Libras

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Uma semana depois.

— Bom, alunos... Meu nome é Hebet e qualquer dúvida podem me mandar por email. — O homem com óculos sorriu, fechou o caderno que levava consigo.

Micael tinha começado às aulas de libras, estava gostando, porém, tinha algumas dificuldades por ser a primeira vez. Saiu da sala contente, sentiu-se na faculdade de novo, com seus livros e um estojo escuro, havendo anotações importantes.

Foi até o estacionamento do curso, avistou seu carro e uma mulher, aparentemente brava, chutava a calota do seu carro, centenas de vezes.

— EI! — Gritou com a mulher. — O que está fazendo?

— Chutando o seu carro. — A mulher de cabelo castanho gesticulou, cruzou os braços. — Você me prendeu! Tem duas vagas à frente e você me prendeu! — Bateu os pés, nervosa.

— Ah, eu te prendi? — Esbraveceu. — Ninguém mandou você estacionar na frente do MEU carro.

— Eu preciso ir embora, se você ainda não percebeu. — Batia os pés, Micael a encarava. — Pode retirar o carro ou eu vou ter que acabar com o seu pneu?

Os cabelos voavam em seu rosto, era como... Como conhecesse aquela maluca que estava chutando a calota do carro.

— Eu vou retirar. — Rendeu as mãos. — Ficará mais calma?

— Eu preciso ir embora!

— Eu também preciso, se você parar de chutar o meu pneu... Ficarei mais calmo também. — Apertou o alarme.

Micael entrou no carro, saiu da vaga e desceu o vidro, encarando a mulher que ainda continua brava.

— Agora tá bom?

— Ótimo. — Sorriu falsa. — Vem cá, você tava na aula hoje, não tava?

— Muito observadora você. — Mexeu no retrovisor. — Eu preciso ir, senhora! Agora você pode retirar o seu carro. — Sorriu falso.

— Senhora é a sua mãe. — Deu um último chute na calota antes de deixar Micael sozinho, reclamando.

Bufou e deu partida no carro, dirigiu até o seu condomínio. Pagou a babá quando chegou e mimou Annora que estava quieta, olhando um bichinho de pelúcia.

A menina deu um espirro.

— Acho que alguém deve ficar longe de pelúcias. — Levou ela até o berço. — Como foi com a babá? — Ele sabia que não teria resposta, e sabia também que Annora ainda não conseguia escutar a sua voz, mas era bom treinar a leitura labial, mesmo ela não entendendo absolutamente nada.

Deixou a filha no berço, ligou o móbile e esperou que Annora tirasse um cochilo. Encarou a menina enquanto sorria, tão linda!

E ela ficaria bem, tinha certeza disso.

Micael acordou cedo naquela manhã, tomou café, deu mamadeira à Annora, levou até sua mãe e foi para a aula. Estacionou na última vaga, retirando seus problemas com a louca do estacionamento.

— Olha só quem chegou. — A mulher saiu do carro, se encontrou com Micael. — O mocinho que não sabe dirigir.

— Tem certeza disso? — Riu sarcástico. — Eu já dirigia antes mesmo de você ter uma carteira.

— É mesmo? — Deu de ombros. Andaram até o prédio. — Pra mim você é só mais um bundão que estaciona em lugares errados.

— E você é uma louca que chuta o meu pneu. Eu queria muito que você quebrasse.

Ela riu.

— Posso fazer um bate-bola com você? — Ela retirou o óculos escuro, encarou Micael que ria leve.

— Manda. — Andavam pelos corredores vazios.

— Nome?

— Micael. — Negou com a cabeça. — Borges.

— Quantos anos?

— Vinte e sete.

— É casado?

— Não. — Prendeu o riso.

— Filhos?

— Uma menina.

— Ah. — Pausou. — Agora é a minha vez.

— Ok. — Micael ria. — Nome?

— Amanda. — Encarou o moreno. — Amanda Richter.

— Idade?

— Vinte e seis.

— Casada?

— Divorciada.

— Filhos?

— Um menino. — Suspirou. — Que ridículo isso, me sinto uma menina com dezesseis anos. — Riram.

— Você quem começou. — Entraram na sala, se acomodaram em lugares próximos.

O silêncio reinou por alguns segundos.

— Por que tá fazendo esse curso?

— Minha filha tem deficiência auditiva, ela não fala e nem escuta. Muito pequena, recém nascida. — Encarou os dedos, sentia-se triste ao contar de Annora. — Ela não merecia isso.

— Meu filho tem a mesma coisa. — Deu meio sorriso. — Eu já sei falar algumas coisas, não todas, ainda tô aprendendo. — Assentiu, sorrindo.

— É legal nós aprendermos, entramos em um outro mundo.

— Concordo com você. — Se entreolharam.

As pessoas começaram a entrar na sala. Micael abriu seu livro quando o professor chegou, entrando no mundo de Annora.

Uma Mãe Para o Meu Bebê Where stories live. Discover now