4 - Ode ao Caçador

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O final de semana veio acompanhado de algumas pequenas mudanças, a começar pela presença de uma segunda lua crescente no céu, ela era vermelha e estava do lado oposto a outra que era azul, crescia tímida e não passava de um sorriso facilmente ofuscado pela presença das escuras nuvens vagantes. Agora há duas luas brigando pelo céu, a azul é chamada de "Phobos", e a vermelha, "Deimos".

Abaixo do céu uma procissão guiada por duas fileiras de candeeiros atravessa a ponte nebulosa. De um lado jovens caminhavam para as árvores e do outro a fila voltava para o castelo, estes últimos eram da turma diurna que voltava para os dormitórios após passarem o dia fora, agora era a turma da noite quem descia para a cidade.

Ângelo cruzava a floresta no meio de outros alunos, o caminho de terra era revestido por uma névoa rasa e sorrateira que não se elevava acima dos pés, parecia ser emanada pelas raízes das velhas árvores ao redor, onde moravam morcegos e pássaros noturnos. Ângelo andava cauteloso, saía poucas vezes para a cidade e quando o fazia era para comprar alguma coisa como livros e penny dreadfuls (histórias de terror vendidas a um centavo, por isso o nome "centavos aterrorizantes").

Dessa vez ele apenas seguia o conselho de Raven de evitar topar com Felícia ou Antônio, não tinha ideia do que fazer quando chegasse lá.

Apenas mais cinco minutos e finalmente lá estava Risteria, uma cidade grande cuja maioria dos prédios são arquitetadas em modelo gótico, é conhecida também como "cidade nebulosa" por causa dos nevoeiros que comumente a visitam. Mas isso não assusta os moradores, porque pelas ruas ladrilhadas em cascalho o caminho se abre para o melhor que uma das cidades mais industrializadas do país pode oferecer.

Nota-se o avanço das máquinas a vapor, diesel e até mesmo na recém-descoberta eletricidade em todos os cantos. Seja no homem autômato movido a vapor que jaz "morto" no meio da praça, sejam nos vendedores anunciando os rádios e lâmpadas pelos melhores preços ou até mesmo no grande dirigível flutuando no céu, expelindo vapor de seu maquinário enquanto planava pelo ar.

Some tudo isso com as também recentes descobertas como o fato do mundo ser apenas um globo no meio de vários outros semelhantes a ele acima dos limites do céu, e as explorações marítimas que de tanto navegarem em águas desconhecidas encontraram novas terras. Zenith estava em sua era de ouro, pelo menos para o país de Wolklair que não parava de prosperar.

Ângelo caminhava sem rumo passando pelas vitrines das lojas, a maioria já iluminada pela luz elétrica, que embora recém descoberta, já era bem presente em cidades grandes.

A maioria de seus colegas iria namorar em algum lugar escuro ou perder tempo em grupo em algum estabelecimento que ofereça diversão barata. Decidiu dar uma olhada na banca de livros onde costumava comprar suas histórias de horror.

—"O humano", "Os Belmonts", "Os Arcontes"...

O jovem passeava os olhos pelos títulos das histórias, ignorando as que eram de gênero romance, épicos ou qualquer outra coisa parecida.

—Van Helsing?

Ele pegou o grande livro de capa vermelha, já tinha ouvido falar sobre ele, mas nunca chegou a ler. A história era sobre um humano chamado "Van Helsing", ele era um monstro assassino assim como todos os outros humanos até se apaixonar por uma vampira, depois disso .

—Vou levar esse aqui.

—São vinte cédulas. —Avisou o vendedor.

O garoto entregou o dinheiro e seguiu com seu livro descendo a rua. No caminho ele passou por uma igreja que, por coincidência, o sacerdote berrava o dia em que os casal de deuses Cekhi e Seiras livrou o mundo da ameaça humana, Ângelo não pôde deixar de rir da sincronia entre sua recente compra com o sermão do culto.

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