Número Desconhecido

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— Deficiente? Como assim? — Antônia estava alterada, até demais. — Minha neta é deficiente?

— Algum problema com isso, mãe? — Micael tinha a mão nos olhos, espantando qualquer problema existente no momento.

— A menina não escuta, você ainda acha isso normal, Micael? — Cruzou os braços. — A nossa família vai virar um fuzuê danado, imagine?

— Preconceito, mãe? Parece. — Encarou a mulher. — Minha filha é deficiente sim! E vou tratá-la como uma pessoa normal.

— Que não escuta, você quis dizer. — Coçou a nuca. — Certo, eu não vou mais me intrometer na sua vida!  — Deu de ombros. — Como vai cuidar dessa menina agora?

— Cuidando. Eu me matriculei em um curso de libras, vou começar na semana que vem. — Disse calmo. — Pode cuidar dela durante à noite?

— Já vai jogar a garota aqui? — Micael bufou. — Tudo bem, eu cuido. — Rendeu as mãos.

— Não precisa, eu vou chamar uma babá. — Buscou seu celular no bolso da bermuda. — Vou indo, o dever me chama.

Micael estava bravo quando atendeu o telefone, um número desconhecido.

— Alô? — Entrou em seu carro. — Alô? — Tentou mais uma vez, a ligação estava muda. — Ei, alô? — Completamente mudo. — Inferno! — Desligou a ligação sabendo que não teria resposta.

Fugir da sua mãe era a oitava maravilha do mundo, pra ele mesmo. Dirigiu até o condomínio, trocou breves palavras com Ken e quando chegou em casa pagou a babá. Não gostava de deixar Annora com babás, não que elas sejam insuficientes mas... Era uma forma de deixar a filha mais segura: Não contratando uma babá.

— Annora? — Pegou a filha nos braços. — Sei que ainda não pode me escutar mas... Seu aparelho ficará pronto, e assim, vamos poder nos comunicar bastante. — Beijou o rostinho da filha.

O telefone tocou, mais uma vez.

— Alô? — Nada. Ninguém. — Alô? — Totalmente mudo. — Mas que droga, quem será? — Desligou a ligação e tentou ligar a bina, o número desconhecido voltou a aparecer.

Uma pessoa insistente.



— Bom dia, Bottin! — Micael chegou na empresa, sorridente, cumprimentou o chefe que fazia ioga em cima da mesa.

A loucura nunca mudava.

— Bom dia, Borges. — Deu uma palma. — Você está bem em relação a sua filha? — Saiu da mesa.

— Ah, eu vou ficar. — Disse sem jeito. — Os médicos estão apostos para o tratamento dela, vai dar tudo certo.

— Vai sim. — Sorriu. — Qualquer coisa que precisar, você sabe onde me procurar. E lógico, irei te ajudar no que for preciso.

— Obrigado mesmo! De verdade. — Sorriram. — Como vão as coisas por aqui?

— A mesma coisa... Sabe quem me pediu o emprego novamente? Isso mesmo, seu amigo!

— Chay? — Franziu o cenho. — Ele veio até aqui.

— Veio, encher o meu saco. Eu já disse que não vou dar o emprego pra ele.

— Bottin, ele vai se esforçar no máximo. Sabe que sim! — Tentou convencer. — Não seja tão malvado.

— Eu malvado? Claro que não! Vocês fazem o que quiser dentro dessa empresa, mas Chay, ele não trabalhava, nem a pau!

— Eu sei que ele não trabalhava, aprendeu o erro. — Balançou a cabeça. — Não tem jeito de você dar uma única chance?

— Me diga fatos que me amoleça. — Encarou as unhas cortadas.

— Ele teve uma filha recentemente. — Pensou. — Está trabalhando na Disney mas o salário é péssimo! Ele gosta de estar aqui...

— Ele gosta de conversar com você, é diferente.

— Mas Bottin, pensa pelo meu lado. — Encarou o homem. — Chay voltando nós podemos confiar nele de olhos fechados, o que me diz?

— O que está querendo dizer? — Coçou seu maxilar.

— O que eu quero dizer é... — Pausou. — O ex estagiário não tá dando conta do recado, ele só consegue com muita insistência da Carla.

— A Carla é outra que pretendo rever. — Micael arregalou os olhos.

— Não faça isso. — O celular de Micael vibrou. — Só um minuto! — Atendeu na pressa.

De novo.

— Alô? — Estava ficando sem paciência. — Alô? Olha, quem tá falando? — Queria descobrir.

Mas a ligação ficou totalmente muda.

Uma Mãe Para o Meu Bebê Where stories live. Discover now