101- Um Pequeno Pedaço do Inferno

15 4 0
                                    


A tensão estava no ar, os três monitores estáticos, olhando para o garoto de olhos negros que permanecia parado no corredor, escondido sob um véu negro de escuridão que o protegia do sol. Ele tinha o olhar mais macabro que já viram, aqueles olhos negros, vazios, pareciam olhar em suas almas.

Ana notou rapidamente a diferença dele para o Ângelo que conheceu na noite do festival, ele já era meio calado e até um pouco esquisito, mas aqui ele parecia medonho, era como se fosse uma coisa ruim dentro da casca de um garoto.

— "O primeiro anjo soou a trombeta, e Zamiel manchou a terra e o mar com sangue. O segundo anjo soou a trombeta, e ao comando de Falcifer os mortos andaram novamente. O terceiro anjo soou a trombeta, e Iblis mergulhou o mundo em chamas. O quarto anjo soou a trombeta, e Babalon acordou. O quinto anjo soou a trombeta, aqueles que tinham a marca ascenderam ao céu, deixando os impuros para trás quando o sol apagou. E o dia final do ano zero chegou, os portões dos quatro infernos se abriram sobre o mundo, infringindo a dor e a morte para aqueles que não tinham a marca da salvação."

Ele recitou a profecia do ano zero, apenas substituindo as palavras "deuses" por "anjos", qual era a finalidade disso? E afinal, ele estava lúcido ou não. Até onde se sabe, bestiais perderam a sanidade e não conseguiam mais falar, no máximo murmurar pequenas palavras em raros momentos de lucidez. Embora houvesse essa dúvida, ainda assim algo parecia muito errado com esse garoto.

— Ei Ana, qual é nome dele mesmo?

— Ângelo.

Renan era quem estava mais próximo dele, mesmo que não tenha tido sucesso em chamá-lo da outra vez, talvez fosse diferente se o chamasse pelo nome.

— Ângelo, você consegue me entender?

O garoto lentamente virou o rosto para Renan e tentou atacá-lo novamente, mas ele recuou a tempo. Ângelo atacou novamente, mas dessa vez recebeu o contra ataque, Renan usou sua longa cauda de lagarto para golpeá-lo no rosto como um chicote.

Renan recuou mais um pouco, sua cauda reptiliana balançava de um lado para o outro.

— Parece que esse cara não quer conversa, ei vocês duas, preparem-se!

Renan começou a se transformar, a cauda cresceu e o seu corpo adquiriu a forma de um réptil alado, o pescoço era longo e terminava com a cabeça de um galo. Ele era uma cocatrice.

Sua primeira ação ao se transformar foi olhar fundo nos olhos de Ângelo, seus olhos brilharam quando ele encarou o garoto bestial, e não demorou muito para que o efeito de seu poder começasse a aparecer. As cocatrices são como as górgonas, têm o poder de petrificar os outros a partir do olhar, a petrificação acontecia de fora para dentro, ou seja, uma fina camada de pedra revestia o corpo e com o tempo passava para o corpo interior. Isso significa que era possível quebrar a petrificação se isso for feito rápido o suficiente.

O plano de Renan era manter Ângelo imobilizado enquanto eles chamavam a vice diretora, ela saberia o que fazer numa situação como essa. Mas este plano se mostraria falho.

Uma rachadura crepitou na camada de pedra, formando várias linhas como uma teia de aranha, pedaços da pedra caíam no chão, revelando uma fumaça escura que saía de dentro. Renan ficou surpreso, não é qualquer um que consegue quebrar a camada de pedra com tanta facilidade, é preciso força ou um poder muito específico para que isso ocorra.

As fissuras aumentaram e mais fumaça preta saía por elas, isso não era um bom sinal. Pedaços de pedra caíram, revelando pouco a pouco um corpo negro por trás delas. Quando toda a pedra caiu o que sobrou foi um corpo coberto coberto de uma fumaça negra, aquilo era a própria escuridão.

Creature FeatureWhere stories live. Discover now