𝐏𝐫𝐨́𝐥𝐨𝐠𝐨 - 𝑼𝒎 𝒐𝒍𝒉𝒂𝒓 𝒏𝒐 𝒑𝒂𝒔𝒔𝒂𝒅𝒐.

312 49 35
                                    

    Já repararam que a mentira geralmente é bonita? Toda vez que me contavam a história dos nossos ancestrais, sempre imaginava Sâmia caída sobre o tapete requintado, com uma bala no ombro esquerdo, sangrando bastante, enquanto o seu marido estava morto sobre a poça do próprio sangue, graças a uma faca que Samir, o fiel guarda-costas dela, enfiou nele para defendê-la. Bonito, não acha?
   Toda vez que eu que vinha à Mansão Masdar visitar o meu avô, me encantava com a bandeira da nossa família no mastro, bem no alto da residência, com as cores vermelho sangue e areia, unidas por uma linha torta, lembrando uma rachadura, sob a silhueta de um cavalo com o número 3 na sela, rodeado pelas palavras Lealdade, Verdade e Bondade: tudo aquilo que sempre me inspirou.
  Também perdia um certo tempo admirando a fotografia sobre a porta principal, tirada em janeiro de 1958, quando se casaram. Samir, em pé, olhando fixo para frente com seus lindos  olhos claros, a postura ereta e a roupa impecável, com os braços ao redor de Sâmia, usando um vestido da moda e um colar extravagante, em modelo egípcio, com 163 pequenos diamantes que pareciam estrelas. Não sorriam, mas dava para ver que estavam alegres, satisfeitos por finalmente estarem juntos. A outra foto registrava um beijo na praia em algum lugar no exterior, mostrando o quão grande era o fogo que queimava neles.
  Nossa genética é fortíssima. Poderíamos nos casar com quem quer que fosse, que sempre teríamos o marcador genético dos Hasan — os eternos olhos verdes com o contorno dourado da íris. Dentre todos os membros, sou a que mais se parece com os dois. Observei bem o olhar penetrante dele e a expressão misteriosa dela, segurando firme nas mãos um do outro. O que será que escondiam?
  Encarei uma das fotografias na parede, aonde Sâmia usava um colar delicado e muito simples, com um pingente em forma de cavalo com o número 3 gravado na parte de trás, o mesmo que foi passado de geração em geração, de filha mais velha para filha mais velha, até chegar em mim, mais de um século depois. Cada um dos 6 filhos que eles tiveram receberam uma jóia diferente, que eles próprios se encarregaram de passar para seus descendentes.
  Minha família guardava cada lembrança do amor deles, incluindo os diários detalhados. Qualquer membro tinha acesso às cópias, mas na verdade ninguém as liam; preferiam ouvir dos parentes mais velhos as histórias, sempre belamente contadas, onde Samir, um bom homem, era um herói, que salvou Sâmia, uma mulher doce, das mãos de um marido violento.
Eu resolvi entrar na biblioteca, na última visita, e peguei uma das cópias dos diários deles que encontrei perdida entre outros livros, ficando perplexa com o que li. Você nasceu parecida com eles, tem sorte, Jordana, meu pai sempre falava. A verdade é que eu passei a temer as verdades naquelas páginas esquecidas pelo tempo e finalmente entendi o que significava ter um amor profundo alicerçado em sangue.

Hasan    Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin