82 - Um Destino Pior Que A Morte

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Anastácia periodicamente vinha visitá-lo, trazia comida e falava com ele. Aparentemente aconteceria uma valsa daqui a três noites, era neste evento que ela planejava transformá-lo em um vampiro. Abandonar sua humanidade, para Abel isso seria um destino pior que a morte.

Depois de muitas tentativas ele finalmente conseguiu se soltar da corrente na terceira noite, agora ele precisava dar um jeito de fugir antes que Anastácia ou outro vampiro o encontrasse. Fazer isso seria bem difícil pois sua magia ainda estava selada, além disso estava acontecendo aquela maldita valsa que Anastácia mencionou.

Ele saiu do quarto, os corredores estavam praticamente vazios, imaginou isso era por conta do baile acontecendo.

"Você só está dificultando as coisas, querido!"

Era a voz de Anastácia, veio de algum lugar, mas não conseguia encontrá-la, apenas ver um jogo de sombras projetadas pelos castiçais. A partir daqui Abel correu enquanto era perseguido por Anastácia, parecia um jogo doentio, ela o provocava, instigava-o a aceitar ser um deles.

Foi quando ele parou no grande salão onde baile acontecia, foi lá que ele encontrou seus velhos amigos, e também foi lá onde ele reencontrou Anastácia. Pelos deuses, aquele era o pecado mais belo e sedutor que ele já viu, ela estava tão bonita, tanto que por um minuto ele quase aceitou o abraço do vampiro.

Voltou a correr, mas dessa vez ela o perseguiu de volta, e ele falhou em escapar. O abraço do vampiro era frio e metódico, primeiro ele sentiu a ferroada em seu pescoço, sua vitalidade sendo drenada pouco a pouco até seu corpo enfraquecer e sua visão ficar escura. É difícil manter a consciência, então em algum momento você apaga e tem a oportunidade de provar do sono eterno que, em outra situação, o levaria a sete palmos abaixo da terra.

Mas você não teria essa sorte, morrer seria bom demais, seu destino é algo pior que a morte. Sua consciência começa a voltar, você começa a sentir seu coração batendo de novo, e há um líquido estranho escorrendo em sua garganta, um líquido com gosto estranho, metálico. É o sangue dela, ela mordeu o próprio pulso e te deu para beber.

Agora já era tarde demais, não havia maneira como apagar ou desfazer o que aconteceu, a salvação já era um conto distante quando se está em um caminho que vai direto para o inferno.

Agora você não é mais humano, agora você era como aqueles dançando a valsa dos condenados, uma alma amaldiçoada pelo resto da eternidade.

As primeiras noites foram as mais difíceis, a transformação era cruel, era um flagelo do próprio inferno. Ele tinha pesadelos tão horríveis que nenhum homem jamais deveria experienciar, o medo de uma ameaça fantasma o assombrava dia e noite sem dar trégua, via vultos e ouvia sussurros do além. Tudo isso era consequência de ter a alma jogada na danação.

Mas Anastácia esteve ao seu lado o tempo todo, ela deitava sua cabeça em seu colo e acariciava seus cabelos enquanto ele suava frio e gritava por causa dos pesadelos. Ela também estava lá quando ele tinha surtos de terror, abraçando-o sempre que seus demônios voltavam para atormentar sua alma.

Em seus poucos momentos de paz ele se perguntava se Anastácia também passou por aquilo quando foi transformada, imaginou o quão difícil deve ter sido lidar com tudo isso sozinha, ele pelo menos tinha a sorte de tê-la ao seu lado.

Conforme as noites se passaram as coisas foram se acalmando, ele ainda tinha pesadelos e aquela sensação estranhamente ruim de ter a alma condenada nunca foi embora, mas ele aprendeu a se acostumar com isso, era a mesma coisa com todos os outros vampiros.

E agora ele estava parado na frente de um grande espelho oval, analisando sua própria aparência. Seus olhos agora eram vermelho escarlate, sua pele era pálida e fria ao toque, quando ele sorria sua boca exibia os dois pares de presas afiadas. A transformação já terminou, ele já não era mais humano, agora ele era uma criatura da noite.

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