua: Você é muito safado, Diogo.-segurou a minha mão e colocou de volta no meu colo, com a safadeza em mente eu peguei a mão dela e passei por cima do meu pau.-Para de provocar.-riu puxando a mão e eu fiquei provocando até ela levantar e ir para a sacada fazer o pedido.

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20/15

No MorroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora