6 - Fantasmas

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A noite caiu novamente e os alunos notívagos encaminhavam-se para o castelo, fariam a primeira refeição da noite antes das aulas começarem. Mas Ângelo não seguiu o caminho usual, ao invés, foi direto para seu refúgio. O motivo de o garoto ter decidido jejuar essa noite é simples, sangue é uma faca de dois gumes.

Todos os vampiros tem um apetite infinito, sua fome nunca será saciada não importa quanto sangue seja ingerido, o sangue diminui o apetite, mas nunca o irá saciar. E ainda há outro problema, a fome do vampiro assemelha-se a um vício, caso beba muito sangue em um curto período de tempo não irá tardar até que seu corpo peça por mais quantidades de alimento.

Um vampiro que não controla a sua gula está sujeito a enlouquecer ou se tornar um bestial, ao mesmo tempo em que beber pouco pode causar abstinência. Graças à essa fraqueza a alimentação deles deve ser equilibrada, o ideal são duas refeições por semana. Vampiros têm um tempo de vida muito alto, mas a maioria morre antes da velhice por motivos como esse.

Ângelo tem todos os defeitos de sua raça e herdou apenas duas qualidades, a visão noturna e a regeneração, ser um sangue fraco realmente era uma maldição. Decidiu que se lamentaria longe das outras pessoas, isto é, em seu refúgio.

Contudo a vida é uma caixinha de surpresas que por vezes se abre trazendo um acontecimento que normalmente nunca se esperaria ocorrer. A casa não estava vazia.

—Para um lugar abandonado até que isso aqui tá bem limpo. —Observou um garoto de olhos puxados, ele tinha um sotaque diferente dos outros, provavelmente estrangeiro. —O que acham da gente vir para cá após as aulas?

—Cara, esse lugar tá envolta de uma floresta morta e tem três lápides na entrada! —Protestou um que usava óculos. —Fora que está cheio de aranhas, vocês sabem que eu odeio aranhas!

—Melhor aguentar aranhas do que gente chata. —Disse o terceiro, este que era um pouco mais gordo. —Pra mim esse lugar tá ótimo, tem até um piano.

O garoto pressionou uma das teclas do instrumento, surpreendeu-se ao ver que ainda produzia algum som.

—Certo caras, acho que esse realmente é o melhor lugar para...

O jovem congelou no momento em que virou para a entrada da sala, havia outra pessoa entre eles, parada em pé na entrada da porta. O susto foi imediato.

—Tem um fantasma aqui!

Os outros dois garotos miraram a entrada da sala, deparando-se com uma figura magra e pálida. O de óculos assustou-se, engasgando na própria saliva. Não era para menos, os três resolveram entrar em uma casa abandonada com três lápides na entrada, não era difícil assustar alguém nessas condições.

O fantasma era um garoto extremamente pálido, até seus cabelos eram em um tom prateado.

— Quem são vocês?

— Misericórdia, ele fala!

— Eu não sou um fantasma! — Vociferou Ângelo.— E novamente, quem são vocês?!

O trio pareceu baixar a guarda, mas ainda estavam receosos.

Os três garotos não pareciam serem do tipo perigoso, pela cara é possível perceber que são todos de classe baixa que não costumam lutar. O fato curioso é que o trio trajava o uniforme da turma do dia, que é a mesma coisa do turno da noite, porém com as cores brancas e o detalhamento dourado ao invés do preto e vermelho que os estudantes noturnos costumam usar. Isso abria mais uma pergunta, por que havia alguém do turno do dia perambulando na floresta a noite?

— Como você não é um fantasma se tu é todo pálido?

— É, na boa cara, tua aparência não é de gente viva não. —Completou o outro.

Creature FeatureWhere stories live. Discover now