19 - No Escuro

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O desjejum já havia começado como de costume, as mesas já estavam lotadas com pratos de comida e de estudantes jogando conversa fora enquanto comiam. Ângelo planejava seguir seu velho costume de ir até a poncheira de sangue, encher um copo e ir para o corredor.

Assim que tocou na colher ele foi impedido de encher seu recipiente de vidro, ele olhou para o lado e viu uma garota loira o encarando enquanto também puxava a colher para ensopar a carne de seu próprio prato. Os dois haviam segurado a colher ao mesmo tempo e agora ambos se olhavam olho no olho. A garota tinha a íris amarelada e um olhar que mesclava o analítico com o enigmático, ela parecia estar o analisando.

Mas isso não demorou mais que cinco segundos, Ângelo desfez o contato e soltou a colher para a garota, caminhando de mãos e estômago vazios para o corredor.

Ele conseguiria aguentar a fome até o horário do almoço, preferia continuar em jejum do que causar uma confusão parecida com a do primeiro dia de aula, sua cabeça já estava ocupada demais com outros problemas. Ele saiu sem olhar para trás, mas a garota permaneceu o observando até ele desaparecer no corredor.

Com exceção disso não houve outra grande mudança no ritmo da noite exceto que o passar das horas revelou a informação de que a professora de ciências havia pedido demissão algumas noites atrás e ela não viria mais dar aula essa semana, o que conferia um tempo livre entre a aula de matemática e a de linguagens já que o diretor ainda não conseguiu encontrar um substituto para a vaga.

A primeira aula do dia é a de matemática e a matéria é ensinada pelo professor Marlon Sullivan. Apesar da matéria ser julgada como chata e entediante pela maior parte da sala as alunas gostavam do professor, ele era um homem bem atraente aos olhos daquelas jovens garotas cheias de hormônios no sangue, o que despertava um certo ciúme nos garotos que temiam que suas namoradas reparassem mais o professor do que eles próprios. Para a alegria deles Marlon Sullivan só dava atenção à curva tangente desenhada no quadro.

— E com isso chegamos ao resultado final, alguém tem alguma pergunta? — O professor se volta para a classe. — Alguém?

Uma aluna levanta a mão.

— Professor, poderia repetir a última parte?

— Posso sim. — Respondeu o homem, voltando a explicar o assunto.

Ângelo olhou em direção a dona da voz e teve uma pequena surpresa, era a mesma garota de meia hora atrás. Antes que ele pudesse avaliar se essa coincidência seria algo ruim a garota o olhou de volta e mais uma vez ele encarou aquela enigmática íris amarelada. Este contato visual acabou durando ainda menos que o outro, Ângelo desviou os olhos de volta para a aula. Isso é ruim, muito ruim.

Os ponteiros do relógio continuavam a avançar, mas Ângelo mal conseguiu prestar atenção à aula, ele sentia um incômodo estranho sabendo que aquela garota estava lá, como um mau pressentimento. De vez em quando ele olhava de volta para ela discretamente e pôde confirmar que a garota quando também o observava em alguns momentos, o que só aumentava seu desconforto. Na última vez que percebeu que a garota o encarava ela estava com um sorriso debochado no rosto, talvez tenha até soltado uma breve risada como se dissesse "não adianta tentar disfarçar".

— Ah sim, antes da aula terminar eu devo avisar que a academia já abriu as inscrições para aulas de artes marciais e combate. — Avisou o professor. — Elas dão pontuação complementar então seria bom que vocês se inscrevessem.

Após estes dizeres a aula acabou, agora deveria ser aula de ciência, mas como o diretor ainda procurava por um professor da área então eles teriam este horário vago por enquanto. Ângelo se apressou para sair logo, queria se livrar da incômoda sensação causada por aquela garota de olhos amarelos.

Creature FeatureWo Geschichten leben. Entdecke jetzt