80 - Caim

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Algumas pessoas acreditam que o mundo não é uma dádiva divina, mas um lugar de expiação, uma prisão onde a punição para os pecados dos homens era infinita. Todos estavam presos em um ciclo de reencarnação onde não havia saída, ninguém poderia escapar da punição eterna.

Mas o homem é um ser orgulhoso e que não se permitiria ser preso, se houvesse a mínima chance de escapar, ele agarraria essa chance com toda sua força. Se o mundo precisasse ser destruído para que isso acontecesse, então que seja. É neste contesto que muitos homens se aliaram aos demônios, o ano zero não deveria ser temido, mas adorado.

Foi isso o que Morgana disse quando Abel, ainda criança, perguntou por que seus pais eram satanistas. O garoto gravou isto em sua mente e não esqueceu até os dias atuais, quando ficou sabendo que Caim ainda estava vivo.

Seus amigos perceberam que algo o incomodava, ele parecia meio abatido e menos energético do que o normal.

— Cara, você tá bem?

— Estou, é só que...

Ele não conseguia se decidir se deveria ou não falar, além de ser um assunto difícil para ele, o garoto temia as reações dos seus amigos se soubessem que seu irmão demoníaco ainda estava vivo. Tinha medo que se afastassem dele por causa disso.

— Você não confia na gente?

— Confio, é só que... É um assunto difícil.

Ele respira fundo antes de finalmente responder a pergunta.

— Meu irmão ainda está vivo.

A resposta surpreendeu o grupo, todos ali sabiam a origem de Abel e quanto isso o afetava.

— Eu não consigo parar de pensar nisso, alguém tem que pará-lo antes que ele faça algo ruim.

Anastácia envolve o braço ao redor do pescoço dele e dá um beijo em sua bochecha.

— Calma amor, você disse que ouviu isso do diretor e da sua mãe não é? Tenho certeza que eles vão contatar o conselho sobre isso, Caim não vai ficar solto por muito tempo.

Abel sabia que o conselho arcano faria algo sobre isso, mas algo no fundo de sua alma dizia que não seria o suficiente. Caim não era mais humano, ele era um demônio, não seria tão fácil matá-lo.

— É melhor você não esquentar a cabeça com isso, deixa esse assunto pros adultos cuidarem.

Abel não podia fazer nada, pelo menos por enquanto, estava impotente naquela situação. Seus amigos estavam certos, não era saudável ficar pensando sobre isso, era melhor fazer como seus amigos diziam e deixar essa coisa toda para os adultos.

E assim os meses se passaram, até se tornarem anos. Abel e seus amigos continuaram com suas atividades na universidade, fazendo missões juntos, se divertindo despreocupados. Os laços entre Abel e Anastácia se estreitaram ainda mais, o casal parecia que duraria para sempre.

Mas tudo mudaria quando o inevitável último ano chegasse, agora quase adultos e praticamente formados, todos estavam do lado de fora da universidade enquanto o diretor fazia seu discurso.

— Vlaew, pelo amor dos deuses, para de chorar! Está nos envergonhando! — Protestou Annabeth.

— Não dá, eu tô muito emocionado! — Vlaew diz com uma voz emocionada. — Eu não tô preparado pra crescer!

— Você é um idiota!

— Eu não poderia estar mais ansioso para me tornar um templário. — Comentou Barlowe, dirigindo-se para Abel, ele pergunta. — Você tem certeza de que quer se tornar um soldado após a formatura?

Creature FeatureWhere stories live. Discover now