𝟓𝟖. 𝑨 𝒉𝒐́𝒔𝒑𝒆𝒅𝒆.

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                                Layla

Sábado, 25 de maio de 1957.

  Fechei os olhos, ao som do farfalhar das árvores próximas, sentada sobre o lençol que estendemos sobre o gramado perfeitamente aparado do jardim dos fundos, enquanto acariciava o cabelo negro de Samir, deitado com a cabeça na minha perna. Sorri com aquele momento tão tranquilo, e ele fechou os olhos por alguns segundos.
   Nem podia acreditar que estávamos juntos! Sou imensamente grata à dona Jamile, por me trazer ao Rio! Pensei nela, algumas semanas atrás, conversando como meus pais, na nossa casa, em Belo Horizonte. Estava empolgada com o casamento de uma sobrinha chamada Zaina e não parava de falar no sobrinho solteiro, o irmão da noiva, chamado Samir.

— Minha irmã, Soraya, me mandou uma carta, dizendo que ele estava solteiro fazia um tempo. — contou, ao pegar uma tâmara na bandeja na mesinha de centro — Namorou uma brasileira qualquer e obviamente não deu certo. Nunca fui a favor de misturar culturas. Ele é muito trabalhador e um jovem de personalidade. A família dele é apegada às tradições e pode pagar um bom dote.
— Isso é maravilhoso! — minha mãe se manifestou, ao tomar uma xícara de cha de eucalipto  — A nossa Layla passou por uma decepção amorosa, faz uns meses, e seria ótimo conhecer um bom rapaz.
— Vou em alguns dias para o Rio de Janeiro, para o casamento dela.
— Nós vamos nos mudar para lá também, numa região chamada Niterói. Recebi uma boa proposta de trabalho por lá e vamos viajar daqui algumas semanas. Fui na frente, faz uns dias, para verificar a casa, na região da Serra Grande, e o bairro é bem agradável. — meu pai disse.
— Mas a minha irmã mora justamente lá! É próximo à praia de Itacoatiara. É um bairro muito bonito. Porque não me deixa levar a Layla no casamento da minha sobrinha? — pediu, e senti o interior se encher de alegria — Mandei uma carta dizendo que traria uma amiga e ela já respondeu, dizendo que não se opunha!
— Com certeza, deixamos! — meu pai afirmou — Vai ser bom a nossa filha se ambientar. Bom que conhecerá tudo antes de nós. Fora que esse rapaz pode se encantar com a nossa princesa.
— Ah, papai, mamãe, muito obrigado! — agradeci, ao correr para abraçá-los — Dona Jamile, eu nem sei o que dizer! — falei, ao abraçá-la também.
— Não me agradeça, querida! Só espere alguns dias. Chegaremos uma semana antes. — falou, segurando nas minhas mãos — Meu sobrinho irá te amar. Ninguém resistiria a esses olhos negros. — ressaltou, acariciando o meu rosto, e fiquei contente por ter passado o kajal com perfeição ao redor dos olhos.

  Os dias voaram, e logo estávamos no ônibus, a caminho do tão sonhado destino. Comprei um monte de roupas novas, que fiz questão de levar na bagagem, junto com as minhas melhores jóias. Dona Jamile me contou, no trajeto, um pouco mais sobre a família da irmã, e é claro, sobre o Samir, dizendo o quanto era tranquilo e simpático.
   Me mostrou uma foto dele, em preto e branco, de anos antes. Disse que a mãe dele esqueceu de enviar uma foto recente, e que agora ele tinha 29. Mesmo antiga, dava para ver que era muito bonito, com lindos olhos claros, posando ao lado da irmã gêmea, com a beca da formatura, na faculdade. O sorriso era lindo demais! Ele é muito divertido, ela falou, me despertando dos meus pensamentos.

— Ele nunca chegou a ficar noivo? Já tem quase 30 anos. — observei, assim que chegamos a Niterói, por volta das 7 horas da manhã, cansadas da viagem, e ela discava o número da irmã, no telefone público, na estação das barcas.
— Não, não chegou. Mas acho que é por que a ex namorada não era da cultura. 6 meses juntos e não deu em nada! A Zaina que fez bem! Conheceu o Amin, que é do Marrocos, assim como você, e os dois vão se casar. Mas isso... Oi, Soraya! — falou, ao telefone — Desculpe por acordar vocês! Eu sei, o ônibus chegou muito cedo aqui. Sim, estamos no lugar que pediu. Tudo bem, vamos aguardar. Tchau. Ela já está a caminho, querida. — avisou, ao colocar o telefone no gancho.

Hasan    Where stories live. Discover now