18 - Asilo Saint Germain

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Faltavam poucas horas para o amanhecer em Risteria. Nada além de um cinza espesso pode ser visto pelas janelas do Asilo Saint Germain, uma nebulosa grossa está cobrindo tudo o a um palmo da visão. Talvez essa grande parede cinzenta também fosse a responsável por ecoar todos aqueles gritos de volta para o prédio.

— Caramba, esses desgraçados não conseguem passar um mísero minuto em silêncio? — Resmungou Walter, recostando-se ao balcão da sala onde outro carcereiro bebia café.

— E você esperava algo diferente em um manicômio? — Respondeu Wilbur. — Achei que você já estava acostumado com isso depois de trabalhar aqui por tanto tempo.

— Como se fosse possível se acostumar com os gritos. — Resmunga Walter enquanto enche uma xícara com café. — Felizmente já está quase na hora da mudança de turnos, mal vejo a hora de deixar esses psicopatas gritando com a porra viva do cara que vai fazer o meu trabalho durante o dia.

Este pequeno diálogo resume o que acontece em todas as noites no Asilo Saint Germain, os carcereiros entram, têm seus ouvidos violados pela enxurrada de suplicas e gritos dos prisioneiros e depois terminam o turno exaustos e com uma dor de cabeça infernal.

— Os outros ainda estão fazendo a ronda?

— Sim, é a única coisa que tem para fazer nessa desgraça de lugar, além de que é para isso que nos pagam. — Wilbur termina de beber seu café. — Falando nisso, hora da minha última ronda da noite.

Wilbur se levanta da cadeira, checando seu cassetete e a espoleta de seu revólver.

— Toma cuidado pra não se entupir demais com a cafeína, faz mal pro sono. —Ele avisa enquanto adentra sobe o corredor para o primeiro andar.

— Esse lugar é que faz mal pro meu sono, cara. — Retrucou Walter, dando mais um gole no café em seguida.

Wilbur caminhava pelos longos corredores do asilo, as pessoas dentro das celas rosnavam para ele, bramiam e tinham olhos ferozes como bestas sem raciocínio. Os mais furiosos e com a mente mais próxima de uma esquizofrenia licantrópica tentavam agarrá-lo, transpassando seus braços pelas grades que os enjaulavam. A única coisa que impedia os prisioneiros de trazerem o monstro interior para fora eram as roupas de contenção.

Assim como existem vestimentas especiais que se adaptam às transformações do usuário existem também aqueles que os privam de se transformarem em Telum. Feita com o couro negro de serpes da montanha, as camisas e calças dos prisioneiros serviam como uma coleira. Elas eram lacradas pelas costas e o material era duro demais para conseguir rasga-las com as mãos nuas. Sem a capacidade se transformarem os riscos de fuga diminuíam bastante.

— Um dia eu vou sair daqui Wilbur, e quando esse dia chegar eu vou rasgar a sua garganta com meus dentes! — Vociferou um dos prisioneiros.

— Vai mesmo Vlad? Sério? — Wilbur responde com ironia enquanto encara o criminoso. — Aconselho a guardar sua saliva para o cara do turno do dia, essa gritaria de vocês está desgraçando a minha paciência e eu imagino que você não quer passar o resto da semana na solitária, quer?!

O carcereiro voltou-se para o corredor ignorando o máximo possível os gritos psicóticos de Torfinn, perguntando-se quem foi o idiota doente que arquitetou o prédio daquela maneira. O teto era alto e abobadado, as entradas e saídas de cada corredor eram em formato de ogiva.

Essa configuração é responsável por ricochetear grande parte dos sons lá dentro em uma repetição de ecos sem fim, mesmo uma moeda caindo no chão seria ouvida do outro lado do prédio, imagine o que a gritaria de um bando de presos loucos é capaz de fazer.

Creature FeatureWhere stories live. Discover now