51 - Agridoce

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Sim pessoas, eu atrasei bastante desta vez e peço desculpas, o capítulo de hoje não é tão grande como os outros, mas eu gostei muito dele e espero que gostem também.

Ps: Nunca uma música combinou tanto com um capítulo quando essa.

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Estava chovendo muito naquela noite, não ao ponto de relampejar como nas eventuais tempestades que acometem a tão atormentada cidade de Risteria. Mas a fúria implacável de milhares e milhares de gotas de água bombardeando o relvado não era de uma chuva comum. Esta era sem dúvidas uma noite sombria, as nuvens esfumaçadas cobriam a luz das estrelas, e carregavam um frio tremendo que obrigou cada pessoa da cidade a buscar refúgio embaixo das cobertas.

Os musgos e as trepadeiras subiam pelo muro de pedra e se enrolavam na grade dos portões de ferro, assemelhando-se a serpentes tentando escapar do lamaçal que se formou com a água pluvial. Atrás do muro havia um castelo de cor tão escura que assemelhava-se às silhuetas escondidas nas sombras da escuridão profunda, grande e imponente, sua imagem impunha medo e respeito para os observadores.

Era em um cômodo deste imenso castelo gótico que Ângelo repousava, preso em um sono tão profundo quanto o de um cadáver, o primeiro movimento que ele fez desde que foi deitado para o descanso consistiu em apertar os dedos contra o acolchoado de sua cama, e um pouco depois seu rosto adormecido desenhou uma careta angustiada seguida por um gemido de desespero.

Apenas quando o relógio de pêndulo que ficava no corredor atingiu a meia-noite os olhos dele tiveram permissão para se abrirem, Ângelo puxou o ar com uma voracidade quase insaciável, o som de sua respiração pesada e desregulada uniu-se ao badalar do relógio, anunciando a chegada da hora mais escura da madrugada.

Seu despertar foi acompanhado de uma avalanche de emoções ruins e por um estado de confusão mental, restos do que estava a sonhar segundos atrás. A tempestade do outro lado da janela parecia uma garoa leve comparada ao furacão passando na mente do garoto.

— Quem sou eu?

Ele pressionou as mãos nas têmporas em uma tentativa de organizar seus pensamentos em uma sequência lógica.

— Eu sou Abel Malebranche... Não! Eu sou Ângelo Vukodlak, sou um lich... Não!

Ele praguejou ao perceber que as memórias não se encaixavam.

— Eu sou um vampiro e estudo na academia Vehementi, eu estava a caminho de uma casa assombrada com meus amigos para exorcizarmos um espírito... Por que a gente tava fazendo aquilo mesmo? Ah, o teste de capacidade mágica, lembro que Vlaew estava relutante... Quem é Vlaew?

E mais uma vez seu raciocínio foi interrompido por uma incongruência em suas lembranças, por que era tão difícil saber quem ele era? Quais memórias eram verdadeiras? Toda essa confusão o assustava, deixando-o tão ansioso que seus poderes de vampiro começavam a externar pelo seu corpo, expondo características anormais que lhe foram adquiridas após beber o sangue das outras criaturas. Também não demorou para que seus gritos escapassem da garganta rumo ao corredor do castelo, atraindo a atenção de alguém que, ao ouvir o barulho, veio correndo até o quarto.

— Ângelo, Calma... — A mulher abraçou o garoto, apertando-o contra seu peito. — Meu filho, foi só um pesadelo, você está seguro agora!

— Quem sou eu? QUEM SOU EU?!

Nadesha não sabia como acalmar seu filho, não fazia a menor ideia do que se passava na mente dele e sequer pelo que realmente passou para terminar naquele estado, o que apenas dificultava as coisas.

— Ângelo, você é Ângelo! — Gritou.

A última coisa que ele precisava agora era ter um surto e perder de vez o pouco controle que tinha sobre seus poderes. Lembrou-se de controlar, fechou os olhos e tentou esvaziar a mente o máximo que conseguia, torcendo para que a meditação ajudasse em alguma coisa.

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