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Lua🌙

Me virei de um lado para o outro na tentativa de dormir, mas a minha mãe insistindo no assunto da minha gravidez e querendo saber sobre o Coringa não me deixou descansar. Amanheci com o rosto cheio de olheiras, quase indisfarçável, mas pelo menos quando eu levantei a mesa do café tava pronta, e só foi o tempo de eu ir lavar o rosto para começar a atacar tudo que tinha ali.

Catarina: Você tá grávida mesmo? -concordei com a cabeça e ela respirou fundo.-Como isso foi acontecer?-olhei pra ela fazendo cara de óbvio.-Mas você sempre se cuidou direitinho.-deu de ombros.

Lua: Eu sei, eu sempre usei anticoncepcional, camisinha e sempre evitei fazer da maneira errada.-dei de ombros.-Mas quando é pra acontecer, já era.

Catarina: Você tem noção de como um filho muda a vida de uma pessoa? -concordei com a cabeça.-Você gosta de trabalhar, ama mais o trabalho do que a sua vida pessoal. O pai do seu filho é um tremendo desconhecido praticamente, deu tempo de fazer filho e não deu tempo de você me apresentar.-respirei fundo.

Lua: Aonde a senhora quer chegar com essa conversa? Eu conheço ele o suficiente..-comecei a falar e ela me interrompeu.

Catarina: Um filho não é uma coisa boa pra sua vida agora, você não sabe o quanto você vai ter que parar de trabalhar para dedicar toda a sua atenção, fora que você é muito nova pra ser mãe.-disse a mulher que me teve aos 18.-Eu tô falando isso porque eu conheço a responsabilidade que você vai ter que ter.

Lua: Não importa o quanto eu vou ter que parar de trabalhar, e também não importa se eu tô muito nova ou não pra ser mãe, se eu fiz eu vou assumir a minha responsabilidade.-ela ficou me olhando.

Catarina: Você fala assim porque acha que a responsabilidade é pouca, mas eu garanto que não é! -se inclinou um pouco na mesa.-Eu não me arrependo de forma alguma de ter tido você, você é tudo pra mim, mas se a minha mãe me desse a oportunidade que eu tô dando pra você agora, eu com toda certeza do mundo agarraria.-franzi a testa sem entender.-Hoje em dia existe várias clínicas de aborto extremamente segura, e eu tô aqui pra te apoiar.-abri a boca pra responder e ela se levantou.-Independente da escolha do seu namorado mistérioso, pense por você, o que é melhor pra você.

Lua: Mãe, eu não vou abortar..-comecei a falar e ela me interrompeu mais uma vez.

Catarina: Se aceitar que essa é a melhor opção pra você eu tô aqui pra te apoiar. A responsabilidade do filho é toda pra mãe, você sabe muito bem, tem um exemplo de como o seu pai pouco se fode pra você enquanto eu tô do seu lado sempre! Se aceitar a proposta, você mesma pode inventar que sofreu um aborto espontâneo ou algo do tipo, homens não entende disso.-falou na maior cara de pau e eu ri sem acreditar.

Lua: Eu tô rindo aqui de nervoso, sem querer acreditar que a minha própria mãe tá querendo que eu aborte o meu filho.-levantei.-Eu não vou abortar o bebê que eu tô esperando, e se eu tiver que criar ele sozinha eu crio! Eu não vou abortar porque eu simplesmente preciso fugir da situação de responsabilidade, nada disso.-neguei com a cabeça.-Você querendo ou não, ficando do meu lado ou simplesmente contra mim, eu não vou tirar o bebê que eu tô esperando. Nem pra fugir da responsabilidade, e muito menos com medo do pai fugir do papel dele, e se isso acontecer eu tô aqui, pronta pra cuidar dele com todo amor e carinho do mundo.

Catarina: Você é impossível, de forma alguma consegue me entender.-negou com a cabeça.-O cara nem tem tempo pra conhecer a própria sogra, imagina quando você colocar essa criança pra fora? Acha que ele vai ter tempo pra você? Você acha mesmo que ele vai parar de trabalhar ou de fazer sei lá o quê, pra te ajudar com as suas responsabilidades?

Lua: Não é que ele não tenha tempo pra conhecer a própria sogra, eu que tô tentando evitar esse encontro porque eu conheço muito bem a manipuladora que a senhora é.-ela fez uma cara surpresa.-Eu odeio te tratar com falta de respeito, mas infelizmente as vezes a senhora pede por isso. Você não respeita as minhas escolhas, e é por isso que eu não quero que você conheça o Diogo.

Catarina: Quem não deve não teme, se não me apresentar não vai saber se eu vou gostar ou não.-cruzou os braços.

Lua: Ele não é quem você pensa que é, empresário, médico ou herdeiro. Ele é totalmente difefente disso tudo que você coloca como homem perfeito.

Catarina: Não tô conseguindo te entender.-negou com a cabeça.

Lua: E nem vai, você não consegue me entender e não sabe respeitar as minhas escolhas! O Diogo é uma escolha que você com toda certeza do mundo é contra, e eu não quero de jeito nenhum que você estrague o que a gente tá conseguindo ter.-ela revirou os olhos.

Catarina: Eu só quero se você seja mais específica! Eu respeito sim as suas decisões, só não apoio porque é totalmente infantil.

Lua: Desde quando tomar a decisão de não abortar, de não viajar e deixar toda a responsabilidade pra trás é atitude infantil? Isso é atitude responsável, significa que eu assumo todas as minhas responsabilidades sem fugir delas.

Catarina: Me diz o que você e o Diogo mistérioso tem de futuro pra oferecer a essa criança? -me encarou.-Você, uma professora de escola pública, e ele sei lá o quê.-deu de ombros.-Que futuro essa criança tem?

Lua: Não acredito que tá me rebaixando porque eu não quero fazer a sua vontade, que no caso é abortar uma criança inocente que não tem nada a ver com a minha falta de responsabilidade.-neguei com a cabeça.

Catarina: Isso nem deve ser chamado de criança, isso é um feto. E sobre achar que eu te manipulo, entenda como você quiser! Eu só quero o melhor pra você, e se mudar de ideia você sabe o meu número e sabe que eu tô aqui pra te apoiar naquela decisão.-fiquei calada e ela pegou a bolsa dando as costas.

Respirei fundo tentando segurar o choro até quando deu, mas quando ela fechou aquela porta como sempre faz quando começa a agir daquela forma, as lágrimas começaram a caí automaticante, mesmo contra a minha vontade.

Eu simplesmente não conseguia entender a maneira dela de agir daquela forma quando não conseguia me manipular, também queria entender o motivo dela ter virado as costas para mim quando eu mais precisava dela! Cara, não dava pra aguentar tudo aquilo, tava demais pra mim.

A minha própria mãe, a pessoa que deveria me encorajar com palavras bonitas falando que a gravidez é um momento especial e que ela ia tá comigo em todos os momentos, simplesmente jogou pra cima de mim uma oferta de aborto! Fora que falou várias coisas ruins, e o que mais me machucou foi ela ter falado que o meu filho nem era considerado uma criança ainda, e que eu simplesmente podia falar para o pai que eu tive um aborto espontâneo, como se o meu filho fosse um nada!

O que eu menos queria em toda a minha vida era ter que excluir a minha mãe dela, mas se fosse necessário para o bem da minha saúde mental, e se fosse muito melhor para o filho que eu tava esperando, eu ia começar a não pensar duas vezes sobre afastar ela da minha vida!

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No MorroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora