8 - Não Tema o Ceifador

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O pincel escorregava na superfície do quadro branco, deixando para trás um filete de tinta roxa que se unia permanentemente à paisagem do desenho. Ângelo ilustrava o quadro sem muita emoção, queria estar bem longe do castelo, mas uma hora ou outra ele teria que reservar um tempo para alguma atividade complementar. Resolveu começar por artes, se ganhasse pontos o suficiente então não precisaria fazer aquele trabalho de música no final do mês.

—Aquele não é o irmão dos Rankers 3 e 5?

—Acho que o nome dele é Ângelo, ele é o filho do meio da família ducal.

Ângelo conseguia notar que ele era assunto da conversa de um grupo de garotas sentado atrás dele, essas garotas estúpidas deviam aprender a falar mais baixo antes de fofocar sobre alguém que está bem na frente delas.

—Por que ele não tá conselho também?

—Você não ouviu? Ele é só um sangue fraco, é como chamam quando alguém nasce sem poderes.

—Dizem que os sangue fraco foram pessoas ruins em vidas anteriores e terem nascido assim é uma punição divina por seus crimes.

—Então ele é amaldiçoado? Medonho!

Esse é um dos momentos em que Ângelo apenas gostaria de ter o poder de amaldiçoar as pessoas só para calar a boca delas, estava cansado de ter que ouvir essa baboseira de Karma. Por causa desses boatos até mesmo outros classe delta evitavam chegar perto dele por causa da tal maldição que supostamente era obrigado a carregar.

Quando seu quadro finalmente ficou pronto ele entregou à professora antes de sair da sala, aliviado por finalmente poder sair. Enfiou a mão no bolso de sua calça e sacou um pequeno relógio, era quatro horas da madrugada, ainda tinha tempo sobrando para ir ao refúgio antes que o raiar do sol o obrigasse a ir para o dormitório. Provavelmente ele continuaria a ler seu livro comprado no final de semana.

Enquanto caminhava pelos corredores escuros ele acabou de frente com uma das pessoas que mais detestava em todo o mundo, o seu irmão mais velho.

Wagner e Ângelo trocaram olhares por um breve momento, e então o garoto de cabelos brancos voltou a caminhar como se tivesse passando por um estranho qualquer. Não queria conversa alguma com aquele cara.

—Você não cansa de agir como um cão de rua? —Wagner perguntou, sua voz era calma e serena. —Se arrastando por aí com esse olhar de alguém digno de pena, não te culpo por se detestar, mas não acha que deve pelo menos dar algum respeito à imagem dos Vukodlak?

—Deixe-me ver se eu entendi, você está insatisfeito com por que não estou morrendo de alegrias? Se quer me deixar feliz então pode começar ficando bem longe de mim. —Impôs Ângelo enquanto voltava a caminhar.

—Não vai precisar se preocupar com isso, falta apenas um ano para minha formatura e também para o meu casamento, depois disso você só vai ter que me ver de vez em quando. Ou dependendo do que nossos pais decidirem, nunca mais verá esse Vukodlak que tanto detesta.

—O que quer dizer?

—O sustentáculo da nossa família é o meio militar e isso exige força e astúcia, duas coisas que carecem em você. Sabendo disso nossos pais planejaram seu casamento com a filha do marquês, que agora também não vai mais acontecer graças a essa sua má condição de sangue fraco, então qual utilidade você ainda teria para nossa família depois de tudo isso?

Após Wagner instigar a mente de Ângelo então a resposta chocante o acertou em cheio como um raio acertando uma árvore, milhões de formigas invisíveis rastejavam sobre sua pele que começou a suar frio de nervosismo.

Creature FeatureWhere stories live. Discover now