Noite do Karaokê

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Micael estava com a atenção toda para a tela de seu monitor, bocejou duas vezes antes de digitar alguma coisa, encarou o relógio, graças a Deus! E nada de Sophia ligar.

— Micael? Eu te entregarei amanhã, não consegui expor as minhas... — Outra estagiária disse, tinha um papel nas mãos.

— Sem problemas, temos um mês inteiro pra isso. — Alertou. — Bom descanso!

— Para você também! — Acenou antes de deixar a sala. Sempre era o último a sair, sempre era o último a desligar os monitores e sempre era o último a fazer um feedback do que aconteceu.

Desceu quando tudo estava desligado e em ordem, tinha a chave do carro nas mãos e dirigiu até o Central Parque, diretamente ao condomínio. Ken, o porteiro, lhe chamou, quando havia chegado.

— Você sumiu. — Tirou os fones de ouvido. — Quem está na sua casa?

— Minha Barriga de Aluguel. — Explicou. — Aconteceu algo com ela?

— Não aconteceu não. É que eu ouvi uns gritos, pensei que alguém tinha arrombado o seu apartamento.

— GRITOS? — Micael arregalou os olhos. Deixou Ken falando sozinho, subiu as escadas e quase morreu quando chegou na porta de seu apartamento, tinha as mãos trêmulas quando destrancou a porta.

Olhou seu apartamento:

U M.

V E R D A D E I R O.

L I X Ã O.

Roupas espalhadas, salgadinhos abertos, latas de leite condensado, refrigerante, papéis amassados. Bateu o olho em sua mesinha de centro: três energéticos abertos, várias embalagens de doce e...

O cheiro, aquele cheiro... Fora o karaokê-game que Sophia cantava, Micael quase teve um infarto.

— SOPHIA. — Ficou na frente da TV. — FICOU MALUCA?

— Eu tô cantando. — Dizia sorrindo. — I come home in the morning light
My mother says when you gonna live your life right
Oh mother dear we're not the fortunate ones.

— Esse karaokê era o presente de aniversário da minha sobrinha. — Estava bravo.

— OOOH GIRLS JUST WANNA HAVE FUNNN. — Fazia caras e bocas.

— CHEGA! — Desligou a TV. — Ficou maluca?

— EU IA GANHAR A PARTIDA. AGORA VOU TER QUE FAZER TUDO DE NOVO! — Bateu as mãos na perna.

— Definitivamente você matou a Cindy Lauper. — Respirou fundo, encarou a mesinha. — Bebendo energético? Ficou doente? Isso faz mal ao bebê. — Andou até a cozinha. — SOPHIA, TEM BITUCA DE CIGARRO EM CIMA DA MESA. — Voltou mais furioso ainda. — EU NÃO ACREDITO QUE ESTAVA...

— CLARO QUE NÃO! Eu bebi o energético sim, mas fumar, jamais. — Não convenceu Micael. — Onde você vai?

— Abre a boca. — Voltou com uma cápsula enorme de vitamina. — A partir de hoje a senhora vai começar a tomar suas vitaminas.

— Isso aqui é muito grande, eu não vou conseguir engolir.

— Vai sim. Abre a boca! — Sophia abriu a boca, Micael colocou o remédio em sua língua. — Agora engole.

— Eu. Não. Sigo. — Tentava engolir o remédio, sem sucesso. — MICAEL, EU VO... — Cuspiu a cápsula que caiu no tapete. Micael pegou outra.

— Abre a boca e engole de uma vez. — Abriu o maxilar da loira remexendo em seguida, ela demorou a engolir. — Conseguiu? — Ela ficou quieta, sem vestígios da cápsula na boca.

Agora sim!

— Ainda não. — Mostrou a língua, tinha guardado o remédio de baixo.

Agora não!

— Saco. — Bufou. Voltou à cozinha buscando um pão com queijo, colocou a cápsula dentro do pão. — AGORA VOCÊ VAI ENGOLIR.

Sophia mordeu um pedaço grande do pão, mastigou duas vezes e cuspiu tudo, Micael virou o rosto quando observou os miolos mastigados saírem da boca dela.

— Ok! Eu vou achar um jeito de você engolir. — Pegou outra cápsula abrindo, despejou o conteúdo em uma colher e entregou para Sophia, junto com um copo d'água.

— O que é isso? — Apontou ao copo.

— Água. Agora beba! — Cruzou os braços esperando Sophia tomar o remédio.

Depois de mil tentativas, tinha conseguido. Finalmente!

— Você vai me prometer que não irá mais tomar essas porcarias, e nem comer chocolate em excesso, e salgadinhos. — Apontou para as embalagens.

— Eu não sabia que era o presente da sua sobrinha.

— E eu não sabia que você mexia nas coisas dos outros. — Disse por fim, Sophia abaixou a cabeça. — Desculpe, eu...

— Eu sei, eu estava errada. — Encolheu os ombros. — Vou tomar um banho e... Dormir.

— Vou ligar pra faxineira, esse apartamento tá me dando nojo. — Torceu o nariz, realmente, ela o transformou em um lixo.

Uma Mãe Para o Meu Bebê Where stories live. Discover now