1-Ódio à Primeira Vista

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Anoiteceu, e com ela o negrume noturno faz-se a única companhia da lua, não havia nuvens e nem mesmo o vento passava entre as árvores e os ervaçais, a noite prendeu o mundo em um sepulcro escuro e impenetrável.

Parado em frente ao grande castelo estava uma figura peculiar. O garoto era pálido demais, a pele e o cabelo eram tão esbranquiçados que era questionável se aquele jovem já foi tocado pela luz solar em algum momento da vida. Isso somado ao seu olhar vazio e sem vida lhe davam a aparência de um cadáver vivo.

Ângelo olha para o grande prédio principal da academia como quem encara a perdição. O castelo era enorme e bem ornamentado, havia pináculos e torres crescendo em toda sua estrutura apontando para o céu, elas eram ligadas por algumas pequenas pontes. As janelas em formato de ogivas eram estampadas com mosaicos de cores variadas. O portão duplo que dava acesso ao interior estava aberto e cheio de pessoas conversando ao redor, a maiorias estudantes.

Os sinos soavam um dobre pesado, avisando para os alunos da turma do dia ir para seus dormitórios enquanto a turma da noite deveria vestir o uniforme e ir para a comissão de boas vindas no salão principal.

—Vai ficar a eternidade toda aqui pensando?

Olhou para o lado e viu sua irmã Isabel dando uma pequena risada. Os dois usavam o uniforme da turma da noite que consistiam em um blazer preto  com detalhes vermelhos. A diferença entre elas era apenas o formato que era adaptado para o corpo masculino ou feminino. Além disso a garota usava uma saia média à altura dos joelhos e ele garoto uma longa calça escura que entrava por dentro de suas botas.

—Para a minha infelicidade, não. —Respondeu.

Vendo que seu irmão não agiria sozinho Isabel ofereceu-lhe o braço.

—Me acompanha?

—Te acompanhar? Mas...

—Sem mais nem menos Ângelo. —A garota entrelaçou seu braço com o dele. —Me acompanha?!

Ângelo suspirou, não adiantaria discutir com sua irmã.

—Claro mademoiselle, claro. —Disse insatisfeito.

Os dois passaram pelo portão, entrando na boca do castelo.

O interior era quase fantasmagórico, regado à luz de vários castiçais na paredes. Isso conferia um tom meio macabro para o colégio nos períodos noturnos, o fogo amarelado de baixa intensidade realçava os quadros e pinturas suspensos acima de si, alguns quase eram engolidos pela escuridão mais próxima do teto. Isabel era guiada por seu irmão pelo grande labirinto de corredores e portas, ela estava em seu primeiro ano na academia e seus olhos pareciam os de uma criança, encantados pelo lugar.

—Que lugar bonito, você não acha?

—Um pouco. —Respondeu sem a menor emoção.

Não tardou e os dois irmãos chegaram a um grande salão lotado de alunos, no teto uma fileira de lustres cristalizados se encarregavam da iluminação. A comissão deu início e nada de relevante foi dito pelos professores e pelo diretor além dos velhos clichês de sempre.

O único diferencial foi que desta vez o diretor mandou ficarem atentos com espiões e em qualquer atividade suspeita, a guerra com o país vizinho não havia oficialmente acabado e com a recente descoberta das terras perdidas aquela falsa paz poderia acabar a qualquer instante.

Dito isso a comissão acabou e o corpo estudantil se dirigia agora para suas respectivas salas de aula.

—Ei Ângelo, quem era aquela garota que ficou te olhando na comissão?

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