10 - Ogro Azul

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O céu já era noturno e a rotina seguia exatamente a mesma para a maioria dos estudantes, claro que ainda havia exceções. Um garoto completamente abatido estava sentado na cama cabisbaixo em um lânguido lúgubre, o sol já havia se posto no momento em que acordou.

Duas dríades lhe contaram sobre como ele foi encontrado próximo da morte e sobre seu salvamento de último instante. Disseram também que ele teve um surto de pesadelos e precisou ser sedado por isso, talvez esse sedativo fosse o culpado pela dor de cabeça aguda que estava sentindo no momento.

Agora ele estava sozinho naquela sala, o outro aluno que estava de recuperação já havia voltado para os dormitórios e os enfermeiros da turma da noite precisaram sair por um momento.

—Ângelo?! —Isabel entrou na sala à passos apressados. —Como você está?!

—Você tá preocupada?

—Claro que eu estou preocupada, o sol estava quase nascendo quando me disseram que você estava na enfermaria, eu quase não dormi! —Exclamou.

Ângelo ainda estava um pouco atordoado depois de transitar por todas aquelas memórias horríveis, quase se esqueceu do zelo que sua irmã sempre teve por ele. Falando nisso, algo incomodava o garoto.

As enfermeiras contaram-lhe sobre o pesadelo que teve durante o dia, ele sabia que havia sonhado alguma coisa ruim já que acordou agitado e com um sentimento de medo. Sabia que havia visto mais do que apenas uma sequência de memórias ruins, porém fracassou em recordar o que havia sonhado além disso.

—O que aconteceu? —Perguntou Isabel.

—Como assim?

—O que aconteceu pra você quase desse jeito? Disseram que seu corpo não havia sangue e nem ferimentos, apenas que duas garotas te encontraram em uma casa na floresta. O que aconteceu?

—Ah... O motivo...

O garoto foi pego de surpresa, não poderia dizer que estava usando uma droga desconhecida comprada de um vendedor também desconhecido apenas porque acreditou na ladainha que este contou.

—Eu não sei, apenas me senti mal e a vertigem me derrubou antes que eu notasse, não sei o que aconteceu comigo.

Isabel o fitou de uma maneira penetrante e sem piscar, como se fosse capaz de ver que ele estava omitindo alguma coisa. Tal olhar o estava deixando nervoso.

—Mas eu já me sinto melhor. —Respondeu antes que a garota insistisse no assunto, seus dedos coçavam nervosamente a parte de trás de sua cabeça. —As dríades cuidaram bem de mim, elas disseram que não precisava ir para aula hoje e que eu deveria descansar o resto da noite.

—Você não está bem.

—O quê? Mas é claro que eu estou, já disse que as dríades...

—Isso não foi uma pergunta. —Isabel cortou-lhe sua fala, seu olhar permanecia afiado e penetrante, aquilo não foi uma pergunta e sim uma afirmação. —Você não está bem.

O garoto parou de falar, seu olhar se tornou caído e vazio, não era fácil mentir naquele estado e por mais que tentasse seu corpo demonstrava uma emoção contrária ao que suas palavras diziam.

—E quando é que eu estive bem? —De cabeça baixa, aquela pergunta não era feita para sua irmã, mas para ele próprio. —Meus amigos de infância não estão mais aqui, nossos pais não olham para mim, você é a única pessoa que eu ainda tenho.

Houve um pequeno silêncio como se um grande vão os separasse do mundo lá fora, apenas os dois naquela sala fúnebre banhada em um fraco luar azul. Isabel sentou-se ao lado dele na cama, encarando Phobos pela gigantesca janela na parede oposta.

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