54 - Jackpot

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O sul de Risteria era uma região bem diferente da lustrosa imagem mais ao norte, os civis que vivem nesta região geralmente não gozam das mesmas regalias dos bairros mais acima. Não tem muita beleza visual por aqui, as casas eram bem mais simples e as ruas eram sujas, as grandes fábricas que um dia operaram aqui migraram de local, deixando para trás as carcaças de prédios abandonados que agora serviam como abrigo de criminosos ou para atividades clandestinas.

É em um destes prédios abandonados que costuma acontecer um evento bem comum entre os jovens da região, o jackpot.

Nada mais é do que um rodízio de lutas clandestinas entre os delinquentes, é um meio de diversão barato e nada seguro que tenta copiar os campeonatos de artes marciais que acontece nas castas mais altas da sociedade, com a diferença de que são eventos simples organizados por jovens desordeiros.

Claro que é proibido, eles quebram muitas leis nestas lutas, a começar pelo fato de que estes jovens se transformam o tempo todo durante as brigas que, vale mencionar, são bem violentas. Para completar, além da violência há também a questão das apostas.

É comum que eles apostem dinheiro durante as partidas e apostas não reguladas são proibidas, mas isso não impede o jackpot de acontecer. Se tem uma coisa que todo cidadão dos bairros do sul sabem é que as leis nada mais são do que um rabisco aleatório feito em um guardanapo sujo que, dependendo do caso, pode ser ignorado.

Não há fiscalização aqui embaixo, e mesmo se houvesse, eles não passam de um bando de jovens brincando perto dos verdadeiros problemas acontecendo na cidade.

O galpão estava bem movimentado, a maioria dos jovens se reunia ao redor da arena improvisada, torcendo para algum dos lutadores que travavam a briga. Alguns estavam mais afastados, conversando sobre alguma outra coisa perto dos maquinários abandonados.

Faz tempo que Lykania não vinha ao jackpot, desde que o colégio novo começou para ser mais exato. Antes disso ela sempre vinha, ou quando estava entediada ao ponto de precisar entrar em uma briga para sair do tédio, ou quando precisava espairecer a cabeça de vários pensamentos incômodos, hoje ela veio pela segunda opção.

Não mudou muita coisa, na verdade não mudou nada, o galpão continuava exatamente do mesmo jeito da última vez que veio. Dois garotos já estavam brigando na arena (que nada mais era do que um grande círculo desenhado à giz o chão), enquanto a plateia assistia animada o desenrolar da partida, em uma parte mais afastada ela viu quatro garotas que reconheceu de imediato, e duas delas estavam presentes no incidente da mansão.

— É impressão minha ou essa luta está chata e sem emoção?

Sem maiores cumprimentos, foi assim que Lykania anunciou sua chegada ao grupo.

— Não é só impressão, realmente está chata.

— Senta aí gata, bora falar sobre alguma coisa que preste.

Lykania se recostou à parede e juntou-se a conversa que parecia ser bem mais interessante do que a luta em si, céus, ela já viu briga de gato mais interessante do que o embate daqueles dois moleques aleatórios. Do grupo das quatro, Tamadre e Fiora eram as únicas que foram à mansão enquanto as outras duas não, é óbvio que a primeira coisa que elas fariam ao ver Lykania chegar seria enchê-la com perguntas.

Pelo menos foi o que a garota achou que fosse acontecer.

— Então gata, já faz tanto tempo que eu não te vejo e nós temos tanta coisa pra botar em dia. — A garota em questão estala os dedos, insinuando estar pronta para a briga.

As outras três a olharam estranho.

— Que foi?

Ela pareceu genuinamente não entender o motivo de suas amigas estarem a encarando deste jeito estranho, coisa que fez Lykania rir.

Creature FeatureWhere stories live. Discover now