56 - Eu Não Quero Ir Para O Inferno

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O turno da noite já haviam começado a algumas horas, o professor ministrava a terceira aula da noite e a maioria dos alunos não aguentava mais prestar atenção naquele monte de cálculos que mais pareciam uma língua perdida do que uma aula de matemática.

— E calculando a raiz quadrada da variância você chega ao desvio padrão, estão entendendo?

Ninguém respondeu então ele apenas supôs que poderia continuar com a aula, mas antes que o fizesse sua atenção foi tomada pelo ranger da porta, parece que alguém chegou bem atrasado.

— Desculpe o atraso, eu estava... Rezando.

O estudante atrasado se desculpou por chegar perto do fim da aula, em outras ocasiões o professor não teria aceitado as desculpas, mas este estudante tinha bons motivos para se atrasar. Quer dizer, ele passou duas semanas se recuperando das injúrias causadas pelos sequestradores.

— Certo Ângelo, vá para o seu lugar.

O garoto acatou a ordem e caminhou até as bancadas, e mesmo não querendo ele se tornou o alvo prioritário dos olhares e o assunto principal de todas as conversas. Em partes isso se devia ao quão chata estava a aula e qualquer outro assunto parecia ser mais interessante no momento, mas principalmente porque, além de ter voltado após duas semanas sumido, Ângelo estava diferente.

Não em aparência, nisso ele continuava igual, ele só estava diferente em... Todo o resto. Era complicado dizer tudo o que mudou, só sabiam que algo estava bem diferente do Ângelo que veio nas semanas anteriores, mas era perceptível que ele não mais se sentia intimidado pelas línguas e olhares venenosos dos colegas.

Ele apenas ignora os comentários desnecessários de Felícia e o olhar curioso de Isaac e Strix, tomando seu lugar na bancada ao lado de Dominik.

— Senti sua falta mein freund. É a primeira coisa que ela fala.

Strix não parou de encarar o garoto desde que ele chegou, ainda como quando o viu passar no corredor três noites atrás, ela sentia algo errado em Ângelo. Ela tinha certeza que não era apenas sua impressão graças a alguns pequenos detalhes.

Desde a forma de andar e até sua postura estava diferente, não parecia mais alguém frágil que anda de cabeça baixa por ter medo de encarar os outros. Mas também não parecia ter se tornado alguém confiante, seu olhar que antes era melancólico agora era apenas um vazio profundo, como se as emoções não estivessem mais lá.

— Parece que ele está andando com gente perigosa. — Observou Isaac, arrancando-a de suas reflexões.

— O que quer dizer?

— Primeiro ele começa a sair com aquela delinquente do conselho estudantil, agora ele está conversando com aquele outro monstro em forma de garota.

— Dominik? O que tem ela?

Isaac riu achando que era uma piada, mas logo percebeu que a ignorância de Strix era genuína.

— Sério? O colégio todo já sabe que ela é um monstro, o bullying de Antônio e Felícia são só uma brincadeira leve perto do que Dominik faz quando não vai com a cara de alguém.

Strix não queria acreditar no que seu ex amigo disse, ela havia conhecido Dominik perto do início das aulas quando a novata precisava de ajuda para se inscrever nas aulas de artes marciais. Apesar de ter sido um momento breve entre as duas Dominik não pareceu ser uma vaca odiosa como Felícia.

O problema é que as aparências enganam e Strix sabe muito bem disso.

— Se ela é do tipo de gente igual Felícia então o que ela quer com Ângelo.

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