60 - O Senhor dos Pesadelos

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Esse capítulo vai ser meio intenso.

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Nadesha não sabia dizer por quanto tempo ficou parada olhando a construção que outrora foi um grande colégio, o lugar onde ela havia estudado e também onde conheceu Velkan. Mas agora era apenas um retrato decadente e sombrio, arruinado pelos flagelos impiedosos dos vários anos em que foi abandonado. Não se ouviam mais as vozes de vários jovens sadios se movendo lá dentro, não havia mais nada de sadio naquele prédio.

O grande pátio que cercava o edifício estava tão vazio que nem mesmo os insetos mais insignificantes rastejavam por lá, talvez por medo do prédio principal. O umbral opressivo acomodado em cada janela parecia observar de volta as duas figuras em pé frente a cerca do pátio, Nadesha e um outro garoto que devia ter a idade de seus filhos.

Velkan já era para estar aqui, ele ficou de ter uma conversa com mais uma amiga que também estava lá quando o incidente aconteceu, independente se esta amiga aceitasse vir ou não, Velkan ainda deveria estar aqui.

— Você vem sempre aqui? — Questionou o garoto, curioso com sua presença.

— Não, mas sempre que eu passo por perto eu me sinto obrigada a olhar esse lugar, as memórias me chamam.

— Memórias?

Nadesha quis evitar falar sobre isso com o garoto, tentou desconversar.

— E o que você está fazendo aqui jovem?

— Teste de coragem. — Ele responde. — Meus amigos perderam uma aposta e agora eles vão ter que ir na sala do diabo e acender uma vela na janela, eu tô aqui pra rir da cara de assustado deles.

Nadesha dá um pequeno riso, parece que o famigerado teste de coragem é uma tradição atemporal entre os jovens, seu próprio filho foi parar na casa de Erich por causa dessa besteira (embora tenha certeza de que ele mentiu). Agora como adulta isso tudo parece besteira, mas lembra que costumava achar essas besteiras bem divertidas quando tinha a idade de seus filhos.

"Céus, acho que eu me tornei uma daquelas adultas chatas que vivem ditando regras".

— Você sabe o que aconteceu aqui? A lenda da sala do diabo? — Ele pergunta com um sorriso maroto, imaginando que ela não sabia de nada e queria assustá-la com a história.

Mas ela sabia da história, sabia muito bem.

— Não sei, poderia me contar?

O garoto sorriu ainda mais depois disso e começou a contar a história.

— Dizem que quando esse colégio aqui funcionava ele era um antro de delinquentes, o tipo de lugar barra pesada que parece uma prisão e não uma escola. Contam por aí que o motivo da escola ter fechado não foi por causa da violência, foi por causa de um incidente naquela sala lá. — E apontou.

"Acertou, foi realmente naquela sala".

— Contam que era uma sala vazia que nunca foi usada, nem mesmo os professores entravam lá, no entanto, sempre que alguém passava neste local onde nós estamos agora e olhasse para aquela janela era possível ver um garoto olhando de volta. Ele sempre estaria lá depois da meia-noite, observando a gente como uma estátua.

Nadesha sentiu um calafrio ao olhar para lá, aquela memória ainda bem viva em sua mente, parece até que foi ontem que...

— Todo mundo começou a ficar curioso e os estudantes decidiram investigar quem era o tal garoto, então eles entraram na sala proibida para ver, foi aí que os gritos começaram. O colégio inteiro que estava cheio de um bando de criminosos mirins se esvaziou de um instante ao outro, todos assustados, chorando em choque. Eles disseram que o garoto que aparecia naquela janela era o próprio diabo e quando a porta foi aberta ela escapou.

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