3 - Expresso Sangrento

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A grande serpente metálica se arrastava entre os pinheiros das montanhas, na frente a grande locomotiva Maria Fumaça cuspia vapor de sua chaminé, conduzindo pelos trilhos todo o resto do trem. As janelas dos vagões proporcionavam aos passageiros uma linda vista do céu noturno e da floresta.

Todos riam e conversavam, os garçons serviam comidas e bebidas caras para os bem afortunados passageiros. Cada vagão estava lotado, para cada passageiro rico havia quatro ou cinco seguranças pessoais que os protegeriam de possíveis ameaças.

Claro que havia alguns que estavam sozinhos, como o grande homem de cartola e casaco militar no último vagão, recostado no canto da janela com os braços cruzados e a cabeça baixa. No primeiro vagão a primeira classe era dividida entre um homem bigodudo barulhento com seus seguranças e um casal solitário do outro lado.

—Um brinde a nós!

Os dois tocaram suas taças de vinho tinto e depois beberam, de um lado da mesa estava um pálido, branco até os cabelos, trajando um grande sobretudo e por dentro uma jaqueta. Do outro lado uma mulher negra de cabelos encaracolados limpando com um guardanapo o vinho que escorria pelo canto da boca.

—Mas vamos deixar isso de lado, chega de falar de negócios. —Disse a mulher. —Que tal falarmos sobre como aproveitar a nossa volta? Depois de tudo isso nós merecemos alguma coisa não é?

—Concordo, está na hora de esfriar a cabeça. —Respondeu o homem. —O que deseja como recompensa, senhora Nadesha Vukodlak?

A mulher soltou uma risada baixa antes de responder:

—A gente decide isso quando chegarmos em casa, por enquanto eu me contentaria com mais uma taça de vinho.

A viagem prosseguiu normalmente por mais dez minutos, o casal conversava entre si enquanto ignorava a barulheira feita pelo bigodudo da mesa ao lado. Eventualmente a conversa acabou mudando um pouco de rumo, a mulher olhou pela janela, encarando a lua azul que banhava seu rosto com uma fraca luz em ciano.

—Estou preocupada com nossos filhos. —Avisou Nadesha. —Sempre que nos afastamos da cidade, deixando-os sozinhos naquele colégio, tenho medo. Nossa nação tem inimigos demais, assim como nossa família.

O homem a encarou com serenidade, sua esposa estava com o olhar vidrado na janela, observando melancolicamente os pinheiros e as montanhas se mover para trás do trem.

—Eles ficarão bem. Nós os treinamos lutarem contra qualquer ameaça, podem não ser tão poderosos quanto nós, mas ainda sabem se defender.

—E quanto a Ângelo, Velkan? Do que adiantou as artes marciais se ele não tem poder algum?Ele é alvo fácil para espiões ou para qualquer sequestrador. —Retrucou, esfregando a mão na testa. —Ainda não me conformo com o tudo o que vem acontecendo.

O homem respirou fundo, falar sobre Ângelo sempre era um assunto delicado tanto para a esposa quanto para si próprio.

—Refere-se aos Rosevelt? —Indagou Velkan. —O que aconteceu foi uma lástima, mais do que isso, foi uma humilhação para toda nossa família, mas um casamento só acontece quando os chefes das duas famílias o permite. Se os Rosevelt acham que a filha deles é boa demais para o nosso filho, isso é pensamento deles.

O homem deu mais um gole em seu vinho antes de pousar a taça vazia sobre a mesa.

—Mas se pensam que isso não terá consequências, então estão muito enganados. —Proferiu com uma calmaria assustadora para uma ameaça. —Quanto à segurança das crianças, você não deveria se preocupar com isso. Muita gente de força trabalha naquele colégio,a parte alta da cidade não é perigosa e Ângelo recluso o suficiente para não se aventurar demais por ela.

Creature FeatureWhere stories live. Discover now